NEGÓCIOS

Americanas: executivos envolvidos em fraude que delataram vão receber salário e seguro da empresa

Benefícios a serem pagos pela própria companhia são parte de incentivos para a colaboração de executivos envolvidos na fraude

Fachada das Lojas Americanas - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Dois ex-executivos da Americanas que fizeram acordo de colaboração com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) para apontar os caminhos que levaram a varejista a um rombo contábil superior a R$ 25 bilhões vão receber salário e seguro saúde pelos próximos anos bancados pela própria companhia.

A rede varejista atualmente está em recuperação judicial e teve o seu valor de mercado muito reduzido, prejudicando investidores.

A informação foi antecipada pela “Folha de S.Paulo” e confirmada pelo Globo. Segundo fontes que acompanham o caso, trata-se de um programa de incentivo à colaboração adotado por empresas, que se tornou comum em casos que envolvem delações de funcionários após o escândalo da Lava-Jato, que apurou esquemas de corrupção na Petrobras, na década passada.

 

A delação de Marcelo da Silva Nunes, que foi diretor financeiro da Americanas, e Flavia Carneiro, que foi diretora de controladoria da varejista, foi utilizada como principal instrumento para a operação Disclosure, contra ex-executivos da Americanas, deflagrada pela PF e pelo MPF no fim de junho.

Embora haja esse benefício pago pela Americanas, os dois ex-diretores da companhia serão réus colaboradores, dizem pessoas com conhecimento da investigação. “A delação não livra ninguém e ainda implica a pessoa na prática de um crime, mas há atenuação de pena, desde que o réu seja condenado”, explicou uma das fontes ao Globo.

Cópias de mensagens
Segundo documentos anexados ao processo, os dois executivos que colaboraram com as investigações tiveram participação direta nas fraudes e, após fecharem o acordo de colaboração, forneceram cópias de e-mails, mensagens de celular e documentos que indicam a fraude que levou a empresa a entrar em recuperação judicial.

Nos documentos enviados, os dois ex-executivos revelaram que, a cada três meses, os resultados eram falsificados por meio de diferentes versões. “Em mensagens trocadas entre eles, tanto por WhatsApp quanto por e-mail, estava claro quem dava a ordem e quem revisava”, lembrou a fonte.

Segundo documentos anexados ao processo, os colaboradores relataram ameaças. Procurada, a Americanas não comentou.

Nesta semana, o colunista do Globo Lauro Jardim informou que Timotheo Barros, ex-diretor da Americanas e um dos alvos de uma operação da PF de busca e apreensão em junho, pediu à Justiça a suspensão das investigações e o afastamento dos procuradores do MPF que apuram o caso, além da anulação da busca fazendo um paralelo com problemas processuais da Lava-Jato. Ele ainda pediu uma acareação entre ele e os delatores Flavia Carneiro e Marcelo Nunes.