BANCO CENTRAL

Campos Neto diz que Pix para "bets" subiu 200% e que apostas crescem cada vez mais

Segundo presidente do BC, há preocupação com comprometimento de renda e risco de inadimplência

Empresa de Apostas, Bets - @federcap/Freepik

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que as plataformas de apostas e jogos on-line estão começando a levantar suspeitas de uma possível piora na qualidade do crédito, com grande comprometimento da renda. Ele mencionou também que houve aumento superior a 200% desde janeiro no valor que os jogadores transferem para essas empresas via Pix.

Haveria, ainda, número considerável de pessoas de baixa renda, que inclusive são beneficiária do programa Bolsa Família, apostando.

"Tá gerando uma percepção de que a gente possa ter uma piora na qualidade do crédito com comprometimento grande [...] Temos tentado ajudar o governo e o Congresso com os dados que a gente tem e o crescimento é muito grande. A correlação entre pessoas que recebem Bolsa Família, pessoas de baixa renda, e o aumento das apostas tem sido bastante grande. A gente consegue mapear o que teve de Pix para essas plataformas e o crescimento de janeiro pra cá foi bastante grande. A gente pega o ticket médio e subiu mais de 200%. É uma coisa que chama atenção e a gente começa a ter a percepção de que vai ter um efeito na inadimplência na ponta" comentou, ao dizer que os dados de crédito vieram mais fortes que as expectativas da autoridade monetária.

Em conferência organizada pelo Banco Safra em São Paulo nesta manhã, Campos Neto também mencionou que a inflação continua preocupante no país, especialmente com o crescimento econômico acima do esperado e mercado de trabalho aquecido. O Banco ainda está estudando qual o impacto do desemprego historicamente baixo sobre a inflação, mas há sinais de que esse fator começa a pesar.

"O Banco Central tem um desconforto grande com o que acontece com as expectativas de inflação. As longas ainda bem acima da nossa meta."

Ele comentou que os dados do mercado de trabalho têm alimentado debates sobre a taxa de desemprego de equilíbrio, índice que o mercado errou em mensurar algumas vezes. Além disso, segundo Campos Neto, o crescimento do Brasil está vindo pouco acima do potencial, na margem.

O presidente disse que é esperado um movimento de desaceleração dos gastos, em certa medida por influência do arcabouço fiscal.

Houve, recentemente, um aumento nos prêmios de risco, mas Campos Neto argumenta que isso estaria relacionado a preocupações quanto a transparência nos dados, e não ao crescimento nas despesas.

" A gente precisa usar como input, como dados dos nossos modelos, para entender esse processo de convergência de inflação. O próprio arcabouço força uma diminuição, o quanto a gente não se arrisca a colocar, mas a gente entende que vai haver sim uma desaceleração de gastos. Mais recentemente surgiu esse prêmio de risco, mas não advindo da trajetória e número de gastos, mas de transparência em relação aos números (fiscais)."