Ataques de Israel no Líbano destruíram metade do arsenal do Hezbollah, afirmam autoridades dos EUA
Armamento do movimento apoiado pelo Irã continua bastante amplo, porém; pedido de reabastecimento por meio de Teerã e Síria contribuiu para decisão de matar líder do grupo
Os recentes ataques aéreos de Israel no Líbano destruíram cerca de metade dos mísseis e foguetes que o movimento xiita libanês Hezbollah havia acumulado ao longo de mais de três décadas, desferindo um golpe nas capacidades do grupo político-militar, de acordo com autoridades seniores israelenses e americanas.
Mas o arsenal do grupo continua enorme, com dezenas de milhares de projéteis em todo o país, e grandes ofensivas podem sobrecarregar o sistema de defesa aérea israelense Domo de Ferro, observaram as autoridades.
O Hezbollah espalhou suas armas por todo o Líbano - o país está "salpicado" delas, afirmou uma autoridade israelense — e as tem usado desde outubro passado para disparar principalmente contra o norte de Israel.
O Estado judeu fez ataques contra o sul do Líbano, forçando dezenas de milhares de libaneses a fugir.
Mas os líderes israelenses decidiram, por volta de 17 de setembro, destruir o máximo possível do arsenal, para que os cerca de 60 mil israelenses que se deslocaram do norte de Israel por causa da troca de agressões diária pudessem retornar, explicaram duas autoridades israelenses.
A Força Aérea israelense iniciou ataques devastadores na semana seguinte.
Pedido de ajuda à Síria e Irã
O Hezbollah, com a ajuda do Irã, levou três décadas para construir a maior parte de seu estoque, estimado em 120 mil a 200 mil projéteis. Após os ataques iniciais, Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, pediu por meio do Irã e da Síria que reabastecessem o arsenal, disseram as autoridades israelenses e uma autoridade dos EUA. Isso contribuiu para a decisão de Israel de tentar matar Nasrallah.
Desde a morte de Nasrallah, na última sexta-feira, as autoridades libanesas atenderam às exigências de Israel para afastar os aviões iranianos que tentavam voar para Beirute, complicando os esforços do Hezbollah para obter armas adicionais rapidamente, de acordo com as autoridades americanas.
Na terça-feira, o Exército israelense disse que havia matado o comandante do Hezbollah responsável pela transferência de armas do Irã para o Líbano, Muhammad Jaafar Qasir, em um ataque aéreo em Beirute.
Autoridades dos EUA afirmam que os ataques do Hezbollah ao norte de Israel, que começaram um dia após o Hamas realizar seu ataque terrorista em 7 de outubro contra o sul de Israel, foram uma resposta à guerra de Israel na Faixa de Gaza.
Eles disseram que o Hezbollah poderia ter parado se o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e Yahya Sinwar, líder do Hamas, tivessem concordado com um cessar-fogo. Mas os EUA, o Catar e o Egito não conseguiram chegar a um acordo de trégua em Gaza, depois de muitas negociações ao longo deste ano.
Na noite de segunda-feira (madrugada no Oriente Médio), Israel iniciou operações terrestres no Líbano. As autoridades disseram que as tropas israelenses planejam destruir os esconderijos de mísseis e veículos de lançamento do Hezbollah. As duas autoridades israelenses disseram que pretendem continuar atacando o arsenal do Hezbollah e matando os comandantes do grupo enquanto houver impulso.
As autoridades da Casa Branca disseram que esperam que a incursão terrestre seja limitada, e o presidente Joe Biden fez apelos por um cessar-fogo de ambos os lados. Centenas de civis libaneses foram mortos em ataques israelenses, e 1 milhão de pessoas foram deslocadas.
— Estamos determinados a devolver nossos residentes do norte a suas casas em segurança — disse Netanyahu na terça-feira.
Desorientação interna
Apesar do considerável arsenal de mísseis e foguetes que o Hezbollah ainda mantém, seus combatentes não dispararam um grande número deles contra a região central de Israel.
Autoridades americanas dizem que um dos motivos é que uma série de ataques israelenses, que culminou na última sexta-feira com o ataque aéreo que matou Nasrallah nos arredores de Beirute, danificou seriamente a estrutura de comando e controle do grupo, deixando poucas pessoas de alto escalão para dar ordens aos combatentes de nível inferior.
O grupo também pode estar esperando por um sinal das autoridades iranianas, que ajudaram a construir o arsenal como um impedimento contra qualquer possível ataque israelense ao Irã, segundo as autoridades. Se o Hezbollah usar a maior parte do restante de seu arsenal e não puder reabastecê-lo, esse impedimento desaparecerá.
E o Hezbollah pode preferir que o próprio Irã retalie, com seu arsenal muito mais potente. Em abril, o Irã disparou mais de 300 drones e mísseis contra Israel em retaliação a um ataque mortal a um complexo diplomático iraniano na Síria. Israel, os EUA e as nações parceiras da região abateram quase todos eles.
Na noite de terça-feira no Oriente Médio, os militares iranianos dispararam mísseis balísticos contra Israel. Sirenes de ataque aéreo soaram em todo o país, e os moradores viram mísseis interceptadores de defesa voando pelos céus. A missão do Irã na ONU disse nas redes sociais que o ataque foi uma resposta aos "atos terroristas" de Israel que violaram a "soberania" do Irã.
Algumas autoridades israelenses e americanas disseram que achavam que Israel havia estabelecido com sucesso a dissuasão com o Irã por meio de um ataque que Israel realizou após a ofensiva de abril do Irã. Na tréplica, Israel danificou uma ou mais baterias antiaéreas S-300 que os militares iranianos haviam colocado ao redor da antiga cidade de Isfahan, segundo autoridades dos EUA.
Esse ataque, juntamente com o assassinato israelense em julho de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, enquanto ele estava em Teerã, mostrou que Israel poderia atacar no coração do Irã — e possivelmente matar líderes iranianos.
Futuro ainda incerto
Algumas autoridades dos EUA enfatizam que os altos escalões do Hezbollah foram prejudicados pela repentina campanha israelense. Sua liderança foi dizimada, não apenas pela morte de Nasrallah, mas também pelas explosões de pagers e outros ataques que mataram e feriram líderes de alto e médio escalão nas últimas três semanas.
Todo o comando de operações especiais do Hezbollah, conhecido como Força al-Radwan, foi eliminado no ataque aéreo de 20 de setembro que matou Ibrahim Aqil, efetivamente o chefe de operações militares do Hezbollah, em um subúrbio ao sul de Beirute, segundo autoridades americanas.
Na segunda-feira, Naim Qassem, o líder interino do Hezbollah após a morte de Nasrallah, disse que planos de contingência haviam sido implementados para garantir que comandantes alternativos pudessem assumir o comando caso algo acontecesse com os líderes do grupo.
A mais pesada onda recente de ataques aéreos israelenses atingiu 1.300 alvos em 23 de setembro, incluindo locais com mísseis de cruzeiro de longo alcance, foguetes pesados e drones, disse Daniel Hagari, porta-voz militar israelense.
Ainda assim, as autoridades dos EUA dizem que é uma questão em aberto se as operações de Israel podem ser transformadas em um ganho estratégico.
O tempo que Israel permanecerá no sul do Líbano, o grau de envolvimento do Irã em contra-ataques, o que o Hezbollah fará para responder e quais forças políticas assumirão influência em Beirute serão fatores que influenciarão o resultado a longo prazo.