CASO GISÈLE PELICOT

Acusado de estuprar Gisèle Pelicot diz que não lembra de nada porque também foi drogado

Dominique Pelicot está sendo julgado desde 2 de setembro, com outros 50 homens, por drogar secretamente sua então esposa entre 2011 e 2020 para estuprá-la com dezenas de estranhos

Gisèle Pelicot, esposa de Dominique Pelicot - Christophe Simon/AFP

Jean T., acusado de estuprar Gisèle Pelicot na França, garantiu nesta quinta-feira que não se lembra de nada e que, assim como a vítima, teria sido drogado pelo marido da mulher de 71 anos, Dominique Pelicot.

"O senhor Pelicot me drogou porque me ofereceu algo para beber", disse o ex-carpinteiro de 52 anos no Tribunal de Avignon, no sul da França.

"Por que não apresentou queixa se acredita que estava drogado?", questionou o tribunal. "Foi um encontro ruim. Você esquece tudo e acabou", respondeu ele.

Dominique Pelicot está sendo julgado desde 2 de setembro, com outros 50 homens, por drogar secretamente sua então esposa entre 2011 e 2020 para estuprá-la com dezenas de estranhos.

"Bill", pseudônimo de Jean T. no site coco.fr onde conversou com o marido de Gisèle, é um dos poucos acusados que esteve na casa dos Pelicot em Mazan, no sul da França, durante o dia.

"Ele nunca me disse que a mulher estava dormindo, drogada e que eu ia estuprá-la", defendeu-se nesta quinta-feira, posição que o principal réu rapidamente rejeitou: "Todos sabiam", reiterou.

Nas quase 10 cenas gravadas pelo marido no dia 21 de setembro de 2018, Gisèle Pelicot aparece roncando. Em uma delas, Jean T. levanta o polegar em sinal de satisfação, na direção da câmera.

Perante o tribunal, o acusado garantiu que desconhecia que estavam sendo gravados e que soube quando os investigadores lhe mostraram os vídeos após sua prisão.

Embora durante o julgamento tenha garantido não se lembrar de nada, conseguiu descrever detalhadamente o 'modus operandi' do marido: estacionar longe, entrar em casa pelo pátio e despir-se na cozinha.

Questionado se pediu o consentimento de Gisèle Pelicot, respondeu que "nas relações libertinas em geral são os homens que falam", "a mulher sempre espera".

Suas declarações suscitaram um olhar de desdém por parte da vítima que, desde o início do julgamento, afirma que nunca deu seu consentimento ao marido ou a qualquer dos acusados e que desconhecia os fatos.