Irmãs Dulce e Adélia: unidas pela dedicação irretocável à vida religiosa
"Anjo bom da Bahia", Irmã Dulce foi santificada há exatos cinco anos; a pernambucana Irmã Adélia busca mesmo reconhecimento
Outubro é uma época especial para os cristãos brasileiros. No dia 12, comemora-se o feriado nacional em homenagem à padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Mas, há cinco anos, a data posterior também ganhou um significado especial, com o aniversário de santificação de Irmã Dulce, a primeira santa nascida no Brasil. Posto que, em breve, pode ganhar a companhia de uma pernambucana que faleceu há exatamente 11 anos: a Irmã Adélia. Ambas reconhecidas por trabalhos sociais e dedicação irretocável à vida religiosa.
Irmã Dulce
O “anjo bom da Bahia” era apelido de Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes (1914-1992), conhecida como Irmã Dulce - nome escolhido em homenagem à mãe, Dulce Maria. Devota de Santo Antônio (foi uma das fundadoras de um colégio que leva o nome do Santo), integrou a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Na década de 1930, fundou a União Operária São Francisco, considerado o primeiro movimento cristão operário baiano.
Trabalhou em comunidades carentes da Bahia, ajudando em cuidados de saúde. Para muitos, o trabalho da então freira em hospitais (começando em uma área que era um antigo galinheiro), recolhendo doentes nas ruas, foi um dos precursores do que seria o Sistema Único de Saúde (SUS), criado apenas no final da década de 1980.
Irmã Dulce chegou a ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz, em 1988, e recebeu visitas do Papa João Paulo II. Falecida em 1992, ela foi beatificada em 2011 e canonizada em 2019, sendo a primeira (e única, até o momento) nascida no Brasil a conseguir o reconhecimento. Foi a terceira mais rápida da história a atingir o feito (27 anos após seu falecimento), atrás apenas do Papa João Paulo II (nove anos) e de Madre Teresa de Calcutá (19 anos).
Para isso, porém, foi preciso a Igreja Católica reconhecer dois milagres da santa. O primeiro ocorreu em 2001. A sergipana Claudia Cristina dos Santos se curou de uma hemorragia após o nascimento do filho ao ouvir orações de um padre devoto de Dulce no leito. O segundo foi em 2014, no Recife, quando o músico baiano José Maurício Moreira, após 14 anos sem visão, voltou a enxergar quando rezou para a santa.
“Na madrugada do dia 10 de dezembro de 2014, eu peguei a imagem de Irmã Dulce que ficava na minha cabeceira, coloquei nos olhos e orei baixo, pedindo para ela interceder junto a Deus para curar uma conjuntivite que eu estava e me dar um sono de paz. Ela fez bem mais do que isso”, citou o músico.
“Quatro horas depois, acordei e fui colocar gelo no olho quando percebi que via minha mão se aproximando do papel. Peguei o telefone, liguei para minha esposa e disse chorando: ‘volta logo que eu estou começando a ver’. Vi uma foto que tínhamos em casa e percebi que, em todos esses anos juntos, eu nunca tinha visto o rosto dela. Era muito linda. Quando ela chegou em casa, choramos juntos de emoção porque o sonho dela era que eu pudesse vê-la também”.
No ano passado, foi lançado o livro “Cartas de Santa Dulce – a face humana em todos nós”, com 59 manuscritos feitos durante os anos de 1930 a 1980. No dia 13 agosto se comemora também o Dia Nacional de Santa Dulce dos Pobres.
Irmã Adélia
Maria da Luz Teixeira de Carvalho (1922-2013), a Irmã Adélia, pode ser a segunda santa brasileira e a primeira de Pernambuco. O inquérito Diocesano da Causa de Beatificação e Canonização será oficialmente concluído neste domingo, em uma sessão solene no Teatro Madre Chantal, no Colégio Damas, no Recife. Posteriormente, os documentos serão enviados ao Vaticano, com os membros das comissões participando de uma audiência pública com o Papa Francisco no dia 16 de outubro.
Reconhecida como “Serva de Deus” pelo Vaticano, ela presenciou, ao lado da amiga Maria da Conceição, a aparição de Nossa Senhora das Graças nos anos 1930, no distrito de Cimbres, em Pesqueira, no Agreste de Pernambuco.
No início dos anos 40, Maria da Luz entrou para o Instituto das Religiosas da Instrução Cristã (RIC) e recebeu o nome de irmã Adélia. A religiosa se dedicou a realizar trabalhos sociais com famílias carentes, com projetos direcionados à educação. Também desenvolveu ações em comunidades indígenas no final da década de 1980, promovendo cursos para o povo Xukuru da Serra do Ororubá, entre Pesqueira e Poções.
“Tive o privilégio de conhecer e conviver com a Irmã Adélia. Posso testemunhar que ela é santa. Conheci toda a história dela e dormia pelo menos duas vezes por ano na casa onde ela nasceu. Quem diz que o profeta é um profeta não é ele, é a comunidade. O povo que a conhecia, que ia ao Sítio da Guarda, que dava testemunho da santidade dela. Uma religiosa do Colégio Damas, cristã, simples e acolhedora. Acredito que muito em breve vai subir aos altares. Estou confiante nesse processo e isso será de grande importância também para Pernambuco”, apontou Gilberto Barbosa, fundador da Comunidade Obra de Maria.
Para ser canonizada, é preciso que sejam reconhecidos ao menos dois milagres praticados pela Irmã Adélia. Uma lista de relatos foi enviada para a Igreja Católica. Ainda sem o título de santa, a freira carrega enorme admiração no estado. Atualmente, no local em que ocorreram as aparições, há o Santuário de Nossa Senhora das Graças, em Cimbres.