Brigitte Bardot: veja curiosidades sobre a atriz francesa, que completa 90 anos neste sábado (28)
Aposentadoria aos 39 anos, defesa dos direitos animais, estátua em Búzios e ataques a imigrantes: atriz tornou-se símbolo sexual nos anos 1950 e 1960 e deixou o estrelato no auge da carreira
Um dos rostos mais conhecidos do cinema, Brigitte Bardot completa 90 anos neste sábado (28). Ícone do cinema francês e mundial, graças a clássicos como "E Deus criou a mulher…" (1956), "Babette vai à guerra" (1959), "A verdade" (1960) e "O desprezo" (1963), a atriz interrompeu a carreira precocemente, aos 39 anos, em 1973, passando a utilizar sua notoriedade em prol dos direitos dos animais.
De personalidade controversa, Bardot influenciou toda a geração de mulheres dos anos 1960, com um comportamento considerado avançado para os costumes da época, por atuar de biquíni ou nua, ou manter uma vida amorosa ativa. Defensora da independência da Argélia (1962), então uma colônia francesa, a atriz adotou posições conservadoras ao longo dos anos, tornando-se uma das vozes dos discursos anti-imigração e uma das celebridades que apoiam Marine Le Pen, principal nome da ultradireira no país.
Um dos maiores símbolos sexuais da História do cinema, teve início como modelo, aos 15 anos, antes de ser descoberta em 1952 pelo então assistente de direção Roger Vadim, que viria a tornar-se um dos maiores cineastas franceses e seu primeiro marido.
Quatorze anos depois, acompanhada pelo namorado marroquino-brasileiro Bob Zagury, ela refugiou-se da imprensa carioca em Búzios, então uma pequena vila de pescadores, e a tornou um destino turístico famoso em todo mundo. Sua importância na cidade é destacada por uma estátua erguida na Orla Bardot, batizada em sua homenagem. Com a mesma aversão à fama, ela respondeu a uma recente entrevista da AFP sobre os seus 90 anos: "Agradeço, mas estou farta desse aniversário. Já estou cansada, porque é um assédio, sou muito requisitada em todos os lugares! Felizmente não faço 90 anos todos os dias". Relembre outras curiosidades da atriz.
Início na moda
Filha de um industrial, Louis Bardot (1896–1975), Brigitte teve uma infância e juventude próspera, vivendo em um apartamento luxuoso no 16º Arrondissement de Paris. Durante a ocupação nazista na Segunda Guerra, ela passou mais tempo em casa e se interessou pela dança, sendo admitida aos sete anos de idade na escola particular Cours Hattemer e, em 1947, foi aceita no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris. Também incentivada pela mãe, começou a fazer trabalhos de moda em 1949, aos 15 anos, e em 1950 foi estrelou a capa da revista francesa "Elle", como modelo da coleção juvenil, quando foi descoberta por Roger Vadim, que era assistente de direção e a sugeriu como atriz ao cineasta e roteirista Marc Allégret.
Após um filme que não foi lançado, de Allégret, Bardot apareceu na capa da Elle novamente, e foi convidada pelo o diretor Jean Boyer para o filme "Le Trou Normand" em 1952, aos 17 anos de idade. No mesmo ano, casou-se com Vadim, após dois anos de namoro à revelia dos pais.
Vida amorosa
Com Vadim, com quem estrelou seu primeiro grande sucesso, "E Deus criou a mulher…" (1956), Bardot permaneceu casada até 1957. Dois anos depois, casou-se com o ator Jacques Charrier, pai de seu único filho, Nicolas-Jacques Charrier, e com quem estrelou outro de seus grandes sucessos, "Babette vai à guerra" (1959). Neste período, passou a ser alvo constante dos paparazzi, gerando uma aversão à fama que a afetou pelo resto da vida. Após o divórcio, em 1962, o ator assumiu a guarda da criança.
Em 1966, Bardot casou-se com o bilionário alemão Gunter Sachs, que, horas depois do primeiro encontro, enviou um helicóptero até a casa da atriz em Saint-Tropez para despejar pétalas de rosas vermelhas sobre a piscina e o jardim. Com ele, viveu até 1969, e só foi casar-se novamente em 1992, com Bernard D'Ormale, um conselheiro político de Jean-Marie Le Pen, então presidente do partido de extrema-direita francês Frente Nacional, numa união que dura até hoje.
Entre outros relacionamentos famosos, no período entre matrimônios, a atriz namorou com os cantores Gilbert Bécaud e Serge Gainsbourg, o bartender e instrutor de esqui Christian Kalt, o escritor americano John Gilmore e o ator Warren Beatty.
Homenagem em Búzios
Em um destes namoros, com o marroquino-brasileiro Bob Zagury, produtor e ex-jogador de basquete do Flamengo, Bardot refugiou-se em Búzios, na época um dos distritos de Cabo Frio, para escapar do assédio da imprensa no Rio, em janeiro de 1964. Na pequena vila de pescadores, ela ficou hospedada numa casa na Praia de Manguinhos, de André Mourasieff, então representante das Nações Unidas no Brasil e amigo de Zagury.
Em sua primeira estadia, a atriz permaneceu por quatro meses, vivendo um quotidiano quase incógnito, passeando de barco e se banhando nas praias de Manguinhos e João Fernandes. Aos poucos, a história ganhou o mundo e transformou o balneário fluminense num dos destinos mais conhecidos do país. Em sua segunda passagem, de dezembro a janeiro de 1965, o cenário já foi diferente, e uma multidão de jornalistas e fotógrafos foi até o local para tentar localizá-la. Por sua importância para a cidade, uma de suas praias foi batizada como Orla Bardot, que abriga uma estátua inspirada numa foto de Denis Albanese, um dos amigos de Zagury, criada em bronze pela escultora Christina Motta, um dos principais pontos turísticos locais.
Aposentadoria aos 39 anos
Em 1974, Brigitte Bardot surpreendeu o mundo ao anunciar o fim de sua carreira , pouco antes de completar 40 anos, dizendo-se cansada do cinema e que buscava uma forma de "sair elegantemente" da profissão. Com mais de 40 filmes no currículo, nas décadas seguintes ela recusou vários convites milionários para que voltasse a atuar.
Desde então, a ex-atriz tem utilizado a fama para defender os direitos animais, conquistando êxitos como a proibição do comércio de produtos derivados da caça às focas com menos de quatro semanas, em 1977. Em 1986, criou a Fundação Brigitte Bardot, dedicada ao bem-estar animal, e apresentou na TV a série "S.O.S. Animaux", entre 1989 e 1992. Também liderou campanhas contra a caça às baleias, experiências em laboratório com animais, brigas de cães, e o uso de casacos de pele. Sua cruzada mais recente é contra o comércio de carne de cavalo:
"O presente mais lindo que eu poderia receber, após 50 anos de apelos a governos e presidentes, seria a abolição do consumo de carne de cavalo. Quando saí do cinema, foi a primeira coisa que pedi. Que não deveriam mais ser mortos ou comidos cavalos na França. Bem, não recebi nada! Teria sido um presente maravilhoso para mim", disse Bardot à AFP, por conta das celebrações de seu 90º aniversário.
Discurso anti-imigração
Após apoiar o ex-presidente Charles de Gaulle no reconhecimento à independência da Argélia, em 1962, Bardot passou a aderir a posições políticas conservadoras, após o casamento com Bernard D'Ormale. As críticas à imigração árabe na França renderam processos e a aversão de parte de seu antigo público.
Na autobiografia lançada em 1996, a atriz tornou pública pública sua crítica ao Islamismo, o que repetiu em 2003, no livro "Um grito no silêncio", na qual condenou o que chamou de "islamização da França". Na mesma obra, também fez críticas à comunidade LGBTQIAP+.
Em 2018, ela criticou o #MeToo, que denunciou uma série de abusos sexuais na indústria cinematográfica. Em entrevista à revista "Paris Match", Bardot disse que a "grande maioria" das atrizes que vem denunciando casos de assédio estão sendo "hipócritas e ridículas": "Muitas atrizes tentam seduzir produtores para conseguir um papel. Depois, quando vão falar sobre o caso, dizem que foram assediadas", disse ela.