opinião

DNA do Homo sapiens tem um parafuso frouxo

MONTANHAS DA JAQUEIRA – “O Planalto em chamas” é título de uma coletânea de contos do escritor mexicano Juan Rulfo em torno da opressão contra as populações miseráveis do seu País, a corrupção, as disputas de poder politico, o charlatanismo religioso, as chamas da crueldade humana numa sociedade dominada por tiranos e exploradores da pobreza. O México é aqui, ali, acolá.

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Os planaltos e as planícies no BR estão em chamas. As florestas, as árvores, os rios e oceanos são os corações, os pulmões e a alma da natureza. As árvores têm alma e coração.
O poeta Augusto dos Anjos provou com todas as letras, de alfa a beta e ômega, que as árvores possuem alma e são amadas. Assim falou numa declaração de amor à “Árvore da Serra”: “(….) Meu pai, por que sua ira não se acalma?! Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?! Deus pôs alma nos cedros, no junquilho./ Esta árvore, meu pai, possui minh’alma!”

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Neste microscópico vale de lágrimas, de sonhos e de pecados no espaço sideral, habitam mais de 8 bilhões de Homo Sapiens, não tão sábios. A espécie Sapiens apresenta um parafuso frouxo no DNA de fabricação.  Vem desde os tempos primevos quando Adão e Eva foram bloqueados no Paraíso e Caim matou Abel com um tiro no coração. Oito bilhões de parafusos frouxos produzem os pecados da humanidade. Os Sapiens se tornaram predadores da natureza-mãe. 

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Se fosse no Governo passado, as labaredas e o calorão seriam politizados. Diriam que Bolsonaro era culpado por todos os pecados, deveria ser cassado e castrado, sem anestesia. O principal partido governista, a rede Globo, estaria fazendo campanha para lançar o pobrezinho no quinto dos infernos, por ser o novo Nero incendiário. 
Hoje o guru vermelho e a ministra morena Marina são inoxidáveis, estão blindados, botam a culpa nos céus e nas subversões da natureza. 

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O Nordeste brasileiro vem de secas seculares e seu rastro de tragédias. A grande seca de 1877-1879, no Império, deixou um cemitério de 400 mil mortos, por fome, inanição e doenças. Os rebanhos foram dizimados. Os mortos eram carregados em sacos para serem sepultados em cova rasa. Aconteceu a grande diáspora em direção às regiões Norte, Sul e Sudeste. Mudou a história do Brazil.

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Impactado com a hecatombe humanitária, o Imperador Dom Pedro II afirmou num rompante que, se necessário, venderia a última joia da Coroa para que nenhum nordestino morresse de fome e sede. Dom Pedro era um homem de bom coração, vítima do golpe da República.  

Hoje circula a informação equivocada de que a Nação vive a maior seca da história, além das queimadas e enchentes nas regiões Norte e Centro-Oeste. A tecnologia e a mobilização social permitem ao menos mitigar esses flagelos.

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Estudos atuais revelam que ao longo do tempo a grande seca de 1877 reverberou na formação do fenômeno El Niño, de elevação da temperatura no oceano não-Pacífico abaixo da Linha do Equador.


* Periodista, escritor e quase poeta.

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