opinião

Políticas monetárias do Brasil e dos Estados Unidos: um cenário complexo para os investidores

À medida que a reunião do Federal Reserve (Fed) — um sistema de bancos centrais dos Estados Unidos da América — vai se aproximando, os olhos do mercado global, incluindo o Brasil, ficam atentos às possíveis mudanças na política monetária americana.

O encontro, que aconteceu nos dias 17 e 18 de setembro, trouxe à tona as expectativas sobre a decisão da taxa de juros do Fed, que  se manteve entre 5,25% e 5,5%, um fator crucial que influencia não apenas a economia americana, mas os mercados financeiros ao redor do mundo.

O CPI (Índice de Preços ao Consumidor) de agosto, divulgado em 11 de setembro de 2024, veio abaixo das expectativas do mercado, o que trouxe alívio para os investidores preocupados com a inflação nos Estados Unidos.

A reação dos mercados foi imediata e positiva, uma vez que lidamos com as bolsas americanas subindo diante da perspectiva de que o controle da inflação está mais próximo. Esse resultado reforça a possibilidade de que o Fed tenha espaço para realizar cortes de juros ainda neste ano, proporcionando maior flexibilidade à política monetária sem comprometer a estabilidade econômica.

No entanto, persiste no mercado o temor de que o Fed possa estar "behind the curve", ou seja, atrasado em ajustar suas políticas para uma economia que já apresenta sinais de desaceleração. Esse receio é de que o órgão não esteja sendo rápido para “relaxar” as condições monetárias — o que pode prejudicar o crescimento econômico no futuro.

Embora tenhamos lidado com uma melhora recente nos dados de inflação, essa incerteza permanece e o mercado continua atento à resposta do banco central para evitar um possível impacto negativo prolongado na economia.

O discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, durante o simpósio de Jackson Hole, em agosto de 2024, trouxe novas perspectivas sobre a economia dos Estados Unidos e o controle da inflação.

Powell destacou o progresso no combate à inflação, mas reafirmou o compromisso em manter o nível de empregos, ressaltando o equilíbrio que a instituição busca sustentar com o crescimento econômico. 

Esse discurso, combinado com os dados mais recentes do CPI, alimenta as expectativas de que o Fed pode realizar até três cortes de 0,25 ponto percentual na taxa de juros até o final do ano.

É importante frisar que o órgão pode, de fato, implementar cortes graduais sem pressões inflacionárias significativas, permitindo uma postura mais favorável ao crescimento econômico. Contudo, o temor de que o Fed possa estar "behind the curve" continua a gerar dúvidas sobre o ritmo ideal desses cortes, dado o risco de a inflação voltar a subir inesperadamente.

Para o Brasil, a política monetária do Fed influencia diretamente na taxa de câmbio e no fluxo de capitais. Com a desaceleração da inflação nos EUA e a expectativa de cortes nas taxas de juros, o valor do dólar em relação a outras moedas — como o real — pode flutuar significativamente.

Um corte nas taxas de juros nos EUA tende a enfraquecer o dólar, tornando os ativos americanos menos atrativos e direcionando o capital para mercados emergentes, onde os retornos podem ser mais elevados.

Essa dinâmica pode trazer impactos diversos para a economia brasileira. Por um lado, uma desvalorização do dólar pode fortalecer o real, o que reduz a pressão inflacionária causada por produtos e insumos importados.

Contudo, essa valorização da moeda brasileira pode aumentar a volatilidade no mercado de câmbio, criando desafios para as empresas exportadoras e para a competitividade do Brasil no cenário global.

Além disso, a manutenção de uma taxa Selic elevada no Brasil — conforme projetado pelo relatório Focus, boletim postado toda segunda-feira pelo Banco Central, que traz um resumo sobre as expectativas de mercado — representa um contraponto ao cenário dos EUA.

Enquanto o Fed pode estar em um ciclo de cortes, o Brasil parece estar caminhando para uma política monetária mais restritiva, com o crescimento nessa reunião para 10,75%, a projeção de elevação da Selic é de 11,25% até o final de 2024, devido às pressões inflacionárias internas. Essa postura conservadora do BC brasileiro reflete as incertezas econômicas internas e as preocupações com a inflação.

Essa discrepância entre as políticas monetárias do Brasil e dos EUA cria um cenário complexo para os investidores. Com uma Selic elevada, os investimentos em renda fixa tornam-se mais atrativos, desviando o interesse do mercado de ações. Ao mesmo tempo, os ativos brasileiros podem se beneficiar do fluxo de capital estrangeiro em busca de retornos mais altos — o que poderia fortalecer ainda mais o real e influenciar a dinâmica da Bolsa de Valores.

Enquanto o CPI nos EUA permite maior flexibilidade para o Fed reduzir os juros, o Brasil enfrenta um cenário diferente, com expectativas de elevação da Selic.

A reação positiva dos mercados ao Índice de Preços ao Consumidor pode significar fluxos de capital para mercados emergentes, como o Brasil. Neste contexto, é crucial que os investidores brasileiros estejam atentos às decisões do Federal Reserve e suas repercussões no Brasil. 

A política monetária do órgão pode afetar diretamente a rentabilidade dos investimentos e a estratégia de alocação de ativos. Além disso, a volatilidade cambial resultante das mudanças nas taxas de juros dos EUA pode impactar significativamente o mercado financeiro brasileiro.

De modo geral, conforme o Fed ajusta sua política, o Brasil pode enfrentar oscilações na taxa de câmbio e na Bolsa de Valores, exigindo, assim, uma estratégia cuidadosa dos investidores.


* Especialista em investimentos e colabora com conteúdos educacionais para a Webull.

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