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Gangue venezuelana Tren de Aragua, ameaça ou estratégia eleitoral nos EUA?

Em julho, o governo americano incluiu a gangue na lista de organizações criminosas transnacionais

Héctor Guerrero Flores, o Niño Guerrero, líder do Trem de Arágua - Reprodução/ InSight Crime

Tanto na fronteira sul dos Estados Unidos, principal porta de entrada dos migrantes, como em muitas cidades, as autoridades americanas estão em alerta para a presença da perigosa gangue venezuelana Tren de Aragua (TdA), que se tornou uma arma dos republicanos contra a imigração.

Este violento grupo "transnacional de crime", como as autoridades dos EUA o classificam, está ligado à extorsão, aos homicídios, ao tráfico de drogas em pequena escala e, recentemente, ao tráfico sexual e de migrantes.

Amparada pela chegada de centenas de milhares de solicitantes de asilo venezuelanos durante o governo do democrata Joe Biden, a gangue venezuelana é alvo do republicano Donald Trump no seu discurso anti-imigração para as eleições de 5 de novembro.

Trump denuncia a chegada ao país de "criminosos bárbaros" e "assassinos e terroristas" procedentes das prisões e hospitais psiquiátricos dos seus países.

Assim como aconteceu com o boato de que os haitianos "comiam animais de estimação" na cidade de Springfield, Ohio, Trump também espalhou informações falsas sobre o suposto controle por gangues "violentas" de edifícios na cidade de Aurora, Colorado (centro), onde se encontra uma importante comunidade venezuelana.

O prefeito, Mike Coffman, negou que a TdA tenha "assumido o controle da cidade". A polícia, que prendeu oito dos dez indivíduos identificados pertencentes à gangue venezuelana, reconheceu que há "membros da TdA operando em Aurora" e que a gangue está "ligada a crimes na área", mas são casos "isolados".

"Há membros da TdA aqui, mas eles não são fortes", disse à AFP Mike Vigil, ex-chefe de operações internacionais da DEA, a agência antidrogas dos EUA, minimizando sua presença.

"Embora isso não signifique que não seja necessário monitorá-los", alertou.

"É puro teatro político", afirmou, acusando Trump de usar o que aconteceu em 1980, quando o então líder da revolução cubana, Fidel Castro, introduziu milhares de criminosos entre as 125 mil pessoas que fugiram da ilha para desacreditar os exilados, que ficaram conhecidos como "marielitos" devido ao nome do porto de Mariel de onde saíram de Cuba.

Em julho, o governo americano incluiu a gangue na lista de organizações criminosas transnacionais, que já inclui outras como a Mara Salvatrucha (MS-13) de El Salvador.

Também ofereceu 12 milhões de dólares (65,8 milhões de reais na cotação atual) pela captura de seus principais líderes, entre eles, Héctor Rusthenford Guerrero, conhecido como "Niño Guerrero" e que se acredita estar escondido na Colômbia.

Em meados de setembro, o governo do Texas, liderado pelo republicano Greg Abbot, próximo de Trump, classificou a TdA como uma "organização terrorista estrangeira".

Controles reforçados
Além dos "rigorosos controles de segurança nacional e de segurança pública" a que os imigrantes são submetidos na fronteira, o Departamento de Segurança Nacional aplica "medidas de controle reforçadas" para identificar membros conhecidos ou suspeitos de pertencerem a gangues como a venezuelana, disse o departamento à AFP.

Segundo dados da Alfândega e Patrulha de Fronteiras, em 2023 41 membros da TdA foram detidos; este ano foram 23.

Este grupo criminoso, que teria cerca de 5.000 membros, espalha os seus tentáculos pela América do Sul e América Central, onde chegaram à sombra do êxodo de 7,8 milhões de venezuelanos que na última década fugiram da crise econômica, da insegurança e da perseguição política na Venezuela.

"Embora o grupo tenha presença significativa no Chile, Peru e Colômbia, muitas de suas células levam nomes diferentes sem referência à organização principal", lembra a ONG americana Insight Crime, que analisa a criminalidade na região.

"Isso pode ajudar o Tren de Aragua a passar despercebido nos países que enfrentam a gangue", acrescenta.

Trump refere-se regularmente a assassinatos particularmente chocantes cometidos por imigrantes que chegaram ilegalmente ao país, mas nem as estatísticas policiais nem os estudos sustentam tais afirmações.

Em Nova York, que acolheu mais de 200 mil imigrantes desde a primavera de 2022, os homicídios e crimes caíram pelo oitavo mês consecutivo, segundo dados de setembro.