opinião

O descompasso das siglas

Não é de hoje que se percebe uma aliança entre partidos políticos ineficientes, uma esquerda com pouco sentido do real e uma direita recheada de disfuncionalidade. Tudo isso contribui para fragilizar questões ligadas diretamente à democracia. 

Na verdade, nossa preocupação deve ser com a crise de valores que avassala as sociedades democráticas e não tanto com o futuro das organizações políticas. 

O embate tem provocado a celeuma se é possível afirmar que caminhamos para o fim dos partidos políticos. Na verdade, parece-nos que o que vem acabando é o controle exclusivo dos partidos com relação ao espaço público. 

Ressaltando que uma coisa é se perceber que sindicatos e partidos políticos precisam de renovação, outra coisa são as conquistas sociais e consequentemente a participação do cidadão sem necessariamente depender dos dois.

As críticas destrutivas com relação aos partidos e sindicatos existem certa parcela de razão, entretanto, não nos esqueçamos de que há também desconhecimento das funções de cada um. 

Mesmo assim, cremos ser claro que instituições como os partidos políticos, exercem o papel de articulação do jogo político sem a participação de mediador. Sendo melhor ou não, o exercício democrático, salvo melhor juízo, não aparenta ser praticável sem instituições que possam realizar o papel de filtrar. 

Embora nem sempre os partidos exerçam sua função em tentar assegurar que o indivíduo não fique disperso na sociedade. Na opinião de Bernard Manin, a transição de uma democracia partidária para uma de audiência provocaria a diminuição da soberania popular. 

O cidadão ao votar em um partido, estaria creditando sua escolha a um programa ideológico, não expressando sua confiança numa pessoa, algo “natural” em governos representativos, patrocinando democracias plebiscitárias, onde a imagem do candidato camufla suas práticas que serão exercidas se for eleito.

A rigor, os partidos se tornam necessários para esclarecer as propostas que se encontram a disposição do povo. É por conta deles que existem cidadãos que procuram escolher candidatura amparada em programas políticos. 

Não esquecendo, que uma das ferrenhas críticas lançadas contra os partidos políticos é de que se tornam instrumentos que reforçam o poder dos políticos. Não foi debalde a afirmação Edmund Burke, político do século XVIII, quando afirmou que se os membros do Parlamento não estivessem vinculados a algum partido, representaria melhor seus eleitores.

Será?


* Cientista político.

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