Mais de 20 países articulam retirada de cidadãos do Líbano em meio à suspensão de voos por companhia
Segundo o governo brasileiro, 3 mil pessoas pediram ajuda para deixar o país após a escalada dos conflitos entre Israel e Hezbollah
A escalada do conflito entre Israel e o movimento xiita Hezbollah levou dezenas de países a emitirem alertas de retirada para seus cidadãos que vivem no Líbano. Nesta terça-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Turquia disse estar trabalhando com cerca de 20 nações para uma possível operação por meio do território turco.
Algumas nações traçam planos de contingência pelo mar, com destino ao Chipre, território da União Europeia que recebeu 60 mil pessoas fugindo da guerra entre Israel e Hezbollah em 2006. No caso do Brasil, o governo já autorizou uma operação de repatriação, que deve atender cerca de 3 mil brasileiros que pediram ajuda à embaixada.
"As diretrizes para a evacuação de estrangeiros através de nosso país também foram definidas. Os preparativos necessários estão sendo realizados com cerca de 20 países que solicitaram apoio até o momento", disse a Chancelaria turca em comunicado.
A intensificação do conflito na segunda-feira, com o início da incursão israelense contra o território libanês, adicionou uma nova camada de tensão à escalada nas últimas duas semanas, que deixou centenas de mortos — incluindo o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah — e feriu milhares de pessoas.
Mas a crise de deslocados no Líbano, que abriga a maior população de refugiados per capita do mundo devido ao fluxo de sírios e palestinos que fugiram para o país, é outra face relevante das tensões.
Segundo o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, cerca de 1 milhão de pessoas estão deslocadas, enquanto o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) afirma que 100 mil já cruzaram a fronteira em direção à Síria.
Até o momento, nenhum país iniciou uma ampla operação de retirada dos seus cidadãos no Líbano. No entanto, um efeito do conflito pode dificultar ainda mais a complexa logística: a suspensão de voos de diversas companhias aéreas para a região — não só para aeroportos no país árabe, como em alguns casos também em Israel.
O conflito impôs alterações nas operações de 28 companhias aéreas até o momento, 15 delas para aeroportos no Líbano e 17 para Israel, incluindo algumas que suspenderam voos para os dois destinos. Em alguns casos, as mudanças se estendem para locais próximos, mas que não estão envolvidos na tensão, como a capital da Jordânia, Amã. Muitas empresas cancelaram os voos até janeiro.
Estados Unidos e Reino Unido enviaram tropas para o Chipre para ajudar na retirada de cidadãos que estão no Líbano. Austrália e Canadá também traçam planos de contingência conjunto pelo mar, que envolve a contratação de um navio comercial capaz de transportar mil pessoas por dia.
No entanto, o governo australiano pediu que os 15 mil nacionais vivendo no país aproveitem que o aeroporto de Beirute ainda está operando para fugir.
França ainda não emitiu uma ordem de retirada, mas também trabalha com planos de saída pelo Chipre e por Beirute, e faz parte das nações em conversa com a Turquia.
O país tem um navio de guerra na região, e um porta-helicópteros francês está previsto para chegar ao leste do Mediterrâneo dentro de alguns dias para auxiliar no processo, segundo informações de um porta-voz do Exército francês.
Alguns países, como a Alemanha, já tiraram a equipe diplomática não essencial do Líbano, além de cidadãos vulneráveis, e apoiará a saída de outros, segundo um comunicado conjunto dos ministérios das Relações Exteriores e da Defesa. Um porta-voz da Chancelaria, no entanto, também indicou a fuga pelo aeroporto de Beirute.
Já a Bulgária faz a segunda viagem com o jato do governo nesta terça-feira para buscar cidadãos. Segundo o governo, assentos vazios serão oferecidos a cidadãos de outros países da UE que desejem sair.