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Morre Cid Moreira, a voz do telejornalismo brasileiro, aos 97 anos

Cid morreu nesta quinta-feira (3)

Cid Moreira - Acervo Grupo Globo

Morreu nesta quinta-feira (3), aos 97 anos, o jornalista, locutor e apresentador Cid Moreira, a voz do telejornalismo brasileiro.

Ele estava internado no Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, desde o dia 4 de setembro, quando deu entrada com insuficiência renal crônica.

Antes, o jornalista vinha tratando de uma pneumonia em casa. Segundo o g1, Cid morreu por volta das 8h desta quinta, de falência múltipla dos órgãos.

Ainda não há informações sobre o velório e enterro do jornalista.

Nascido em 29 de setembro de 1927, Cid Moreira, natural de Taubaté, em São Paulo, completou 97 anos no último domingo e comemorou a data com um vídeo nas redes sociais.

Confira:

 
 
 
 
 
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Uma publicação compartilhada por Cid Moreira (@ocidmoreira)

Na data, Cid compartilhou várias mensagens e homenagens. "Tanto carinho me dá muita alegria", escreveu o jornalista.

Carreira
Aos 17 anos, o menino que sonhava ser bancário ou contador se tornou locutor de rádio. Na época, desenhava mulheres nuas e vendia para comprar ingresso de filmes de faroeste no cinema.

Antes, carregou malas em estação de trem, vendeu frutas e verduras e foi boleiro em clube de tênis.

O jornalista iniciou a carreira no rádio em 1944 após ser descoberto por um amigo que o incentivou a fazer um teste de locução na Rádio Difusora de Taubaté.

Cid Moreira no Correio da Manhã - Foto: Arquivo Público Nacional

Nos anos seguintes, entre 1944 e 1949, ele narrou comerciais até se mudar para São Paulo, onde trabalhou na Rádio Bandeirantes e na Propago Publicidade.

Em 1951, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga.

Foi lá que, entre 1951 e 1956, começou a ter suas primeiras experiências na televisão, apresentando comerciais ao vivo em programas como “Além da Imaginação” e “Noite de Gala”, na TV Rio.

Sua estreia como locutor de noticiários aconteceu em 1963, no “Jornal de Vanguarda”, também na TV Rio.

Nos anos seguintes, trabalhou em várias emissoras, como Tupi, Globo, Excelsior e Continental, se tornando um rosto conhecido na televisão.

Cid fez história no Jornal Nacional
Em 1969, Cid Moreira voltou à Globo para substituir Luís Jatobá no “Jornal da Globo”. No mesmo ano, foi escalado para a equipe do então recém-lançado “Jornal Nacional”, o 1º telejornal transmitido em rede no Brasil.

Jornal Nacional: 20 anos, em 1 de setembro de 1989. Na imagem: Cid Moreira, Boni, Alice Maria, Alexandre Garcia, Roberto Marinho, Joelmir Beting, Armando Nogueira, Lillian Witte Fibe, Sergio Chapelin e Paulo Henrique Amorim | Foto: Acervo/Grupo Globo

A estreia ocorreu em setembro de 1969, ao lado de Hilton Gomes. Dois anos depois, Cid iniciou parceria com Sérgio Chapelin, com quem dividiu bancada.

Em 1996, uma reformulação do programa trouxe novos apresentadores, com William Bonner e Lillian Witte Fibe, ficando Cid Moreira dedicado à leitura de editoriais.

Cid Moreira e Sérgio Chapelin apresentando Jornal Nacional | Foto: Acervo/TV Globo

Ao todo, Cid Moreira apresentou o Jornal Nacional cerca de 8 mil vezes, durante 26 anos. Sua voz e o diário “boa noite” marcaram a televisão brasileira.

Jornalista virou youtuber aos 92 anos
Já imortalizado na história do telejornalismo brasileiro, Cid Moreira quis encarar um novo desafio aos 92 anos. Virou youtuber e arregimentou, nos últimos cinco anos, mais de 322 mil seguidores na plataforma.

Numa das primeiras postagens no canal "Ocidmoreira", levada ao ar em 1º de setembro de 2019, o apresentador, locutor e jornalista aparece ao lado da mulher, Fátima Sampaio, na cozinha de casa e conta que virou vegetariano porque, de tanto comer carne de porco, "ganhou muitos furúnculos".

Episódios do dia a dia como esse, debates sobre saúde e leituras de salmos e poesias compuseram o acervo de Cid na plataforma, na qual se mostrava leve e bem-humorado.



"O humor é necessário, né? Séria era a minha imagem na TV. Agora mudei isso. Brinco nas entrevistas e todo mundo gosta. Estou me divertindo", disse ao Globo o jornalista, à época do lançamento do canal.

"Poderia ficar olhando para o teto, mas não quis. Trabalho desde garotinho. Meu pai era gerente de um clube, mas fazia de tudo, até varrer o chão. Eu tinha uns 8 ou 9 anos. Ele me pedia ajuda e eu ia, sempre pensando em produzir e faturar algo. Não sei ficar parado, mas não imaginei que, quase aos 92 anos, estaria aqui. Vou tocando. Será um gran finale".

Cid Moreira apresentou Jornal Nacional de bermuda
Cid Moreira contou certa vez que sonhava frequentemente que chegava atrasado para apresentar o Jornal Nacional. Em outro pesadelo, o texto com as notícias que lia ao vivo desaparecia.

As lembranças, que permaneciam na memória do jornalista e locutor, foram contadas em entrevista ao Globo quando completou 93 anos e tema do documentário "Boa Noite". No longa, Cid relata a própria trajetória.

Em entrevista ao Globo, Cid confessou ter apresentado o JN de bermuda.

"Estava descendo de Itaipava, quando desabou a chuva. Vestia short de jogar tênis e ia trocar quando chegasse. Mas só deu tempo de colocar camisa, gravata e paletó. Entrei no ar um segundo após dar nó na gravata. Depois disso, deixei calça e até cueca no armário do trabalho", relatou.

Confira o trailer oficial do documentário "Boa Noite"

Cid Moreira fez sucesso com Mr.M viralizou bordão 'Jabulani'
Paralelamente ao JN, Cid também participou do "Fantástico" desde sua estreia, em 1973, revezando com outros apresentadores.

Em 1999, sua narração do famoso quadro Mr. M se tornou um grande sucesso e mais uma marca do jornalista.

Já em 2010, Jabulani deixou de ser apenas o nome da bola oficial do Mundial da África do Sul e caiu na boca do povo graças ao narrador.

O termo virou febre graças à vinheta gravada pela voz inconfundível de Cid Moreira para as reportagens do "Fantástico" e as transmissões da Globo. O sucesso foi imediato.

"Quando me chamaram para gravar, eu nem sabia o que era Jabulani. Não imaginava que fosse repercutir tanto", contou Cid, bem-humorado, numa entrevista da época.

Um dos vídeos disponíveis na época no YouTube alcançou mais de 119 mil acessos em apenas cinco dias na rede.

Na ocasião, Cid afirmou não acreditar que a "Jabulaaaani" iria ultrapassar a popularidade do famoso bordão "Mister M", mas isso não o impediu de curtir o sucesso da nova vinheta.

Mister M e Cid Moreira | Foto: Acervo/Grupo Globo

Lula homenageia Cid Moreira
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva homenageou o ex-apresentador do Jornal Nacional Cid Moreira, que morreu nesta quinta-feira (3), aos 97 anos, em seu perfil no BlueSky.

O presidente disse que o legado de Moreira no jornalismo e na televisão "será eternamente lembrado". Lula também mencionou as gravações de trechos da Bíblia na voz de Cid Moreira, que foram populares entre pessoas religiosas anos atrás.

Com tristeza, o Brasil se despede hoje de uma das personalidades mais emblemáticas da história do nosso jornalismo e televisão, com o falecimento de Cid Moreira aos 97 anos. +

— Lula (@lula.com.br) October 3, 2024 at 10:46 AM

Outras personalidades lamentam morte
No Instagram, personalidades lamentaram a morte do jornalista, nesta manhã.

A apresentadora Ana Maria Braga destacou que a voz e o talento de Cid marcaram gerações e transformaram o jornalismo brasileiro.

"Agradecemos por sua dedicação e por nos ensinar a importância da verdade. Sua contribuição será eternamente lembrada. Descanse em paz", escreveu Ana Maria.

O também apresentador Celso Portiolli usou as redes sociais para se despedir de Cid Moreira e enfatizou que sua voz e o legado ficarão eternizados.

"Muito mais do que um ícone do Jornal Nacional, ele soube se reinventar e levar sua sabedoria e carinho ao público, seja nas redes sociais ou através da gravação da Bíblia, um trabalho que tocou e inspirou milhões de pessoas", declarou Celso.

A jornalista Fátima Bernardes escreveu que Cid Moreira marcou uma época e não será esquecido.

"Quando eu comecei a assistir ao Jornal Nacional, ele estava lá. Quando eu me tornei jornalista, ele estava lá. A primeira vez em que entrei ao vivo no #JN no meio de uma enchente, foi ele que chamou o meu nome: 'De lá fala ao vivo a repórter Fátima Bernardes'. A voz dele naquela bancada, era uma grife, um selo de qualidade", lembrou Fátima.