eua

Em encontro com Zelensky, Trump promete "resolver a guerra" caso vença a eleição

Ex-presidente, no entanto, manteve a posição ambígua sobre como alcançaria um acordo com a Rússia, com quem admitiu manter boas relações

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ao lado do candidato republicano à Presidência dos EUA, Donald Trump, em 2019 - Casa Branca/Shealah Craighead

O ex-presidente americano e candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky se reuniram nesta sexta-feira em Nova York em meio a um clima tenso devido às duras críticas do magnata à substancial ajuda dos EUA à Ucrânia na guerra contra a Rússia.

Em pronunciamento à imprensa após o encontro, Trump prometeu acabar com o conflito caso vença a eleição em novembro, sem detalhar como.

— Esta é uma guerra que nunca deveria ter acontecido e nós a resolveremos — disse o candidato republicano à Casa Branca na Trump Tower. — É um quebra-cabeça complicado (...) muitos mortos.

Ambiguidade
Trump disse que "aprendeu muito" durante a reunião, afirmando estar disposto a conversar novamente com o líder ucraniano, que o convidou para uma visita a Kiev.

No entanto, o ex-presidente manteve o posicionamento ambíguo sobre a solução ideal para acabar com o conflito, afirmando que um "acordo pode ser alcançado que seja bom para ambos os lados", sem especificar o que isso significaria.

Zelensky, por outro lado, não citou qualquer acordo, mas disse que "precisamos fazer tudo para pressionar" Putin a parar a guerra, afirmando que quer ver "uma paz justa" — termo que costuma usar para se referir à devolução dos territórios anexados ilegalmente pela Rússia como condicionante a um cessar-fogo.

Antes do encontro, que durou cerca de uma hora, Trump exaltou o bom relacionamento com o líder ucraniano, mas também com o presidente russo, Vladimir Putin.

— Vamos ter uma boa reunião hoje e acho que o fato de estarmos juntos é um sinal muito bom — disse Donald Trump.

Um dia antes: Republicanos acusam democratas de fazer uso político de visita de Zelensky, que se reúne com Biden e Kamala na Casa Branca

Em resposta, Zelensky disse que ambos defendiam o fim do conflito, minimizando o comentário do republicano.

— Espero que tenhamos relações melhores — reagiu o presidente ucraniano, visivelmente chateado. —Concordamos que a guerra na Ucrânia deve acabar.

Apoio democrata
Em visita aos Estados Unidos desde domingo para a Assembleia Geral da ONU, Zelensky se reuniu com o ex-presidente americano um dia depois de receber o apoio da vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, e do presidente americano, Joe Biden, em visita à Casa Branca, depois de passar antes pelo Congresso.

— A Rússia não vencerá — garantiu Joe Biden ao presidente ucraniano ao recebê-lo no Salão Oval.

Para “ajudar a Ucrânia a vencer esta guerra”, o presidente dos EUA anunciou na quinta-feira “maior assistência de segurança”, sem mencionar o sinal verde que Kiev está esperando para disparar mísseis de longo alcance fabricados nos EUA contra o território russo.

— Esta guerra pode ser vencida e uma paz justa pode ser alcançada, mas apenas com os Estados Unidos — argumentou o chefe de Estado ucraniano, que apresentou seu "plano de vitória" com o objetivo de acabar com a invasão russa.

Na ONU: Zelensky acusa Putin de planejar ataques contra centrais nucleares na Ucrânia e diz que 'jamais' aceitará paz imposta

— Meu apoio ao povo ucraniano é inabalável — assegurou-lhe Kamala Harris, criticando aqueles que “forçariam a Ucrânia a ceder grandes partes de seu território soberano, aqueles que exigiriam que a Ucrânia aceitasse a neutralidade”, referindo-se a Trump.

O chefe de Estado ucraniano, porém, está preocupado com o futuro da ajuda ao seu país se Trump vencer as eleições de 5 de novembro. O candidato republicano, que fez do “America First” (América em primeiro lugar) um elemento central de sua campanha para voltar à Presidência, denuncia regularmente as enormes somas de dinheiro desembolsadas por Washington para Kiev desde 2022.

Laços com Putin
No primeiro e provavelmente único debate que teve com Kamala Harris, Trump desviou de uma pergunta quando questionado pelo jornalista da rede ABC sobre se torcia pela vitória da Ucrânia na guerra, afirmando que desejava o fim do conflito para "salvar vidas".

Lula rebate crítica de Zelensky: 'Se ele fosse esperto, diria que a solução é diplomática, não é militar'

Na ocasião, Kamala relembrou a declaração feita pelo magnata um dia após a eclosão do conflito, em fevereiro de 2022, em que disse que Putin era um "gênio" por invadir o país e aclamou a estratégia do autocrata de afirmar que lutaria para tornar parte da Ucrânia "independente":

— É preciso admitir que isso foi muito inteligente — disse Trump em entrevista ao programa de rádio The Clay Travis and Buck Sexton Show na época.

Tanto Trump quanto Putin já trocaram elogios um ao outro em diversas declarações públicas e indicaram ter um bom relacionamento.

Em uma rara entrevista o líder russo, ao jornalista Tucker Carlson em fevereiro, Putin comparou o "bom relacionamento a nível pessoal" que mantém com Trump com o que tinha com o ex-presidente George W. Bush quando ele ocupou a Casa Branca.

— Tive um relacionamento muito bom com Bush — disse Putin na conversa, observando, porém, que Bush “cometeu muitos erros em relação à Rússia”. — Mas, em geral, em um nível humano pessoal, tive um relacionamento muito bom com ele. Ele não era pior do que qualquer outro político americano, russo ou europeu. Garanto que ele entendia o que estava fazendo tão bem quanto os outros. Eu também tive esse relacionamento pessoal com Trump.