GUERRA

Israel diz ter atacado a sede de inteligência do Hezbollah em Beirute

Aviões de guerra israelenses atingiram alvos pertencentes ao quartel-general da organização político-militar libanesa

Hezbollah bombardeia alvos israelenses - Rabih Daher/AFP

O Exército de Israel alegou ter atacado a sede da Inteligência do grupo xiita Hezbollah nesta quinta-feira. Aviões de guerra israelenses atingiram alvos pertencentes ao quartel-general da organização político-militar libanesa em Beirute, segundo comunicado do Exército. De acordo com o anúncio, a sede lidera as atividades da organização contra o Estado judeu. O ataque foi feito enquanto as tropas israelenses combatiam membros da organização na região da fronteira e bombardeios ocorriam em redutos do grupo por todo o país.

Israel anunciou nesta semana que suas tropas começaram “incursões terrestres” em partes do sul do Líbano, uma fortaleza do Hezbollah, após dias de intensos bombardeios em áreas onde o grupo exerce influência. O bombardeio já matou mais de 1.900 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano, e forçou centenas de milhares a abandonarem suas casas, em um país que já enfrenta uma crise econômica e política. No domingo, o premier libanês estimou que pelo menos 1 milhão de pessoas já foram deslocadas pelo conflito.

O Estado judeu, em guerra em Gaza desde o ataque do grupo terrorista Hamas em 7 de outubro, afirmou que redirecionou seu foco para garantir a segurança de sua fronteira norte e assegurar o retorno seguro de mais de 60.000 pessoas deslocadas pelos ataques do Hezbollah ao longo do último ano. A organização político-militar libanesa realizou bombardeios quase diários contra o território israelense em alegado sinal de solidariedade aos palestinos de Gaza, indicando que interromperia os ataques quando houvesse um acordo de cessar-fogo.

A agência libanesa National News informou três ataques aéreos nos subúrbios ao sul de Beirute, e uma fonte próxima ao Hezbollah disse à AFP que o alvo era um prédio evacuado que abrigava o escritório de relações com a mídia do grupo. Israel pediu aos libaneses que se retirassem de mais de 20 regiões do país “para sua própria segurança”.

Mísseis iranianos lançados contra Tel Aviv | foto: Jack Guez/AFP

O Hezbollah afirmou ter repelido uma tentativa das tropas israelenses de avançar no Portão de Fátima, na fronteira. O grupo também disse ter acionado dois explosivos contra as forças israelenses em avanço, enquanto mantinha o disparo de foguetes transfronteiriços. As forças israelenses, por sua vez, afirmaram que um ataque noturno matou 15 membros do Hezbollah em Bint Jbeil, área danificada durante a última guerra de Israel com o grupo libanês, em 2006.

Mais tarde, o Exército libanês informou que um de seus soldados foi morto quando “o inimigo israelense alvejou um posto militar na área de Bint Jbeil” — a terceira morte entre suas tropas na atual escalada — provocando fogo retaliatório. Um oficial militar libanês disse que foi a primeira resposta do Exército ao fogo israelense desde outubro passado. As Forças Armadas do Líbano não participam das hostilidades entre Israel e Hezbollah e são frequentemente apontadas como uma força com capacidade inferior ao do grupo xiita.

Israel realizou anteriormente um ataque aéreo mortal no centro de Beirute, atingindo uma instalação de resgate de serviços de emergência operada pelo Hezbollah, matando sete trabalhadores. Hassan Ammar, de 82 anos, que estava hospedado no edifício de vários andares cujas paredes foram parcialmente destruídas pelo ataque, após fugir do sul do Líbano, disse: “Somos civis pacíficos em nossas casas”.

O Exército israelense ainda não comentou sobre o ataque, mas disse ter atingido cerca de 200 alvos do Hezbollah “em território libanês”. De acordo com o ministro da Saúde do Líbano, Firass Abiad, mais de 40 socorristas e bombeiros foram mortos por disparos israelenses em três dias.

Mísseis do Irã
Os últimos ataques ocorreram após o Irã, apoiador do Hezbollah, ter lançado seu segundo ataque direto com mísseis contra Israel, levando o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a alertar que Teerã pagaria o preço. Enquanto Israel avalia a retaliação pelo ataque, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse estar “totalmente solidário” ao aliado, mas descartou o apoio a um ataque contra os instalações nucleares do Irã. Teerã, que arma e financia o Hezbollah, disse que aumentaria sua resposta caso Israel contra-atacasse.

Israel interceptou a maioria dos 200 mísseis lançados pelo Irã. Na Cisjordânia ocupada pelo Estado judeu, um palestino foi morto por estilhaços. O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, alertou que “aqueles que atacam o Estado de Israel pagam um preço alto”, enquanto o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, advertiu sobre uma resposta “mais forte”.

As operações terrestres e ataques de Israel seguem-se à morte, em um grande bombardeio no sul de Beirute, do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e outros comandantes graduados. A Guarda Revolucionária do Irã disse que seus mísseis foram disparados em retaliação pela morte de Nasrallah e de um general da força Quds da Guarda, assim como pela morte em julho do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã.

Após o Exército de Israel declarar que estava lançando operações terrestres no sul do Líbano, autoridades israelenses relataram a primeira morte de um soldado na guerra com o Hezbollah, número que mais tarde subiu para oito mortos. O Ministério da Saúde do Líbano disse que 46 pessoas foram mortas e outras 85 ficaram feridas por ataques israelenses nas últimas 24 horas.

Bombardeio israelense no sul do Líbano | foto: Rabih Daher/AFP

'Ciclo repugnante'
O impacto da guerra também foi sentido na Síria, onde o monitor Observatório Sírio de Direitos Humanos disse que um ataque israelense em Damasco matou quatro pessoas, incluindo Hassan Jaafar al-Qasir, genro de Nasrallah. A mídia iraniana disse que um “conselheiro” militar da Guarda Revolucionária na Síria, Majid Divani, morreu na quinta-feira devido aos ferimentos sofridos em um ataque israelense na capital do país no início desta semana.

O chefe da ONU, António Guterres, pediu o fim do “repugnante ciclo de escalada” no Oriente Médio, e o grupo das sete nações mais ricas (G7) disse que uma solução diplomática ainda é “possível”. Meses de apelos semelhantes e esforços de mediação até agora falharam em trazer uma trégua em Gaza.