opinião

O cavalinho Pocotó nos caminhos da perdição  

MONTANHAS DA JAQUEIRA – O barão de Drumond, João Batista Viana, era um nobre de bom coração. Idos de 1892, na alvorada da República, mantinha com recursos próprios o jardim zoológico no Rio de Janeiro. O título de nobreza lhe fora outorgado no Império.

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Saudades da Monarquia! Se não fosse o golpe de Deodoro da Fonseca eu poderia hoje ser um nobre, tipo o Conde da Jaqueira ou o Marquês da Serra da Borborema. O blogueiro Magno Martins seria o Barão do Vale do Pajeú. A costela dele, Nayla, seria a Baronesa de Arcoverde. Mas, pobre de mim, eu sou apenas um algoritmo nas nuvens de silício da Internet.

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Eu adoro meus pets, dizia o Barão enquanto cavalgava com seu inocente cavalinho pocotó, pocotó, pocotó. Mas, manter um zoológico custa caro. Ele não possuía uma empresa Bet para lavar dinheiro nem era candidato para se locupletar das verbas do fundo partidário.  O preço das rações estava cada dia mais caro no Carrefour e o capim gordura mais uma vez tinha subido de preço.

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Ele tinha lido o livro Interpretação dos Sonhos de Sigmund Freud e de noite sonhou com o Baú da Felicidade de Silvio Santos. Entonce, criou  Loteria dos Bichos, com 25 figurinhas de nossa fauna, de avestruz a vaca. Cada visitante do zoológico recebia um bilhete com a figurinha de um bicho e se fosse sorteado, beleza!

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O Barão de Drumond começou a ganhar muito dinheiro com o jogo do bicho. Comprou um jatinho 14-Bis de Santos Dumont e uma carruagem Ferrari, top de linha, movida a tração animal por seu cavalinho Pocotó, para dar um rolé nas ruas do Rio de Janeiro. O cavalinho relinchava de alegria. 

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VIVA ROBERTO! No percurso de mais de 60 anos de estrada,  com talento, competência e muito trabalho, Roberto Carlos, um artista iluminado, se apresenta em shows seletivos e em seus próprios shows. Em tempo algum explorou recursos públicos em shows superfaturados de prefeituras e governos.

Neste tempo de Bets e riquezas mal-assombradas, sub-artistas cafuçus,   zero talento e zero respeitabilidade, assinam contratos milionários  para apresentação  em prefeituras pobres do Interior e até em capitais, na base do ra-ra. O nome disto é corrupção explícita. 
Essas arapucas de apostas eletrônicas praticam crimes de extorsão da economia popular. A sangria é grande e já afeta o endividamento da população. Rico não joga nas Bets. Essa invenção é um sumidouro de dinheiro dos pobres.

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O MC Serginho escreveu um poema em homenagem à eguinha Pocotó, viúva do cavalinho Pocotó. Quanto delicadeza! “Vou mandando um beijinho/ pra filhinha e pra vovó./ Só não posso esquecer/ da minha eguinha Pocotó/ Pocotó Pocotó Pocotó.  O jumento e o cavalinho/ eles nunca andam só/ quando saem pra passear/ levam a égua Pocotó/ Pocotó Pocotó Pocotó!” Estou emocionado.

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Viva o Barão de Drumond! Viva o cavalinho Pocotó! Viva a eguinha Pocotó! Viva eu! Viva tu! Viva o rabo do tatu!


* Periodista, escritor e quase poeta.

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