AGRONEGÓCIO

Mudanças climáticas: IPA faz alerta, e produtor local de café busca saída para plantação

Instituto Agronômico de Pernambuco alertou, por meio de nota técnica, que o Nordeste, no próximo bimestre, deve experimentar períodos de precipitação reduzidas, amplitudes térmicas consideráveis e temperaturas altas

O produtor de café Gabriel Althoff investiu no agroflorestamento para driblar a crise climática - Divulgação

Com a crise climática, que vem afetando todo o planeta, os próximos meses não serão dos melhores. Os modelos de previsão do tempo indicam redução nos totais de chuva no período de setembro a novembro. Nesse sentido, o cenário de estresse hídrico é preocupante e não deve se alterar até penúltimo mês do ano. Em Pernambuco, a situação não é diferente.

A climatologista e pesquisadora do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Francis Lacerda, já havia alertado na primeira metade deste mês, por meio de uma nota técnica, que o Nordeste brasileiro, durante o próximo bimestre, deve experimentar períodos de precipitação reduzidas, amplitudes térmicas consideráveis e temperaturas altas, ou seja, aumentando os riscos de focos de calor e incêndio, principalmente em sua porção semiárida. 

“A situação deve continuar crítica em função da seca que chegou de forma antecipada, em algumas regiões do Brasil, com consequências regionais significativas podendo impactar, os recursos hídricos, a produção de alimentos e saúde no período supracitado”, diz um trecho da nota assinada por Francis. 

Da mesma forma, alerta ela, as ações de mitigação, em relação às práticas inapropriadas (atear fogo), seguem lentas e, se implementadas poderiam reduzir significativamente os impactos, nas populações rurais, urbanas e nos ecossistemas. “As ações de curto prazo envolvem abordagens, que quando combinadas, podem efetivamente contribuir para a eliminação do uso do fogo na agricultura”, acrescentou.

Para a climatologista, aproveitar os resíduos vegetais na agricultura de forma sustentável é uma prática essencial para proteger o meio ambiente e melhorar a eficiência dos sistemas agrícolas. Os impactos negativos, assim endereçados, podem ser atenuados, segundo Francis, fazendo frente aos desafios impostos pela emergência climática. 

Agroflorestamento
O produtor de café Gabriel Althoff, proprietário da fazenda Café do Brejo, em Triunfo, no Sertão pernambucano, afirmou que já sente os impactos das mudanças climáticas no negócio dele há algum tempo e não é um fenômeno local. “O agro do café mundial está passando por uma situação absurda. O Vietnã, por exemplo, já vem há três anos sofrendo com isso, e o resultado é a elevação do preço do produto”, explicou ele.

Quanto ao Brasil, Althoff conta que há dois anos parte de Minas Gerais vem passando por uma situação climática pesada de seca, com safras quebradas – quando ocorrem situações que causam altas perdas nas lavouras, a produção é muito menor que a prevista no início da safra.

“Em Pernambuco, a gente está no início de uma reimplantação do café de uns três anos para cá, e de certa forma já sente por aqui o aumento dos insumos, do material de irrigação”, acrescentou. 
Para reduzir os impactos das mudanças climáticas, Gabriel, que tem uma produção anual de café que varia de 150 sacas a 200 sacas de 60 kg, encontrou no agroflorestamento a solução mais viável para não ser prejudicado pela crise climática.  

“A gente está introduzindo o agroflorestamento, utilizando o abacate como sombreamento, a banana como quebra-vento. Aí, em vez de ser uma monocultura, a gente alimenta o solo com outras, diversifica e tem uma rentabilidade com culturas diferentes, também. Na verdade, a gente planta isso (banana, abacate) para melhorar a situação do cafeeiro, porque nossa principal atividade vai continuar sendo o café”, ressaltou.   

Conscientização
A presidente do IPA, Ellen Viégas, informa que está sendo realizado um trabalho em várias frentes para mitigar os efeitos da seca no Estado. “É um trabalho que vai desde a conscientização da educação ambiental, por meio de permanentes Ações de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), a serviços estratégicos e essenciais, com a construção e limpeza de barragens de pequeno porte, aguadas e barragens subterrâneas destinadas à captação de água e abastecimento agrícola para comunidade rurais das regiões do agreste, sertão e zona da mata”, garantiu. 

Ellen listou, ainda, outra ação relevante do instituto: a perfuração e instalação de poços, medida que contempla também as regiões do Agreste, Sertão e Zona da Mata. A presidente do IPA reforça a importância da conscientização ambiental. 

“No âmbito da extensão rural, por exemplo, os extensionistas do IPA desenvolvem várias experiências da Ater agroecológica em todos as regiões do estado, visando a produção de alimentos de forma sustentável e saudável por meio da implementação de tecnologias sociais e preservação do meio ambiente.  É o caso do uso do solo, das nascentes e da destinação adequada dos resíduos sólidos”, explicou.