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Bruno Mars esbanja carisma, flerta em português e não deixa público descansar em shows no Brasil

Em temporada de 15 apresentações no país, cantor mantém o foco na dança, no canto e no charme, com direito a versão de hit do Raça Negra

Bruno Mars em show em São Paulo - Daniel Ramos/Divulgação

Esqueça o monumental palco de plataformas elevadas e projeções exibido por Taylor Swift. Ou as pulseiras brilhantes copiadas à exaustão após serem lançadas pelo Coldplay. Labaredas ao redor de uma passarela, como fez The Weeknd? Nadinha. Bruno Mars chegou ao Brasil, para uma temporada de 15 shows, trazendo um palco mais modesto, embora elegantemente iluminado, para manter o foco das apresentações na dança, no canto e no charme.

Por enquanto, o havaiano fez, em São Paulo, três das apresentações previstas para a temporada que acaba em novembro. O primeiro show, para um seleto grupo de pouco mais de 1.500 fãs sorteados e alguns convidados, arrecadou R$ 1 milhão para a população afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Além do pocket show, Bruno já se apresentou duas vezes no Morumbis, onde estará na próxima terça-feira (8), dia de seu aniversário.

Depois, ainda volta ao estádio paulista nos dias 9, 12 e 13 deste mês, antes de seguir com a turnê para Rio (16, 19 e 20, no Engenhão), Brasília (26 e 27, no Mané Garrincha), Curitiba (31 e 1º/11, no Couto Pereira) e Belo Horizonte (5/11, no Mineirão).

Os shows, até aqui e provavelmente ao longo de toda a sua passagem pelo Brasil, repetem o modelo que foi motivo de louvação no The Town, festival paulistano dos mesmos criadores do Rock in Rio, no ano passado. Os segredos estão nas boas canções, banda afiada, dança envolvente e o carisma inegável de Bruno.

A apresentação começa com o pop-ostentação de levada funk e retrô “24K Magic” e logo parte para as dançantes “Finesse” e “Treasure”, todas lançadas há oito anos. O estádio logo se torna uma pista de discoteca com o público sacolejando de um lado a outro na levada R&B.

Em alta conexão com o artista, o público só ignora um pedido de Bruno. Quando ele sugere “quem sabe vocês poderiam guardar os celulares?”, até é atendido por parte da plateia , mas logo os aparelhos ressurgem gradativamente.

Mas ele não se importa, dá o toque e logo volta às canções buscando se aproximar ainda mais dos fãs locais. A faixa “Billionaire”, com seu aroma de reggae, ganha algumas palavras em português, “dinheiro, dinheiro, muito dinheiro”, no ritmo da música. Na sensual “Versace on the floor”, o verso “let’s just kiss” vira “let’s just beijar”.

E, claro, Bruno Mars não abre mão do jogo de cena que fez sucesso no The Town (e em seus shows mundo agora), quando ele finge ligar para uma moça e se apresenta: “It’s me, Bruninho”, para logo descambar para um “eu quero você, gostosa”. Mesmo que o gracejo tenha sido visto milhões de vezes nas redes sociais, a plateia ainda ri e grava cada segundo.

Ele também retoma a graça de incluir trecho de um hit nacional no show. Dessa vez o megasucesso “Cheia de Manias”, do Raça Negra, surge ao intervalo do solo do pianista — no The Town a surpresa ficou com a inescapável “Evidências”. A plateia, que já aguardava pelo momento, não economizou ao cantar refrão: “então me ajude a segurar, essa barra que é gostar de você”.

Mesmo com todas essas graças, o ponto alto da noite ainda é o momento em que Bruno senta-se, sozinho, ao piano. Portando uma voz clara e potente, ele passa por algumas das canções compostas por ele para outros artistas. Ele canta “Young, Wild and Free”, parceria com Snoop Dogg e Wiz Khalifa; ”Nothin' on You”, fruto com o rapper B.o.B; “Leave the door opened”, do projeto Silk Sonic; e a recém-lançada “Die With a Smile”, fruto de uma parceria com Lady Gaga — e já cantada a plenos pulmões pela plateia.

Discípulo de Michael Jackson, Bruno aposta em passos de danças coordenados com seus músicos e backing vocals e breves solos de guitarra para fazer a ponte entre as quase 20 canções que fazem parte do repertório.

A apresentação inteira figura como um baile coordenado para que não se tenha um momento de pausa ou dispersão.

O único porém fica por conta da qualidade dos telões. Em tempo de imagens em alta definição, eles poderiam ser mais dinâmicos para ajudar os fãs mais afastados do palco, nas arquibancadas e pista comum, a terem uma melhor experiência.

E, quem sabe, ver um close do rosto de Bruninho. Mas, mesmo sem as tecnologias adotadas por outros grandes nomes internacionais, o espetáculo de Bruno Mars faz jus às arenas que ocupa. Tudo centrado numa única figura, com fôlego invejável.