ONU

Sob pressão de incêndios, Lula defenderá meio ambiente na Assembleia Geral da ONU

Presidente aproveitará ida à Assembleia Geral para abordar fome e democracia

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Pressionado pela crise das queimadas no Brasil e enfrentando críticas pela atuação do governo federal no combate aos incêndios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou no sábado em Nova York, disposto a cobrar um maior engajamento dos países desenvolvidos em ações para mitigar os efeitos do aquecimento global.

Auxiliares próximos ao presidente afirmam que Lula falará aos líderes que participarão da reunião da Assembleia Geral da ONU sobre as medidas que têm sido tomadas pelo Brasil para combater e prevenir os incêndios que atingem parte do país, incluindo a Amazônia e o Pantanal.

A agenda de Lula começa neste domingo, como o segundo líder a falar na Cúpula do Futuro. Na terça, o presidente fará o discurso de abertura da Assembleia Geral e, na quarta, fará uma declaração no encontro de chefes de Estado e governo do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo.

Além de mencionar a gravidade do aquecimento global, Lula abordará o conflito na Faixa de Gaza e a guerra entre Rússia e Ucrânia e defenderá as propostas do Brasil no G20, com destaque para a transição energética, o combate à fome e a reforma da governança global.

No terceiro caso, o governo brasileiro quer a ampliação dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU com maior espaço para as nações em desenvolvimento — uma pauta antiga da diplomacia brasileira — e mudanças nas instituições multilaterais de crédito, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Cobranças externas
Integrantes do governo afirmam que existe possibilidade de Lula ser cobrado pelos incêndios na Amazônia, no Pantanal e em vários estados. Mas acreditam que a estratégia do presidente brasileiro é mostrar que o Brasil continuará lutando contra os incêndios e mostrar que parte deles é de origem criminosa. Um ponto que deve ser lembrado é a realização, no ano que vem, em Belém, da conferência mundial sobre o clima, a COP 30.

Especialista em aquecimento global conhecido internacionalmente, o climatologista Carlos Nobre sugere que Lula diga com todas as letras que o mundo vive, hoje, uma emergência climática. Nobre também espera um chamado aos países ricos, para que contribuam para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

— A abertura da Assembleia Geral da ONU será muito desafiadora. Lula tem que ser muito firme em convocar todos os países do mundo a perceberem que a emergência climática chegou — disse ele.

Diretora para Políticas Públicas na The Nature Conservancy Brasil, Karen Oliveira espera de Lula a cobrança pelos recursos financeiros prometidos pelas nações desenvolvidas.

— Esperamos que ele faça isso, mas é necessário demonstrar como efetivamente esses recursos serão implementados.

O primeiro evento do qual Lula participará, hoje e amanhã, será a Cúpula do Futuro —evento da ONU sobre compromissos internacionais para as próximas gerações. Ele aproveitará o momento para defender o multilateralismo e a reforma da governança global. O presidente será o segundo orador do evento. Há cerca de dez dias, ele fez um chamado para a Cúpula.

— Chegou a hora de agir, o Brasil está dando novo impulso à reforma da governança global na sua presidência do G20. Mas esse debate também precisa ser travado na ONU, o fórum mais inclusivo de todos. Gostaríamos que todos fossem à Cúpula do Futuro com a ambição de promover reformas efetivas — afirmou.

Propostas para o G20
Na terça-feira estão previstos encontros bilaterais. A lista de líderes que se reunirão com Lula ainda não foi divulgada. Como ocorre desde a criação da ONU, em 1945, o Brasil abrirá a Assembleia Geral. Será o momento dos principais recados de Lula à comunidade internacional.

No mesmo dia, após a reunião, Lula coordenará, ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, uma mesa redonda sobre democracia. O crescimento da extrema direita no mundo será um dos focos do debate.

A expectativa é de que Lula faça três discursos enquanto estiver em Nova York, todos sob o guarda-chuva da ONU. O primeiro, na Cúpula do Futuro; o segundo, na Assembleia Geral; e o terceiro em um encontro de líderes do G20, com um convite à participação de países que não fazem parte do grupo.

Nas conversas e discursos, Lula buscará apoio para propostas do Brasil no G20. Seu objetivo é chegar fortalecido à reunião de líderes do grupo, que acontecerá no próximo mês de novembro, no Rio.

Desde que ele assumiu, a diplomacia sob a égide do petista busca a relevância brasileira nos grandes temas da agenda internacional, considerada perdida no governo do então presidente Jair Bolsonaro.

Em 2023, primeiro ano do terceiro mandato de Lula, o Brasil assumiu a presidência do Conselho de Segurança da ONU, como membro rotativo, durante o mês de outubro. A data coincidiu com o início do conflito entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas.

Este ano, o Brasil preside o G20 e passará o bastão, em novembro, à Africa do Sul. Em 2025, o Brasil assumirá a presidência temporária do Brics (grupo formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e ampliado este ano com a entrada de Egito, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Etiópia) e sediará a COP 30 no Pará.