Por que mais europeus estão vindo jogar no Brasil?
Aumento da presença de jogadores da Europa no País contribui para internacionalizar Brasileirão, que vivencia transformação. Entenda fatores que envolvem importação de talentos
O Brasileirão está cada vez mais europeu. Um movimento que começou com a chegada de técnicos portugueses, mas que agora se estende também aos atletas. Em 2024, são nove jogadores oriundos do Velho Continente. Quase o dobro em relação ao ano passado, que teve cinco. Uma fase de importação de talentos que sinaliza novos tempos no Brasil.
“O principal fator para esse crescimento é o aumento do número de estrangeiros permitidos na competição em 2024 (subiu de sete para nove). Isso amplia as possibilidades de usar o mercado europeu também, que começou com a vinda dos treinadores. O futebol brasileiro passa por transformações e essa é uma delas”, apontou o jornalista Paulo Calçade, dos canais Disney/ESPN.
A lista
Os europeus na Série A são os franceses Bolasie (naturalizado congolês, que joga no Criciúma), El Arouch (Botafogo) e Payet (Vasco); o dinamarquês Braithwaite (Grêmio); o espanhol Héctor Hernández (Corinthians); o holandês Memphis Depay (Corinthians); o português Tobias Figueiredo (Criciúma), o suíço Maxime Dominguez (Vasco) e o norte-irlandês Jamal Lewis (São Paulo).
“É difícil dizer quem vai se dar bem ou mal porque uma mudança de país pode ser radical. Além disso, é outro continente, uma adaptação diferente de quem só transitava na Europa. Muda cultura, clima, comida. Vem sozinho ou com a família? Vem por um breve período ou para se entregar a uma aventura? Depende de como o atleta vai reagir”, observou o jornalista.
Além desses, o País teve outros 15 atletas nascidos na Europa que jogaram no Brasileirão nos últimos 20 anos. Em 2004, o Vasco teve o goleiro Tadic, de Sérvia e Montenegro. Também da antiga Iugoslávia, veio o meia Petkovic, com passagens por Vasco, Flamengo, Fluminense, Goiás, Santos e Atlético-MG. Um dos estrangeiros com maior destaque no Brasil.
O Vasco também contratou em 2005 o português José Dominguez. No ano seguinte, o Fluminense fechou com o sérvio Vladimir Djordevic. Em 2012, o Brasileirão teve o português Fábio Braga, que passou também pelo tricolor carioca, além de Coritiba e Ponte Preta. Nessa época, porém, o nome mais badalado foi o do holandês Seedorf. Em 2013, o espanhol Fran Mérida atuou pelo Athletico.
O português Bruno Pereirinha jogou pelo Athletico entre 2015 e 2016. O inglês naturalizado turco, Kazim-Richards, vestiu as camisas de Coritiba e Corinthians, entre 2016-2018. Também no Coxa e no Vitória passou o alemão Baumjohann (2017-2018). Os espanhois Juanfran (São Paulo) e Pablo Mari (Flamengo) jogaram no futebol brasileiro em 2019 - o primeiro ainda ficou até 2021 -, enquanto o segundo saiu no ano seguinte para o Arsenal.
Nos últimos dois anos, passaram pelo Brasil o português Rafael Ramos (Corinthians), o grego Samaris (Coritiba) e os espanhóis Jesé Rodríguez e Hugo Mallo, de Coritiba e Internacional, respectivamente.
“O Brasil poderia ser uma das maiores ligas do planeta com um pouco mais de organização, tratando de interesses comuns dos clubes. Uma evolução nesse sentido do futebol brasileiro, com ajustes no calendário, por exemplo, poderia atrair ainda mais jogadores no futuro”, reforçou Calçade.
Mídias
Além do impacto técnico, há também o ganho midiático. A vinda de Depay, por exemplo, gerou um aumento de 915% no engajamento da conta oficial do Corinthians no Instagram. As buscas pelo nome do clube paulista cresceram 400% na Holanda e o nome do atleta foi o segundo termo mais buscado no Brasil no período da contratação, com mais de 1 milhão de acessos.
"A presença desses atletas gera grande engajamento nas redes sociais, com os torcedores interagindo mais com o conteúdo do clube e criando uma presença digital mais forte. Esse tipo de movimentação pode resultar em mais patrocínios e novas oportunidades comerciais, além de contribuir para o crescimento das receitas de bilheteiras e das vendas de produtos”, aponta Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo.
Marcelo Paganini Toledo, professor de administração da ESPM e especialista em planejamento de marketing esportivo, destacou a mudança no modelo de gestão de alguns clubes no Brasil, que deixaram de ser uma associação sem fins lucrativos para se tornar uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF), com um dos diferenciais para atrair mais europeus.
“Você teve a chegada das SAFs, aumento de receita, mais torcida nos estádios e cotas de patrocínio. A capacidade de pagamento de salários e prêmios ficou maior, atraindo os atletas europeus. Eles percebem que o Brasil, que já é reconhecido mundialmente pelo futebol, dará uma condição boa de jogar na liga”, frisou.
Com a chegada dos europeus, somados aos sul-americanos e atletas de outros continentes, o Campeonato Brasileiro chegou a 136 estrangeiros. Para Thiago Freitas, COO da ROC Nation Sports Brazil, empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo rapper Jay-Z, esses dados mostram a internacionalização das competições nacionais.
"Depay, que participou de duas Copas do Mundo e duas Eurocopas, além de ter atuado nas quatro principais ligas europeias e em dois dos maiores clubes do mundo, chega ao Brasil aos 30 anos vindo de um time (Atlético de Madrid) relevante na Champions League. Sua chegada é uma das mais significativas do mercado brasileiro recente. Embora individualmente não atraia um novo público estrangeiro, ela se soma a outras contratações que estão ajudando a internacionalizar o campeonato, atraindo a atenção da imprensa e dos torcedores internacionais, aumentando a visibilidade dos clubes brasileiros na Europa."
Lista de europeus que jogaram na Série A desde 2003
Tadic (Montenegro) - 2004
Petkovic (Antiga Iugoslávia) - 2004 a 2011
Dominguez (Portugal) - 2005
Vladimir Djordevic (Sérvia) - 2006
Fábio Braga (Portugal) - 2012 a 2013 e 2016 a 2017
Seedorf (Holanda) - 2012 a 2013
Fran Mérida (Espanha) - 2013
Bruno Pereirinha (Portugal) - 2015
Kazim-Richards (Turquia) - 2016 a 2018
Baumjohann (Alemanha) - 2017 a 2018
Juanfran (Espanha) - 2019 a 2020
Pablo Marí (Espanha) - 2019
Rafael Ramos (Portugal) - 2022
Dimitri Payet (França) - 2023 a 2024
Jesé Rodríguez (Espanha) - 2023
Samaris (Grécia) - 2023
Hugo Mallo (Espanha) - 2023 a 2024
Tobias Figueiredo (Portugal) - 2023 a 2024
El Arouch (França) - 2024
Héctor Hernández (Espanha) - 2024
Bolasie (França) - 2024
Braithwaite (Dinamarca) - 2024
Jamal Lewis (Irlanda do Norte) - 2024
Maxime Dominguez (Suíça) - 2024
*Fonte: Espião Estatístico