VISITA

Presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome, Geyze Diniz visita a Folha de Pernambuco

Empresária está no Recife cumprindo agendas referentes ao movimento, que tem como finalidade engajar as pessoas para acabar com a fome de maneira estrutural e permanente e reduzir o desperdício de alimentos

Durante a visita, Geize explicou como funciona o Pacto e como se dão as parcerias com governo, iniciativa privada e terceiro setor - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

A economista Geyze Diniz, cofundadora e presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome, visitou a Folha de Pernambuco na manhã desta terça-feira (1º). Ela foi recebida por Cláudia Monteiro, esposa do presidente do Grupo EQM e fundador da Folha de Pernambuco, Eduardo de Queiroz Monteiro, e pela diretoria Administrativa do jornal, Mariana Costa.

Também participaram da visita a editora-chefe da Folha, Leusa Santos; a editora adjunta de Política e economia, Pupi Rosenthal; e as colunistas Roberta Jungmann (Persona) e Camila e Eduarda Haeckel (Blog Inspiração).

Geyze, que também integra o conselho da Península Participações, empresa de investimentos da família Diniz – ela é viúva do empresário Abílio Diniz –, está no Recife para cumprir uma série de compromissos referentes ao Pacto Contra a Fome, um movimento suprapartidário e multissetorial e que tem como objetivo engajar as pessoas para acabar com a fome de maneira estrutural e permanente e reduzir o desperdício de alimentos no Brasil.

Pandemia
A ideia para o Pacto nasceu, segundo ela, durante a pandemia, quando a empresária começou a distribuir cestas básicas, mas tem um formato muito diferente hoje. Distribuir alimentos, naquele momento, era, disse ela, um gesto importante, porque as pessoas precisavam, mas Geyze compreendeu que aquilo não resolveria o problema. Era, naquela época, um assistencialismo fundamental, mas não era estruturante.

Mariana Costa e Cláudia Monteiro receberam Geyze na sala da Presidência   Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

“Hoje, a gente atua nas questões estruturantes. A gente não entrega cesta básica, não entrega marmitas, comida. Antes de mais nada, dados, estudos para gerar evidências para pautar políticas públicas é um lugar de educação nosso. Só que tem muita coisa que já existe. A gente não inventou a roda. Primeiro, a gente pega os parceiros: quem que já faz? Onde estão os estudos? O que não tem ou precisa ser atualizado, a gente vai atrás e atualiza. Por que? Isso tudo custa tempo e dinheiro, e se a gente faz sozinho, não dá”, explicou ela.

Voltando à pandemia, quando começa a se delinear o movimento comandado por Geyze, o Brasil, naquela época, possuía 33 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave ao mesmo tempo em que se jogava no lixo oito vezes o que seria suficiente para alimentar aquela população, de acordo com a empresária.

Fome
“Aquilo era de uma incoerência. Como que a gente tem a fome e joga no lixo, em 2021, com tanta inteligência, com tanta tecnologia. E aí eu começo a ouvir muita gente, pego os estudos, ouço mais de 300 pessoas de todos os setores: academia, setor privado, terceiro setor. E aí foi fazendo sentido e trouxe um grupo que ajuda a construir o que é hoje o Pacto Contra a Fome”, afirmou.

Geyze se diz uma mulher inconformada e indignada por viver em um país como o Brasil, que produz e exporta alimentos em grandes quantidades.

“Somos um dos principais celeiros do mundo e ao mesmo tempo a gente tem fome e joga comida no lixo ao longo da cadeia toda, do campo até a mesa de casa”, desabafou.

O Pacto Contra a Fome trabalha, segundo ela, com o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) e todas as secretarias que têm a ver com a fome, numa parceria que está cada vez mais amalgamada.

Geyze: dos quase 220 milhões de brasileiros, 64 milhões têm algum tipo de insegurança alimentar  Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco 

“Eles estão vendo a qualidade do trabalho que a gente entrega, e a gente tem a vantagem de ter flexibilidade. Então, às vezes, fazemos estudos como os do Maranhão e do Pará sobre um braço de políticas públicas (que existe lá), que é o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan). Ele é o primo do SUS, só que apenas 10% dos municípios o adotam. Aí, a gente pergunta para o governo por quê. Tem dinheiro, projetos para aplicar, porque os prefeitos não fazem?”, indagou.

Vale
No caso dois estados citados, a companhia Vale entrou financiando porque são regiões que ela tem interesse. “Ela financia, e a gente entra lá e está faz um diagnóstico para entendimento. Isso já está nos trazendo argumentos e dados que já estamos compartilhando com as secretárias do MDS para ver o que é que aprende com isso e multiplica”, adiantou.

De acordo com Geyze, dos quase 220 milhões de brasileiros, 64 milhões têm algum tipo de insegurança alimentar, e são desperdiçados quase 55 milhões de toneladas de alimentos, que é quase um terço da produção do País. “Se existem 64 milhões de brasileiros nessa situação, com certeza, há pessoas perto da gente que têm algum tipo de insegurança alimentar”, alertou ela.

 

 
 
 
 
 
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Problema
Para a empreendedora social, o Governo sozinho não resolve o problema. “O presidente Lula pegou a pauta da fome para ele e falou que é problema do estado. E é, mas um problema do estado inclui sociedade civil, todos nós. E aí essa é outra reflexão que venho fazendo também, que é sobre o nosso papel enquanto sociedade civil, porque a gente é muito pouco atuante como sociedade civil organizada”, confessou.

Geyze também contou que tem cada vez mais tentado trazer o setor privado para a pauta de que esse problema é de todos, porque uma pessoa com fome impacta nos custos da saúde e da educação, além de impactar no aumento da violência e redução da produtividade.

“Hoje, a quantidade de crianças que se prostituem por um prato de comida é absurda, além da violência de dentro de casa”, advertiu Geyze.

Uma das agendas de Geyze Diniz no Recife é conhecer a iniciativa social Mãos Solidárias, um dos seis ganhadores do Prêmio Pacto Contra a Fome 2023, realizdo em São Paulo.

“O trabalho que eles fazem é muito sério, incrível. Foram seis iniciativas, cada uma ganhou R$ 100 mil, uma mentoria feita pela XP e um troféu que o (artista plástico) Vik Muniz fez para a gente", lembrou. A segunda edição do prêmio será no dia 12 de novembro deste ano, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Confira abaixo a entrevista que Geyze concedeu à colunista da Folha de Pernambuco Roberta Jungmann