Eleição no COB: Marco La Porta e Yane Marques prometem pelo menos três mulheres na direção
Chapa da oposição pode eleger a primeira mulher a cargo de presidência da entidade
Marco La Porta, ex-vice-presidente de Paulo Wanderley, e Yane Marques, ex-presidente da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil (CACOB), formam a chapa de oposição ao atual mandatário e Alberto Maciel Júnior, ex-presidente da Confederação Brasileira de Taekwondo, no pleito que definirá a presidência da entidade para o ciclo de Los Angeles-2028. A eleição acontecerá nesta quinta-feira, no Rio.
La Porta conta que esperou sinalização de apoio de Wanderley como seu sucessor e que não aconteceu. Desde então, quando teve de sair do cargo para poder concorrer às eleições, em março, se tornou opositor. Mas sem ressentimentos, garante. Em entrevista ao GLOBO, ele comenta sobre o possível terceiro mandato do agora rival, faz mea culpa pelos resultados do ciclo de Paris e diz que para esta corrida eleitoral já havia decidido que teria uma mulher em sua chapa.
Yane, que declinou do convite de todos os postulantes ao cargo de presidente na eleição de 2020, conta que agora se sente preparada para o desafio e quer levar consigo mais mulheres para cargos de direção. Se for eleita ao lado de La Porta, será a primeira mulher em um cargo de tamanha importância na entidade.
Única exigência da chapa para a entrevista abaixo foi que ambos pudessem participar:
O que acharam do sinal verde dado pelo COB para a candidatura de Paulo Wanderley?
La Porta: Não tem como não dizer que o parecer do Conselho de Ética nos pegou de surpresa, por tudo o que foi escrito e falado anteriormente. Mas o assunto não se esgotou porque a legislação é clara, assim como o Ministério do Esporte tem parecer muito claro das consequências de um terceiro mandato. O Estatuto permite apenas uma recondução ao cargo e ela já ocorreu. E qualquer tentativa de explicar que o primeiro mandato foi tampão, não convence. Esperamos que a Assembleia dê a sua resposta na quinta-feira.
Pegou de surpresa? Wanderley seria barrado "dentro da sua casa"?
Yane: Wanderley não precisou deixar seu cargo como eu (ex-presidente da CACOB) e La Porta (vice-presidente) e pensamos sugerir ajustes porque não parece justo, né? Mas, sobre o parecer do Conselho de Ética, não sabemos como foram os votos e o teor das discussões. Mas não estamos direcionando nossa energia para este assunto. Nosso foco é com o que vamos entregar.
Se ele ganhar, pretendem impugnar o resultado?
La Porta: O compromisso que assumimos foi de não judicializar antes da eleição. Nossa equipe está atenta, analisa o parecer do Conselho de Ética e até quinta-feira nenhuma providência será tomada. Até porque temos muita confiança que a Assembleia dará essa resposta. Mas, depois, acho importante o posicionamento do Ministério do Esporte para que não se abra precedente perigoso.
Yane pode ser a primeira mulher na presidência. Está na hora de termos uma mulher com o poder de fato no COB?
Yane: É a hora e vai acontecer. Sou muito positiva, justamente porque confio no que fizemos até aqui. Nossa proposta é bem intencionada, honesta e merece esse voto de confiança que já sentimos que temos. Mostraremos que nós mulheres estamos aptas e merecemos estas oportunidades. Não estou na chapa pelo fato de ser mulher e sim porque estou preparada. Me formei em Educação Física, tenho curso avançado em gestão esportiva, sou pós-graduanda em gestão pública, tenho experiência à frente da Comissão de Atletas, sou Secretária Executiva de Esportes e puxa, que legal, sou mulher também.
Em 2020, Yane foi convidada para ser vice de todos os três candidatos: Paulo Wanderley, Rafael Westrupp e Hélio Meirelles Cardoso. Por que agora?
Yane: Foi pressão, mas não aceitei. Não me sentia pronta, achava que precisava de mais casco, calejar mais. E ter assumido a presidência da CACOB foi muito importante, mais quatro anos na gestão pública no Recife também. Ataquei todas as frentes do Esporte: participação, de rendimento, escolar, fui ganhando experiência até a Comissão de Atletas me lançar como o nome para representá-los. É a minha hora. É como se eu tivesse treinado para agora poder competir. Posso entrar nessa prova.
E as mulheres estão em ascensão..
Yane: Que momento a gente está vivendo, não? Mais mulheres no Time Brasil que foi a Paris, mais medalhas para as mulheres, medalhas de ouro somente com as mulheres... E vamos ter uma mulher na presidência do COB. Digo a La Porta que daqui a pouco a gente vai ter de abrir espaço para os homens.
Se eleitos, terão mais mulheres em cargos de diretoria?
La Porta: Uma das propostas, minha e do Wanderley, era criar a área da Mulher no Esporte e foi criada. O programa tem excelentes ideias, mas não concretizou ações efetivas. Hoje na diretoria do COB só tem uma mulher (área financeira). Agora vamos partir para a prática e nada melhor do que dar o exemplo. Teremos três mulheres na nossa diretoria, incluindo a vice-presidente. Cargos que de fato decidem. E faremos uma reformulação do organograma do COB, com auxílio da Deloitte (empresa de auditoria). Queremos acabar com essa monocultura esportiva, é precioso mais diversidade.
Se referem ao fato de que há muitos profissionais do judô no COB?
La Porta: Sim. Sempre brinco que do triatlo e do pentatlo moderno não tem muita gente para botar. Não há esse perigo. Queremos diversidade também na questão das modalidades e de ideias.
Mudarão os critérios para a distribuição da verba de Lei Agnelo Piva?
La Porta: Vamos mudar a distribuição que hoje é feita segundo performance, mas que vale para o ciclo inteiro. Nossa ideia é fazer ano a ano, de acordo com a performance do principal torneio anual. Os Jogos Sul-americanos precisam ser valorizados porque há modalidades que hoje não são realidades olímpicas. Se focar apenas no desempenho dos Jogos Olímpicos, essas modalidades nunca vão conseguir evoluir. Primeiro precisam evoluir na América do Sul. E o plus é que queremos estabelecer critérios, para distribuição dos recursos privados.
La Porta foi vice de Wanderley, em que momento passou a ser oposição? Algum ressentimento?
La Porta: Na hora que deixei o cargo para poder concorrer às eleições (em março). Esperei uma sinalização dele de apoio como seu sucessor, mas não aconteceu. E fui buscar o meu caminho. Não há ressentimento algum. Pessoal, não. Ele quer também (o mandato).
A chapa tem apoio de todos os 19 atletas votantes? Podem ter alguma surpresa?
Yane: Sim, temos. Estar na chapa foi o desejo da Comissão de Atletas. Represento esse grupo. Mas circulamos muito bem também entre as confederações. A Comissão entendeu que estava na hora de se envolver nesse nível de representatividade e responsabilidade. E está fechada com a gente. Não teremos surpresa.
Qual a principal reivindicação dos atletas?
Yane: São vários pleitos. Após o amadurecimento do grupo, a Comissão de Atletas precisa de uma estrutura organizacional que dê suporte aos atletas e de assessoramento jurídico independente. É preciso ainda ter estabelecido a quem esta comissão deve se reportar. Na prática isso não existe. E nossa proposta é que a vice-presidente seja esse elo direto, quem levará as demandas e que trará as soluções. Além disso, é preciso autonomia. Hoje, se a comissão quiser mandar qualquer e-mail, precisa ser endereçado à secretária de Wanderley, que depois o encaminha.
Como avalia o desempenho do Time Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris?
La Porta: O resultado não foi de todo ruim, mas o que nos preocupa é que paramos de evoluir. Vínhamos numa ascendente, estagnamos e há risco para Los Angeles. A atual gestão errou ao em 2020 mudar a área de Esportes. Foi uma ruptura, os comandantes mudaram. Não é culpa de quem assumiu. A dois anos dos Jogos Olímpicos, por maior qualificação que tenha, não há como ter o conhecimento no detalhe das 34 modalidades. O esporte se faz a longo prazo e era isso que estava sendo feito. Foi a principal causa para a estagnação.
Pretendem contratar o ex-diretor Jorge Bichara novamente?
La Porta: A esposa dele me mata... Ele está muito bem na CBV (Confederação Brasileira de Vôlei). Assumimos o compromisso de não tirar nenhum profissional de confederação sem que o presidente seja consultado antes e dê o seu aval.
Parte do resultado de Paris pode ser atribuído a La Porta, não?
La Porta: Claro, assumo a responsabilidade também, fiz parte. Tanto pelo lado bom quanto pelo ruim. Quando o COB anuncia 22 patrocínios no ciclo também. Por isso agora me candidatei para tentar mudar o que acho que não está certo.
Considera que o próximo ciclo será mais complicado para resultados, levando em consideração que muitos dos nossos medalhistas, "rostos antigos", podem não chegar a LA ou terem mais dificuldade de chegar ao pódio? Teve renovação?
La Porta: Não temos novos nomes surgindo no radar. Em Paris tínhamos as mesmas chances de medalha de Tóquio. Muitos atletas bateram na trave e podemos fazer um investimento mais assertivo nestes casos. Entendemos também que é preciso pensar em Los Angeles e em Brisbane. E precisa começar agora, reformando a área de desenvolvimento do COB que não está alinhada com o que a entidade precisa.
La Porta é crítico em relação a campanha de Paris, a mudança na área de Esportes, a distribuição e verba... Mas era vice do Wanderley. O que fez enquanto era vice?
La Porta: Em relação à saída do Bichara da diretoria de Esportes, fiz minha ponderação ao presidente de que era um erro mas fui voto vencido. Em várias reuniões do Conselho de Administração eu me posicionei contra os critérios adotados pela área de desenvolvimento (distribuição de verba). Mas fazia parte de uma diretoria, ainda mais uma diretoria toda vinda da CBJ, e nem sempre minha opinião era levada em consideração.
La Porta não teve voz ativa?
La Porta: Neste mandato, não. Principalmente após o episódio do Bichara. Mas, no primeiro mandato sim, tanto que fui chefe de missão nos três principais Jogos do ciclo.
Quantos votos terão na eleição?
Yane: Ih... Peraí que vou pegar a minha bola de cristal.