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Ana Castela, Chitãozinho & Xororó, Alcione: saiba quem vai cantar no Dia Brasil do Rock in Rio

Zé Ricardo, vice-presidente artístico do festival e responsável por montar as apresentações do dia dedicado aos músicos nacionais, explica como serão os encontros entre artistas

A partir do alto em sentido horário: Alcione, Filipe Ret, Carlinhos Brown, Ana Castela e Chitãozinho e Xororó - Divulgação

Vice-presidente artístico do Rock in Rio, Zé Ricardo é aquele a quem o criador do festival, Roberto Medina, confiou a missão mais grandiosa da edição de 2024: a de montar os shows do Dia Brasil, neste sábado (21).

Mas como atrair o público sedento por shows de astros internacionais, com uma programação só com espetáculos de atrações brasileiras, agrupadas por estilos, sem headliners?

Nessa hora, veio na mente o adolescente Zé, office boy do Banco do Brasil, que juntou quatro meses de salário e pediu folga só para poder ver o show do Queen no primeiro Rock in Rio, em janeiro de 1985.

Esse foi quem disse ao Zé adulto: o Dia Brasil será aquele em que o público mais vai ouvir hits em toda a história do festival. Basicamente, “uma catarse para todo mundo”.

 

— Sabe aquela hora que você está assistindo o show do Queen e ele toca “Love of my life”? Vai ser um dia todo assim — promete o executivo. — Eu estou montando o repertório e escolhendo os feats. Aí eu chego para o produtor e digo: “Preciso que as músicas tenham uma conexão de uma para outra, para que pareça um show de um artista só.” Não é jam session, é um show pensado, ensaiado, com roteiro, com começo meio e fim. Decidimos quem canta com quem, e por quê. O Dia Brasil se conecta com a história do festival porque é aquele momento em que a pessoa espera o hit.

Zé Ricardo garante que não será um festival de feats: quem é fã dos artistas escalados não vai deixar de ver os shows dos seus ídolos.

— E estou buscando músicas para que todos os artistas façam uma música juntos no final, uma música que faça sentido para todos — conta ele, que, no entanto, passou para uma série de produtores estrelados a tarefa de ajudá-lo a organizar os shows principais.

Trap
Um deles é o “Pra sempre trap”, atração do Palco Mundo, com os MCs Cabelinho, Filipe Ret, Kayblack, Matuê, Orochi, Ryan SP e Veigh. É como Zé diz, sem nenhum exagero, “a maior reunião de tops do trap brasileiro da história, os maiores vendedores de ingressos, que nunca estiveram todos juntos no mesmo palco”. E para cuidar desse show só com estrelas que frequentam o Top 50 do streaming nacional (disputando com o anteriormente hegemônico sertanejo), ele escalou Duani.

Músico do subúrbio carioca, ex-aluno da Mangueira do Amanhã, integrante do Forróçacana que já trabalhou com Seu Jorge e Marcelo D2, Duani foi produtor das primeiras músicas de Filipe Ret, lá se vão quase duas décadas, e se estabeleceu no trap, assinando faixas de estrelas como Orochi e Xamã. Ele se propõe a fazer, no palco, a ponte instrumental entre os MCs – seja atuando como DJ ou como instrumentista.

— Eu estou pegando as músicas dos MCs e encontrando o ponto de intersecção entre uma e outra. Ou então procurando as transições que possam quebrar o tom — revela. — Estou tentando fazer essa dança com o arranjo pra ficar uma coisa bem fluida que, ao mesmo tempo, traga novidades do começo até o final. E tenho a missão de criar uma música nova unindo versus de músicas cada um deles, para encerrar o espetáculo.

Duani celebra o fato de que, quando surgiu nos Estados Unidos, o trap era de um jeito, e quando chegou aqui, acabou mudando bastante:

— Ele começou a ganhar outras cores, a falar de outras realidades, de pessoas que são do Nordeste, da favela, da elite... pessoas de vários cantos. Ele sofreu influência do chorinho, do reggae, do forró, do piseiro e do axé. Nasceu então um novo trap, e hoje o que o público brasileiro quer ouvir é o trap nacional.

MPB
Também no palco Mundo, o show “Pra sempre MPB” ficou a cargo de Pupillo, ex-baterista da Nação Zumbi e produtor de renome, de discos de Gal Costa e Erasmo Carlos. Agora, ele tem em mãos a tarefa de transformar Ney Matogrosso “no grande baluarte que vai receber e ser reverenciado por essa turma representando a MPB”, formada por Daniela Mercury, Carlinhos Brown, BaianaSystem, Majur, Gaby Amarantos e Zeca Baleiro (no lugar da inicialmente escalada Margareth Menezes, ministra da Cultura, que de última hora, não pôde participar).

— O grande desafio para mim vai ser transformar esse repertório de cada um desses artistas num show único — diz ele, um pernambucano entre um monte de baianos e de paraense (Gaby). — Já que não vai ter um pernambucano cantando, para mim vai ser um privilégio estar ali na retaguarda legal observando essa galera interagindo.

Para isso, Pupillo montou uma banda base, na qual vai tocar bateria, e que ainda tem Davi Moraes (guitarra), João Moreira (baixo), Ícaro Sá (percussionista do BaianaSystem) e o trio de sopros formado por Antonio Neves, Oswaldo Lessa e Eduardo Santana (do grupo Afrojazz, mas que também atuaram com Marisa Monte em seu último show).

— A ideia não é modificar os arranjos drasticamente, mas conseguir imprimir uma dinâmica bacana ao show, para que ele não soe como apresentações isoladas — diz o baterista.

Rock
Ainda no palco Mundo “Pra sempre rock” reunirá Capital Inicial, Pitty, NX Zero, Toni Garrido, Rogério Flausino ( Jota Quest) e Detonautas sob a batuta de Liminha, lendário produtor do rock brasileiro, que no primeiro Rock in Rio pilotou a mesa de som nos shows de Gilberto Gil e do Kid Abelha. Ele montou uma banda base com estrelas como o guitarrista Thiago Castanho e o baterista Pinguim (ambos ex-Charlie Brown Jr.), além de ele próprio no baixo. Liminha se anima com a possibilidade dos encontros.

— É legal, porque tem um certo ecletismo nessa escalação. Se você pensar, o Toni é um cara que veio de uma banda de reggae (Cidade Negra), a Pitty já tem um som mais pesado, e o Flausino é do pop dançante — comenta.

Rap
Produtor de discos de Planet Hemp, Sabotage, Criolo e BaianaSystem, Daniel Ganjaman ficou com a coordenação do show “Pra sempre rap”, no palco Sunset, no qual uma banda por ele montada receberá Marcelo D2, Criolo, Djonga, Xamã, Karol Conká, Rincon Sapiência e Rael. Tudo isso, para contar uma história que começa com Thaíde & DJ Hum e Racionais MC’s, passando por Sabotage (1973-2003).

— O rap, como estilo musical assim, tem a particularidade de ser muito pessoal, autoral, é muito difícil você trazer um MC para um projeto e pedir para ele interpretar músicas de outros artistas. A linguagem do rap é muito a de contar a própria história e, nesse sentido, a minha ideia é contar um pouco da história do rap, mas através das músicas desses próprios artistas — explica Ganjaman, observando que D2, “o mais veterano”, deve fazer as honras para a turma mais jovem.

Pop
Produtor de discos recentes de grande sucesso, como “DOCE 22” (2021) e “Escândalo íntimo” (2022), de Luísa Sonza, além de “Afrodhit” (2023, de Iza), Douglas Moda foi o escolhido por Zé Ricardo para conduzir o “Pra sempre pop”, no palco Sunset, com Luísa, Gloria Groove, Duda Beat, Jão e os “faixa-pretas do Brasil”, Lulu Santos e Ivete Sangalo, com quem já trabalhou brevemente. Vindo da cena do punk hardcore da periferia de São Paulo, Douglas não quer desperdiçar essa oportunidade histórica do show.

— A ideia é não deixar o público respirar, porrada atrás de porrada, começar grande, com hit, e terminar com hit — diz ele, entregando que haverá homenagens a grandes nomes do pop brasileiro.

Samba e sertanejo
Mais diretamente, Zé Ricardo cuidará de dois dos shows principais, o “Pra sempre sertanejo” do palco Mundo (com Chitãozinho & Xororó, Júnior, Luan Santana, Simone Mendes e Ana Castela com a Orquestra Sinfônica Heliópolis) e o “Pra sempre samba”, com Zeca Pagodinho, Alcione, Jorge Aragão, Xande de Pilares, Diogo Nogueira e Maria Rita. Nos dois, a banda base será a dos artistas-anfitriões (C&X e Zeca).

— Eu queria que o “Pra sempre” ficasse com aquela cara de roda de samba — explica Zé, lembrando que Zeca é uma daqueles artistas que não costumam gostar de ensaios. — Tem direção em que você precisa botar a mão, mas tem outras em que você precisa é não atrapalhar!