Saúde mental

Saúde mental no trabalho: a importância do engajamento das empresas

Com o aumento de doenças associadas ao ambiente laboral, a saúde mental tornou-se uma pauta urgente

Jhonata Fernandes, funcionário da empresa Pitang, que oferece acompanhamento psicológico para seus colaboradores. - Foto: Davi Queiroz/Folha de Pernambuco

Transtornos psicológicos têm sido cada vez mais frequentes entre os trabalhadores no Brasil. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 86% da população sofre de ansiedade ou depressão no País. O índice envolve os trabalhadores brasileiros, que com o estresse no ambiente de trabalho e a falta de acesso a um acompanhamento psicológico podem ter o bem-estar e desempenho de suas atividades afetados. Por isso, a saúde mental no trabalho se tornou um tema essencial nas empresas.

Para Alessandra Reis, psicóloga e especialista em carreiras, o excesso de problemas ligados ao emocional nos espaços de trabalho está ligado à alta carga de cobrança, além da comparação exacerbada com o desempenho dos colegas de trabalho.

“Todo mundo hoje tem que bater muitas metas; as empresas costumam cobrar uma produtividade excessiva, e as pessoas cobram muito de si o tempo todo para atender a essa demanda, além da comparação com o rendimento de outras pessoas. A recorrente sensação de sempre fazer tanto e nunca ser suficiente pode acabar provocando doenças psíquicas, colaborando com um aumento de ansiedade e burnout dentro das empresas”, afirma a psicóloga.

Burnout

De acordo com informações da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem de burnout, condição citada pela especialista. Recentemente oficializada pela OMS, a síndrome de burnout é resultado do esgotamento profissional, caracterizado pela organização como “resultante de um estresse crônico associado ao local de trabalho que não foi adequadamente administrado”.

A neuropsicóloga Verúcia Gomes explica os primeiros sintomas que devem ser observados como alerta pelos trabalhadores. “É importante se atentar ao surgimento de pequenas nuances como, por exemplo, quando começam os lapsos de memória e as dificuldades de concentração, de produtividade e de criatividade”, alerta a especialista. 

Verúcia destaca, ainda, que esse declínio na tomada de decisões e a sobrecarga emocional parecem ser sutis a princípio, mas, se não dermos a devida importância a esses primeiros sinais, corremos um risco de desenvolver algo mais grave como transtorno de pânico ou até a uma escala depressiva. 

O cumprimento de tarefas em um curto espaço de tempo, a pressão dentro das empresas e outros ambientes de trabalho ajudam a criar uma atmosfera de sobrecarga, resultando em um cenário de vulnerabilidade ao desenvolvimento desses distúrbios emocionais. 

Diante desse cenário, surge a necessidade de os empregadores mudarem as estratégias para auxiliar na construção de um ambiente de trabalho mais saudável e mais leve. 

Mudando o foco

Para a psicóloga Alessandra Reis, canalizar a energia em outros focos faz com que a mente consiga descansar e lidar com as dificuldades do dia a dia. É com essa proposta que a empresa Pitang, do segmento de tecnologia e sediada no Porto Digital, no Recife, realiza ações de entretenimento na programação da instituição como uma estratégia para promover a descontração entre seus funcionários. 

Segundo o CEO da organização, Antônio Valença, além de acompanhamento psicológico para os contratados da Pitang, atividades que envolvem jogos e a troca de experiências em rodas de conversa dinâmicas fazem parte da rotina dos trabalhadores. 

Valença explica que a empresa já era adepta de alguns programas de incentivo à saúde mental, mas as ações foram intensificadas após a pandemia do coronavírus, momento em que a ansiedade esteve mais presente.

Promovendo o lazer entre os integrantes da equipe, as ações também ajudam a criar conexão entre os funcionários, colaborando com as relações na empresa, que conta com parte dos colaboradores trabalhando de forma remota, segundo Antônio.

Incentivo

Alessandra Reis lembra que se a empresa dá acesso à saúde mental, ela promove qualidade de vida aos funcionários, diminuindo a probabilidade de transtornos mais graves, do agravamento de quadros de doenças psíquicas e aumentando, também, a satisfação dos funcionários em poder trabalhar em um lugar que fornece esse cuidado. 

Outra empresa adepta às práticas que incentivam a saúde mental no trabalho é a NTT DATA, que também é ligada ao Porto Digital e oferece um conjunto de ações que buscam proporcionar um ambiente de trabalho equilibrado e saudável. 

Um dos programas centrais da empresa de soluções em TI é o suporte psicológico e psiquiátrico, disponível para todos os colaboradores e dependentes. Esse suporte inclui sessões de terapia presenciais ou online, e, ainda, aconselhamento psicológico especializado para enfrentar momentos de crise, situações de estresse ou conflitos interpessoais dentro e fora do ambiente de trabalho. 

Resultados

A gerente de pessoas da NTT DATA, Renata Dias Trasmonte, afirma que a necessidade de implementar o programa de atendimento psicológico surgiu com a observação de que o estresse e a sobrecarga, especialmente no período pós-pandemia, estavam gerando um impacto significativo na produtividade e no bem-estar dos times da instituição. 

“Desde a implementação dos programas de apoio à saúde mental, a NTT DATA observou um aumento significativo no engajamento dos colaboradores, comunicação interna e resolução de conflitos. A iniciativa também impactou positivamente a retenção de talentos, reforçando a importância de cuidar do bem-estar dos funcionários como um investimento estratégico para o crescimento sustentável da NTT DATA” afirmou a gerente. 

Apoio psicológico

Jhonata Fernandes, consultor de TI da Pitang, conta que já passou por episódios de grande pressão em outras empresas e chegou a ser diagnosticado com transtorno ansioso depressivo e burnout. Hoje, ele encontra apoio psicológico e um ambiente que estimula o bem-estar.

“Quando eu saí da empresa tudo mudou, eu fiquei muito melhor e não tive mais nenhum episódio como os que tinha antes e, hoje, vivo muito tranquilamente no meu atual ambiente de trabalho”, afirmou o funcionário. 

A experiência de Jhonata resulta num exemplo de como a psicoterapia como prevenção interventiva favorece o profissional a se sentir confortável no espaço de trabalho. Verúcia acrescenta que essas práticas ajudam o colaborador a ter mais insights, a ser mais criativo e resolutivo com problemas.  

“Promover um lugar mais em paz com seus próprios colaboradores cria um contexto mais favorável a uma sinergia de um bom trabalho”, conclui a especialista.

 

 

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