Argentina

Milei é acusado de plagiar diálogo de série de TV em discurso na ONU

Fala do presidente argentino na Assembleia Geral, na semana retrasada, é muito similar a um monólogo do ator Martin Sheen na série 'The West Wing'

O presidente argentino Javier Milei - Juan Mabromata / AFP

Em meio a problemas com a economia, o aumento da taxa de pobreza e a queda em sua aprovação, o presidente da Argentina, Javier Milei, está sendo acusado de copiar um monólogo de uma série política americana e usá-lo em seu discurso na Assembleia Geral da ONU.

A co-protagonista da polêmica é a série “The West Wing”, que gira em torno dos bastidores do poder nos Estados Unidos, em especial o episódio 15 da quarta temporada da produção, quando o presidente americano, interpretado por Martin Sheen, conversa com seus assessores. As semelhanças entre o diálogo e a fala de Milei são difíceis de ignorar.

— Acreditamos na defesa da vida de todos; acreditamos na defesa do patrimônio de todos; acreditamos na liberdade de expressão para todos; acreditamos na liberdade de culto para todos; acreditamos no livre comércio para todos e acreditamos num governo limitado, para todos eles — disse Milei. — E uma vez que nestes tempos o que acontece num país afeta rapidamente outros, acreditamos que todos os povos devem viver livres da tirania e da opressão, quer esta assuma a forma de opressão política, escravidão econômica ou fanatismo religioso. Essa ideia fundamental não deve permanecer em meras palavras; Tem que ser apoiada em fatos, diplomática, econômica e materialmente, através da força conjunta de todos os países que defendem a liberdade.

Martin Sheen, ou melhor, o presidente Josiah “Jed” Bartlet, seguiu uma linha semelhante.

— Somos a favor da liberdade de expressão em todos os lugares. Somos a favor da liberdade religiosa em todos os lugares. Somos a favor da liberdade de aprender... para todos. E como em nossa época uma bomba pode ser construída no seu país e trazida para o meu, o que acontece no seu país é problema meu — diz no monólogo. — É por isso que defendemos a libertação da tirania, em todos os lugares, seja sob o pretexto de opressão política, Toby [assessor do personagem], ou de escravidão econômica, Josh [assessor do personagem], ou de fanatismo religioso, C.J. [assessor do personagem]. Essa ideia fundamental não pode ser enfrentada simplesmente com o nosso apoio. Devemos enfrentá-lo com nossa força. Diplomaticamente, economicamente e materialmente.

O discurso teria sido escrito pelo conselheiro e braço direito de Milei, Santiago Caputo, um fã confesso de “The West Wing” — em reportagem de agosto, o jornal La Nacion afirma que ele viu a série completa “entre sete e nove vezes”, e teria imposto a pessoas que queiram trabalhar com ele que também assistam o quanto antes.

— Para ele, tudo que diz respeito à política está ali — disse ao La Nación uma fonte próxima ao assessor do presidente argentino.

Alguns analistas ressaltaram a ironia do aparente plágio: afinal, dizem que o presidente Bartlet, do Partido Democrata, é um político conciliador, enquanto Milei firmou sua identidade política no enfrentamento.

Milei não se pronunciou sobre as acusações, tampouco os produtores de “The West Wing”, mas a acusação de plágio contra o líder argentino não foi a primeira.

Em 2022, o cientista mexicano Salvador Galindo Uribarri acusou o líbertário de copiar trechos inteiros de um artigo que escreveu com dois colegas e usá-los no livro “Pandenomics”, de 2020. O caso corre na Justiça do México.

Em maio, surgiu outra denúncia, agora relacionada ao mais recente livro de MIlei, “Capitalismo, Socialismo e a Armadilha Neoclássica”, lançado durante um show em uma conhecida casa de espetáculos em Buenos Aires.

De acordo com a revista Notícias, a obra copiou trechos de um texto de dois pesquisadores chilenos, publicado em 2000, chamado "Demanda por dinheiro: teoria, evidências, resultados", e de um artigo de 2007 do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica argentino, “Teorias Econômicas sobre o Mercado de Trabalho II: Neoclássicos e Novos Keynesianos”.

Na ocasião, o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, negou o plágio, e disse que tudo “estava previsto na lei de propriedade intelectual”.