GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Primeiro voo com 229 resgatados do Líbano chega a São Paulo

O voo partiu de Beirute, no sábado, trazendo 229 repatriados, sendo 219 adultos, 10 crianças de colo e três animais de estimação - além de duas cidadãs uruguaias

Pessoas e equipes de resgate se reúnem perto dos escombros fumegantes de um prédio destruído em um ataque aéreo israelense no bairro de Haret Hreik, nos subúrbios ao sul de Beirute - Ibrahim Amro/AFP

O primeiro avião enviado pela FAB para resgatar brasileiros no Líbano pousou na manhã deste domingo, 6 na Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos. O voo partiu de Beirute, no sábado, trazendo 229 repatriados, sendo 219 adultos, 10 crianças de colo e três animais de estimação - além de duas cidadãs uruguaias, que também estavam a bordo a pedido de Montevidéu.

Fayze Samir, de 67 anos, respirou aliviada ao desembarcar. "Faz um mês que ninguém dorme direito", disse. "Você vê os aviões em cima da gente, quase sente a casa cair. Os vizinhos não têm sossego. Nem de noite, nem de dia."

A jovem Nessryn Khalaf, de 28 anos, viveu a maior parte da vida no Líbano, para onde se mudou com a família aos 8 anos. Vivendo em Beirute, ela relutou em deixar a capital. "Eu não queria sair de casa, porque não tinha para onde ir", disse.

"No fim, a gente saiu correndo. Meu pai teve de carregar a minha avó, que não consegue mais andar. A gente entrou no carro e foi. Dois minutos depois, eles bombardearam o meu bairro." Nessryn conta que o pai ficou em Beirute para cuidar da avó.

A cearense Karla Araújo Cardoso estava visivelmente traumatizada no desembarque. "O barulho da turbina do avião parece o barulho da bomba antes de cair", disse. Casada com um libanês, ela foi morar em Beirute em agosto de 2023, em busca de tratamento para o caçula, que tem autismo, e uma escola melhor para o mais velho "Há uns dois dias, teve um bombardeio muito forte. Ficamos com medo. E aí eu disse: quero ir embora, eu não vou ficar aqui", conta Karla, que estava a caminho de Fortaleza.

Operação
O voo de domingo foi o primeiro da Operação Raízes do Cedro, do governo federal, que pretende resgatar cerca de 500 cidadãos por semana do Líbano, que tem a maior comunidade de brasileiros do Oriente Médio, com cerca de 20 mil pessoas - 3 mil manifestaram interesse na repatriação, segundo o Itamaraty.

Cerca de 1,2 milhão de pessoas deixaram o Líbano no último ano, a maioria nas últimas duas semanas, segundo o alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi. Ele descreveu a escala do deslocamento como enorme para um país de 5,5 milhões de habitantes.

A fuga em massa de estrangeiros continua. O Reino Unido já organizou quatro voos de resgate e espera retirar 2 mil britânicos do Líbano. A China mandou uma parte de seus cidadãos para o Chipre de navio, e outra voou para Pequim em voo fretado. Um avião da Força Aérea alemã retirou 110 pessoas de Beirute na semana passada. A França enviou um navio porta-helicópteros para a retirada de franceses.

Lula
Os brasileiros foram recebidos no domingo em Guarulhos pelo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo ministro da Defesa, José Múcio, e pelo chanceler, Mauro Vieira. "Temos uma posição muito dura contra o ato do Hamas. Mas temos uma posição muito dura contra o governo de Israel, que mata civis e crianças sem nenhum respeito à vida humana", disse Lula.