FRANÇA

Senador francês acusado de dopar parlamentar para estuprá-la é pressionado a renunciar a mandato

Joël Guerriau foi indiciado por dar ecstasy a Sandrine Josso para prejudicar discernimento ou controle das ações da vítima

Senador francês Joel Guerriau foi preso sob suspeita de drogar deputada para agredi-la sexualmente - Reprodução/Facebook

"Seu lugar não é mais no Senado". Com essas palavras, o presidente da Câmara Alta da França, Gérard Larcher, disse nesta quarta-feira que pediria ao senador Joël Guerriau que renunciasse ao mandato. Guerriau é suspeito de ter drogado uma colega parlamentar para agredi-la sexualmente, em novembro de 2023. O incidente abalou o sistema parlamentar do país, que também acompanha de perto o julgamento de Dominique Pelicot, acusado de dopar a própria mulher, Gisèle, e recrutar dezenas de desconhecidos para abusarem dela, durante uma década.

Larcher se encontrará com Joël Guerriau nesta quarta-feira "para lembrá-lo da necessidade de renunciar às suas funções", indicou em entrevista à France Inter. Que ele renuncie "é o meu desejo", acrescentou.

O senador, eleito por Loire-Atlantique, nega o crime. Ele é acusado de ter dado ecstasy à colega deputada Sandrine Josso numa taça de champagne enquanto eles bebiam na casa dele em Paris. Vestígios da droga foram encontrados no sangue da vítima, e resquícios de ecstasy, no apartamento.

Em entrevista na semana seguinte ao caso, Josso disse que viu o parlamentar — a quem descreveu como um "amigo dos últimos dez anos" — na cozinha do apartamento com um sachê branco e percebeu, depois, que “o champanhe não tinha o mesmo sabor”. Ela afirmou ter sentido náuseas e palpitações cardíacas e saído correndo do apartamento.

Guerriau foi indiciado em novembro por “administração sem o conhecimento (da Sra. Josso) de substância susceptível de prejudicar seu discernimento ou controle de suas ações para cometer estupro ou agressão sexual”, bem como por “posse e uso de substâncias classificadas como narcóticos.

Instado por Gérard Larcher a "se afastar" do seu mandato e ausente do Palais du Luxembourg desde então, o acusado abordou o presidente do Senado sobre um possível regresso.

"Só o Conselho Constitucional, após decisão judicial, pode demitir um parlamentar do seu mandato. Escrevi naturalmente ao Ministério Público. Há onze meses que não temos notícias da investigação" explicou Gérard Larcher, na entrevista.

Nos últimos dias, muitos parlamentares se manifestaram contra o possível retorno de Joël Guerriau.

"Tolerar a presença do senador Guerriau no Senado seria um golpe terrível para a deputada Josso, bem como para todas as vítimas de submissão química e agressão sexual", escreveu o bloco ambientalista numa carta a Gérard Larcher. O presidente do grupo, Guillaume Gontard, apelou que o caso seja encaminhado à “Comissão de Ética Parlamentar” para a imposição de uma sanção ao senador.

A ex-ministra socialista dos direitos da mulher e senadora Laurence Rossignol também alertou que “muitos” parlamentares se recusarão “a se sentar com uma autoridade eleita suspeita de ter drogado uma colega”.

"O que é alegado [pelos investigadores] é um ato insuportável e indescritível, e entendo a emoção dos meus colegas senadores" disse Gérard Larcher nesta quarta-feira.