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Conheça a Unidade 8200, grupo que teria explodido pagers e walkie-talkies

Muitos ex-membros da unidade têm se destacado no setor privado, fundando startups no setor de tecnologia e cibersegurança

Homem segura walkie-talkie com a bateria removida durante o funeral de pessoas mortas na explosão de pagers, na terça-feira, no Líbano - Anwar Amro/AFP

O ataque em massa aos pagers no Líbano, que levou a explosões em dispositivos portáteis e matou dezenas de pessoas, colocou os holofotes sobre a Unidade 8200 de Israel, que supostamente está envolvida no planejamento e execução do ousado ataque cibernético contra o Hezbollah. O grupo é uma divisão de elite da inteligência militar de Israel, focada principalmente em guerra cibernética, coleta de inteligência eletrônica e vigilância.

A Unidade 8200 é altamente influente no setor tecnológico de Israel. Em comparação ao Mossad, a unidade é mais tecnológica e militar, enquanto o outro foca em espionagem humana e operações secretas no exterior. A unidade secreta é equivalente à Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês).

 

A divisão militar surgiu no início da década de 1950, pouco depois da criação do Estado de Israel. À época, ela era responsável por decifrar códigos de inteligência vindos de qualquer grupo que ameaçasse a segurança do país. Pessoas que trabalharam na unidade disseram que a cultura da divisão lembra uma startup. A 8200 conta com pequenas equipes, formadas por jovens com cerca de 20 anos.

Muitos ex-membros da unidade têm se destacado no setor privado, fundando startups no setor de tecnologia e cibersegurança. Esse fenômeno ajudou a transformar Israel em um dos principais centros globais de inovação tecnológica, especialmente no que diz respeito à segurança digital. A unidade é, portanto, não apenas uma força militar, mas também uma incubadora de talentos tecnológicos que têm impacto significativo na economia israelense e mundial.

Ao longo dos anos, ela foi creditada com várias operações de grande impacto, incluindo ataques cibernéticos que prejudicaram os avanços nucleares de adversários regionais, como o Irã. O sigilo que envolve suas operações faz com que muitos detalhes sobre sua atuação sejam desconhecidos, mas ela é amplamente reconhecida por sua eficiência em proteger a segurança nacional israelense.

Ataque coordenado
O número de mortos pelos dois dias consecutivos de explosões de aparelhos de comunicação de membros do grupo xiita libanês Hezbollah subiu para 37, informou nesta quinta-feira o ministro da Saúde do Líbano, Firass Abiad, que também afirmou que há 3.539 feridos. Dos mortos, 12 foram nas detonações de pagers na terça-feira e os outros 25 na explosão de walkie-talkies na quarta.

A organização político-militar, assim como autoridades dos EUA e de outros países, apontaram Israel como responsável pelas ações, as mais recentes em uma série de troca de hostilidades entre os dois lados desde 8 de outubro, um dia após os ataques do grupo terrorista Hamas no sul israelense que desencadearam a guerra em Gaza.

Os feridos foram levados para hospitais, que ficaram sobrecarregados. Em um centro de saúde em Beirute, um médico descreveu os ferimentos como “nunca vistos antes”, e a médica Joelle Khadra relatou que os ferimentos eram principalmente nos olhos e nas mãos.

À agência Reuters, uma fonte do Hezbollah afirmou que os walkie-talkies do grupo eram o alvo, relatando que os equipamentos portáteis foram comprados há cerca de cinco meses, na mesma época da aquisição dos pagers.

Na primeira onda de ataques, na terça-feira, parecia que pequenas quantidades de explosivos haviam sido escondidas nos milhares de pagers entregues ao Hezbollah e detonadas remotamente. Agora, os relatos de mais dispositivos afetados sugerem uma infiltração ainda maior de armadilhas na cadeia de suprimentos do Líbano, segundo a Associated Press.