Natação

Carol Santiago cita foco em psicologia e ginecologia do esporte no crescimento como atleta

Maior campeã paralímpica do Brasil, pernambucana salientou a importância dos cuidados específicos para mulheres no esporte

Carol Santiago, maior campeã brasileira da história dos Jogos Paralímpicos - Júnior Soares/Folha de Pernambuco

Carolina Santiago é pernambucana. Nadadora. Maior campeã paralímpica do Brasil. Mas, antes de tudo isso, Carol é mulher. Longe de ser um mero detalhe, essa última informação é crucial para dimensionar o tamanho de suas conquistas e o desafio para alcançá-las. Foi preciso entender a mente e o corpo feminino para chegar longe no esporte. Corpo esse que ela quer preparar para uma nova missão: a de ser mãe. Sem que isso signifique largar as piscinas. "Quem sabe um filho meu pode me ver na próxima edição dos Jogos Paralímpicos?"

Fascinação

Fazer adolescentes ficarem concentrados por alguns minutos é um desafio para os pais. Mas os atletas que participam dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs 2024), no Centro Esportivo Santos Dumont, em Boa Viagem, não tiraram os olhos de Carol, que visitou o evento para contar um pouco da trajetória dela no esporte.

"Foi incrível participar. Desde que recebi o convite, fiquei ansiosa. A grande diferença entre mim e eles é que já fiz minhas escolhas, enquanto eles estão começando a ver o que querem para o futuro. O esporte é uma grande ferramenta e fico feliz em mostrar que existe um caminho em que você pode sonhar grande e trabalhar duro para realizar", citou a pernambucana.

Novo olhar

Para chegar ao nível de ser a maior medalhista de ouro do Brasil nos Jogos Paralímpicos, com três vitórias em Tóquio-2020 e outras três em Paris-2024, a nadadora superou mais do que os obstáculos da síndrome de Morning Glory, alteração congênita na retina que reduz o campo de visão da pernambucana. Carol precisou reconhecer aquilo que é intrínseco a si: o fato de ser mulher.

"As particularidades femininas eram temas que ninguém falava. Eu tinha uma equipe técnica completamente masculina. Isso não era ruim, mas não tornava o ambiente propício para conversar sobre assuntos 'de meninas'. Durante meu processo de preparação, eu comecei a ver uma variação muito grande da minha performance. Tinham momentos em que eu nadava bem, como campeã, e outros mal, que nem me fariam chegar à final. Isso fez a comissão técnica olhar de forma diferente", contou.

"Uma médica indicou que eu deveria procurar um profissional para olhar a parte hormonal, mas que entendesse de esporte. Aí comecei a fazer um trabalho com Tathiana Parmigiano, ginecologista do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), que já foi atleta de alto rendimento na natação. Antes eu tinha cólicas horríveis, mal conseguia andar. Depois, eu não tive mais variações na performance, evitando perdas. Até os técnicos passaram a perguntar mais sobre o meu ciclo menstrual. Isso passou a ser algo natural", completou. 

O aspecto mental também teve atenção redobrada. "Comecei a fazer um trabalho de EMDR, que é uma ferramenta utilizada para tratar traumas, mas também serve para os atletas. Minha psicóloga, Ana Lúcia Castello, aplicou em mim e deu certo. Eu me lembro que tive um descontrole emocional muito forte em um Mundial. Subia em um bloco e me tremia, com medo de cair. Queria ser forte psicologicamente para não me afastar do esporte. Trabalhei isso e, em Tóquio, tive uma atuação incrível. Depois, em Paris, vivi os melhores momentos da minha vida", detalhou.

Ser mãe

O próximo objetivo de Carol Santiago, de 39 anos, é ser mãe, com um desejo especial para a próxima edição dos Jogos Paralímpicos, em 2028, em Los Angeles. 

"Treinei para Tóquio com um amigo meu e a esposa dele engravidou no processo. Mas ele não perdeu os treinos. Isso que ele passou, eu não poderia passar. Existe essa diferença. Tenho esse sonho e já estou na idade de não poder adiar muito. Vejo que tem tudo para dar certo. Quero ser mãe, mas depois voltar a competir. Quem sabe um filho meu pode me ver na próxima edição dos Jogos Paralímpicos?", profetizou.