Agressão

Mãe de menina agredida por outra criança em berçário no Recife acusa instituição de "omissão"

De acordo com os familiares, a vítima sofreu arranhões e mordidas por outra criança, de dois anos

Caso aconteceu no CFC Baby, do Colégio Fazer Crescer, localizado na Zona Norte do Recife - Júnior Soares/Folha de Pernambuco

A mãe da criança de um ano e dois meses que foi agredida dentro de um berçário no Recife acusou de "omissão" o CFC Baby, do Colégio Fazer Crescer, localizado na Zona Norte da Cidade.

De acordo com os familiares, a vítima sofreu arranhões e mordidas de outra criança, de dois anos. A Polícia Civil de Pernambuco investiga o caso como lesão corporal.

O caso aconteceu na última quarta-feira (25), mas foi divulgado apenas no domingo (29). A vítima teria sido deixada sozinha com a outra criança, dormindo, sem supervisão da berçarista, que também teria esquecido de ligar a babá eletrônica ao sair do ambiente. Foi nesse momento que a agressão ocorreu. 

"Foi completa omissão do colégio. Vou desmatricular ela de lá. Minha filha jamais vai pisar nesse colégio", afirmou a mãe, em entrevista à Folha de Pernambuco.


Ainda de acordo com a mãe, a filha ficou com ferimentos nas bochechas, olho, cabeça, queixo, boca, mãos e joelho.

De lá para cá, no entanto, ela já está se recuperando fisicamente. "As lesões que ela sofreu já estão cicatrizando. Toda a rouxidão no rosto dela também está começando a sarar, e, fisicamente, ela está ficando melhor", explicou.

Apesar da melhora física, no entanto, o principal desafio agora é lidar com o impacto emocional da situação. Segundo a mãe, a filha está apresentando "comportamentos fora do comum" desde o episódio.

"O tempo todo ela está querendo colo, está me procurando bastante. Teve também um episódio de crise de choro, quando ela começou a chorar copiosamente, sem motivo aparente, e nada a consolava. Consultei a pediatra dela, que recomendou que eu deveria dar um remédio para dor que havia sido receitado, e que a crise poderia ter vindo disso. Quando ministrei o remédio, ela foi se acalmando. Agora ela também só dorme se agarrando em mim, segurando no meu pescoço", explicou.

Por ser ainda muito jovem, é difícil que a criança consiga expressar verbalmente o que sente. A família, no entanto, já está consultando psicólogos para "entender melhor a situação, e, a partir daí, tomar as medidas cabíbeis", como explicou a mãe.

"Falta de apoio" do colégio
Ainda segundo a mãe da vítima, o CFC Baby não estaria prestando apoio à família durante esse período. Os familiares também chamam atenção para as despesas médicas no tratamento da vítima.

"O colégio em nenhum momento me procurou. Cheguei a ler em uma matéria que buscaram o colégio para saber o estado de saúde da minha filha, e eles não souberam informar. O colégio não sabe nem o estado de saúde da minha filha porque eles não estão prestando apoio algum para nós", começou.

"O único momento que chegaram a falar com a gente foi no dia do ocorrido. Eles mandaram mensagem para o meu marido, o que é fora do comum, porque geralmente só falam comigo, e disseram que lamentavam o ocorrido, O colégio disse que se quiséssemos discutir a situação, deveríamos procurá-los, mas, de lá para cá, não houve mais contato. Nem despesas médicas eles se ofereceram para arcar, nada", completou a familiar.

O caso foi levado para o Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), por meio de um Boletim de Ocorrência. A Polícia Civil, por meio de nota, afirmou que "as investigações foram iniciadas e seguem em andamento até a completa elucidação do caso". A vítima também chegou a realizar uma perícia traumatológica.

A família fez ainda uma denúncia contra a instituição de ensino no Ministério Público de Pernambuco (MPPE). A Folha de Pernambuco buscou o órgão para saber como anda o processo, mas, até a última atualização da matéria, não recebeu retorno. Ainda assim, como a vítima é menor de 18 anos, muitas informações devem permanecer em sigilo.

A mãe da criança informou para a reportagem que agora tenta formalizar uma denúncia na Secretaria Municipal de Educação contra a instituição, mas que, até o momento, não obteve sucesso.

O que diz o colégio
Procurado pela reportagem, o CFC Baby afirmou que está "mantendo contato com os pais de ambas as crianças, no intuito de oferecer nossos melhores propósitos". A instituição disse, ainda, que "se colocou à disposição para o que for necessário".

O colégio também destacou a "história de honradez da instituição nestes quase 40 anos de existência", e que, no momento que que tomou conhecimento do ocorrido, elevou os níveis de segurança do local. A nota, no entanto, não menciona a posição da CFC Baby a respeito da profissional que deveria supervisionar as crianças.

Confira, abaixo, o pronunciamento na íntegra:
"Nesses quase 40 anos de existência, nunca havia ocorrido um fato semelhante a esse. Durante essas quatro décadas, sempre atuamos com zelo, responsabilidade e cuidado. No dia a dia, adotamos diversos protocolos no berçário e com as equipes para realizar o melhor atendimento às crianças. Tanto que recebemos aqui diversas instituições para conhecer nossas práticas.

Neste momento dolorido para todos, também estamos sofrendo. Entendemos a dor e a inquietação da família. Por isso, logo após o ocorrido, já adotamos todas as medidas necessárias que estavam ao nosso alcance. Reavaliamos e refizemos protocolos e rotinas para elevar ainda mais os níveis de monitoramento e segurança das crianças. Entre as medidas, já encomendamos sistema de alarmes de captura de movimento, que afaste a chance de qualquer reincidência de erro humano. 

Nosso funcionamento está normal, as crianças estão vindo ao berçário. Isso mostra a confiança em uma instituição que ficou conhecida pelo compromisso, ética e, principalmente, pelo cuidado e educação na primeira infância. Foi um infeliz fato isolado, que não reflete o que está por trás do CFC.

Lamentamos o julgamento improcedente que algumas pessoas têm feito por meio de redes sociais, sem conhecimento tanto do que ocorreu como dos próprios valores e compromisso da instituição, sob o risco de expor ainda mais as crianças que já estão passando uma situação difícil, e ainda denegrir uma instituição séria e que tem como valores primordiais cuidar e educar. Aproveitamos para agradecer as várias mensagens de carinho e cuidado enviadas por famílias da instituição e de fora, parceiros e profissionais que nos acompanham ao longo de todos esses anos. 

Desde o início, procuramos dar apoio às duas famílias das crianças, preservá-las e ficar à disposição para colaborar. Falamos, ainda, pessoalmente com pais e mães de outras crianças do berçário para comunicar o fato e esclarecer eventual dúvida."