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Diddy usou seu império musical para operar uma organização criminosa contra mulheres

Procurador federal acusa músico e empresário de criar uma estrutura que o permitia 'abusar de mulheres e outras pessoas para satisfazer seu desejo sexual e esconder sua conduta'; Diddy nega

Diddy se declarou inocente de todas as acusações, e seus advogados argumentaram arduamente para que ele fosse liberado sob fiança, propondo a um juiz que ele pagasse US$ 50 milhões - AFP

O rapper e empresário Sean Combs, conhecido como Diddy, está detido preventivamente desde 16 de setembro. São tantas as acusações contra ele, de extorsão a abuso sexual, além de um número considerável de teorias conspiratórias circulando nas redes sociais, que é difícil saber exatamente sobre o que Diddy terá de responder à Justiça. Dono de um império na música e no entretenimento, ele teve a liberdade sobre fiança recusada e aguarda julgamento no Centro de Detenção Metropolitano, no Brooklyn, em Nova York. Diddy, de 54 anos, afirma que é inocente.

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Para ajudar a entender o caso, o GLOBO fez um guia com perguntas e respostas sobre o que pode se tornar, caso Diddy seja condenado, um dos maiores casos de violência sexual na indústria da música.


Quais as acusações contra Sean Diddy Combs?

O procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York acusa Diddy de abusar, ameaçar e forçar mulheres e outras pessoas para satisfazer seu desejo sexual, proteger sua reputação e esconder sua conduta. Para isso, Diddy teria usado os funcionários, recursos e influência de seu império de negócios para criar uma organização criminosa cujos membros estão envolvidos com, entre outros crimes, tráfico sexual, trabalho forçado, sequestro, incêndio, extorsão, suborno e obstrução de justiça.

Quem acusa Diddy?

O texto da acusação é assinado pelo Procurador dos Estados Unidos no Distrito Sul de Nova York, Damian Williams. Primeiro homem negro no cargo, Williams foi nomeado pelo presidente americano Joe Biden em 2021. Foi ele o responsável pela acusação contra a socialite Ghislaine Maxwell, condenada em 2022 a 20 anos de prisão por recrutar e assediar meninas e mulheres para que fossem abusadas sexualmente pelo empresário Jeffrey Epstein, morto em 2019.

Há denúncias feitas por mulheres?

Os acontecimentos descritos pela acusação refletem a ação judicial iniciada no ano passado por Casandra Ventura, conhecida pelo nome artístico de Cassie, ex-namorada de Combs e artista que assinou contrato com sua gravadora, a Bad Boy. Cassie acusou Diddy de estupro, abuso físico e sexo forçado. Um dia após a ação, as duas partes afirmaram que a disputa tinha sido resolvida de forma amigável.

Nos meses seguintes à ação de Cassie, no entanto, seis mulheres entraram com ações judiciais alegando agressão sexual, e outras três entraram com acusações de má conduta sexual. Na terça (24), nova ação judicial contra Diddy: uma mulher afirma que ele e um de seus guarda-costas a drogaram e estupraram em um estúdio de gravação em 2001.

 

Por que ele vai aguardar o julgamento preso?
De acordo com a imprensa americana, a defesa de Diddy ofereceu US$ 50 milhões em fiança para que ele esperasse o julgamento em liberdade. Mas a Justiça decidiu que Diddy ficará preso até o julgamento por considerar seu histórico de comportamento e uso de drogas e o risco de que o rapper e empresário adulterasse os relatos de testemunhas. A decisão da Justiça por manter a prisão preventiva também diz que Diddy é um perigo para a segurança da comunidade.

As empresas de Diddy estão envolvidas no caso?
A acusação afirma que Diddy usou as sedes de seus negócios, em Nova York e Los Angeles, para realizar atos criminosos. Entre as empresas citadas pela procuradoria estão a Bad Boy Entertainment, a Combs Enterprises e a Combs Global. Essas empresas, chamadas no processo de "Combs Business", incluem gravadoras, estúdios, marcas de roupas, negócios de bebidas, uma agência de marketing, uma rede de TV e uma empresa de mídia.

Diddy é acusado de abuso sexual?
Sim. A acusação afirma que o rapper e empresário cometeu abuso verbal, emocional, físico e sexual contra mulheres e outras vítimas. Segundo a acusação, Diddy manipulava mulheres para que elas participassem em atividades sexuais altamente orquestradas da qual participavam trabalhadores sexuais homens. Segundo a acusação, Diddy teria, desde 2009, cometido violência física contra mulheres batendo nelas, socando-as, arrastando-as, chutando-as e jogando objetos nelas.

Como funcionava a organização criminosa?
A Procuradoria acusa Diddy de criar uma organização criminosa, na qual ele e outras pessoas (que não são mencionadas nominalmente no texto) estariam envolvidas em tráfico sexual, trabalho forçado, transporte entre estados americanos para fins de prostituição, coerção para a prostituição, crimes relacionados às drogas, sequestro, incêndio, suborno e obstrução da Justiça. Diddy seria o líder dessa organização que atua desde 2008.

Quem estava envolvido?
A acusação não menciona nomes de outros envolvidos, mas afirma que entre eles estavam integrantes da equipe de segurança de Diddy, a equipe de sua casa, seus assistentes, supervisores e outros sócios próximos ao rapper e empresário.

Qual o método da organização?
Segundo a acusação, a organização criminosa usava do prestígio de Diddy no meio musical e nos negócios para intimidar, ameaçar e atrair mulheres, muitas vezes usando um relacionamento como pretexto. Diddy então usaria a força, ameaças e coerção para fazer com que essas mulheres participassem de atos sexuais com trabalhadores do sexo. A isso Diddy teria dado o nome de "freak offs" (surto, em tradução livre).

O que eram os freak offs organizados por Diddy?
Segundo a acusação, os freak offs eram performances sexuais elaboradas e produzidas que o próprio Diddy organizava e dirigia. Ainda segundo a acusação, Diddy se masturbava durante esses atos e gravava tudo em vídeo. Os freak offs duravam dias e, para eles, Diddy e seus associados transportavam trabalhadores do sexo de outros estados americanos e até do exterior.

Drogas e substâncias controladas eram distribuídas nos freak offs para disciplinar as vítimas que, ao final, recebiam líquidos intravenosos para se recuperarem do uso de drogas e da exaustão física. Cocaína e ketamina estão entre as drogas citadas pela procuradoria.

Foram encontradas evidências dos freak offs?Em março de 2024, uma busca realizada nas casas de Diddy em Miami e Los Angeles achou suprimentos que seriam usados nos freak offs, incluindo drogas e mais de mil garrafas de óleo de bebê e de lubrificante. Nas mesmas buscas foram encontradas armas e munição, incluindo três fuzis AR-15 com os números de série apagados. Também em março, a polícia apreendeu equipamentos eletrônicos que estavam com Diddy quando ele se preparava para embarcar no aeroporto de Miami para as Bahamas. O conteúdo desses equipamentos ainda não foi revelado.

E de outras formas de violência contra mulheres?
Em maio, a rede americana CNN publicou imagens de câmeras de vigilância em que Diddy agredie Cassie ventura fisicamente. O vídeo mostra Diddy agarrando Cassie, jogando-a no chão, chutando-a duas vezes e arrastando-a pelo corredor. Dois dias após a reportagem, Diddy postou um vídeo em suas redes sociais pedindo desculpas: “É tão difícil refletir sobre os momentos mais sombrios da sua vida, mas às vezes você tem que fazer isso”, disse Combs em seu vídeo de desculpas, que postou no Instagram. “Cheguei ao fundo do poço – mas não dou desculpas. Meu comportamento naquele vídeo é indesculpável. Assumo total responsabilidade por minhas ações naquele vídeo. Estou enojado. Fiquei enojado quando fiz isso. Estou enojado agora."

Como tudo isso foi silenciado?
O Procurador afirma que Diddy controlava suas vítimas usando violência física, prometendo oportunidades de carreira, dando e ameaçando retirar apoio financeiro, além de rastrear seus paradeiros, controlar sua aparência e sua casa, monitorar seus registros médicos e oferecer substâncias de uso controlado. Registros em vídeo também teriam sido usados para conseguir a obediência e o silêncio das vítimas, e armas de foto eram usadas para ameaçá-las.

Qual a participação dos associados de Diddy?
A acusação afirma que os associados de Diddy na organização criminosa não apenas organizavam os freak offs - alugando quartos de hotéis, organizando suprimentos, limpando os quartos ao final, organizando viagens e contratando trabalhadores do sexo -, como também ajudavam a esconder provas da violência e dos abusos de Diddy. Também monitoravam as vítimas e as impediam de deixar o local caso precisassem se recuperar de ferimentos causados pelo rapper e empresário.

Por que ele não foi denunciado antes?
Desde 2023 há alegações públicas de que Diddy cometeria abusos. Mas, segundo a acusação, a estrutura de silenciamento montada por ele e seus associados incluía, além de perseguição às vítimas, o uso de violência, ameaças de danos financeiros ou à reputação e abuso verbal. Os atos de violência incluiriam sequestro e incêndio. A violência física consistia em jogar objetos contra funcionários, arrastá-los, sufocá-los e empurrá-los. Suborno também teria sido usado para proteger Diddy.

Qual a pena para Diddy caso ele seja julgado e condenado?
Diddy vai responder a diversas acusações. De acordo com o New York Times, a pena máxima para o crime de conspiração para extorsão é a prisão perpétua; a acusação de tráfico sexual por força, fraude ou coerção tem pena mínima obrigatória de 15 anos de prisão; e a acusação de transporte para fins de prostituição tem pena máxima de 10 anos de prisão.