MÚSICA

Geraldo Maia é retumbante ao cantar sobre sua história em novo álbum

"Minha História Sou Eu" foi lançado nas plataformas digitais, com faixas inéditas compostas em parcerias

Geraldo Maia, cantor e compositor pernambucano - Teresa Maia

A conversa começou em Cork, na Irlanda, e seguiu para Inglaterra. Entre um lugar e outro, um chope. "Ao ler essa próxima pergunta, me deu vontade", justificou o viajante dias depois de lançar para o mundo "Minha História Sou Eu", 12º disco de Geraldo Maia. (Mais uma) missão no fazer artístico de quem vai além de um mero ressoar de voz, foi cumprida.

Merecido o descanso, portanto, para quem faz da arte "bússola, farol, flecha certeira". 

E, claro, são esses os direcionamentos do novo trabalho do cantor e compositor pernambucano, em sete faixas inéditas, com cinco composições dele e letras de parceiros, a exemplo de Renato Bandeira - que também assina a produção -, Juliano Holanda e Rildo Vieira.

"O disco, a um só tempo, foi fruto de um trabalho coletivo (...) Gosto do resultado, da sonoridade, ele tem uma coesão temática, um traço bastante evidente das minhas raízes lusitanas, talvez isso tenha ficado mais claro do que em qualquer outro trabalho meu", contou Geraldo, em papo com a Folha de Pernambuco - no aeroporto, a caminho de outro. 

Sob o requinte já característico, em "Minha História Sou Eu" Geraldo Maia dá vazão a si mesmo, em canto que reflete falas pessoais.

 

"É um disco que fala de modo claro e explícito do meu momento, da minha vida, reflexões, anseios, aspirações", enaltece.

Autorretrato
Em "No Mundo Por Onde Andei", baião que abre o álbum, Geraldo deixa evidente o quão autorretrato é o seu trabalho, desde sempre pautado por caminhos, não necessariamente fáceis, mas que dizem muito sobre como ele se posiciona no universo (comercial) da música.

“Sou o dono da minha régua e do meu compasso, nunca cedi às tentações do mercado, nunca dei passos em falso”, declarou.
 

Mas, "entre clarões e breus" do ofício, qual é afinal o lugar de Geraldo na arte de cantar? 
 

Crédito: John Holtappel

“Meu sítio, em Taquaritinga do Norte é meu refúgio (…). É lá também meu lugar de criação, entre clarões e breus. Curiosidade: essa letra poderosa, presente, que Paulo Marcondes me deu quando fiz 60 anos, fala em clarões e breus algum tempo antes de Bethânia lançar o “Claros Breus” (turnê da artista baiana, de 2019), conta Geraldo, sobre o seu mundo particular do qual ainda faz parte o companheiro John, “com quem vivo há quase 33 anos”, e seus 18 gatos, três cadelas e três burrinhos.

Altivo
“Vivo, ativo e altivo”, como ele próprio se define, Geraldo Maia segue musicando a própria história. Fato notório quando, além de ouvir, se escuta o seu canto.

“'Minha História Sou Eu’ é uma história de resiliência, persistência, obstinação e sacerdócio pleno e inflexível ao ofício artístico”, ressalta o artista que para além do entretenimento, enxerga a arte como possibilidade de transformação. “Sem esses atributos, vira algo pueril, descartável”.

Tudo que o novo disco de Geraldo Maia não é, é ser pueril e descartável. Assim como sua trajetória, delicada e ao mesmo tempo contundente na medida em que encanta mas também atormenta, por vezes em tom de protesto. 

“Sou compositor mas, essencialmente, sou um artista da voz. É meu canto quem melhor me traduz”, enfatiza o contador de histórias contidas em "O Tempo Atravessa o Homem" (com Thereza Cristina), "Não me Venhas" (com Paulo Marcondes e Renato Bandeira), "De Navegar" (com Marco Polo Guimaraes e Paulo Marcondes) e "Minha História Sou Eu" (com Paulo Marcondes).

As faixas, ecoadas ora em fado mesclado à zabumba, ora em baião ou em prece a padre Cícero Romão ("Bênção", com Renato Bandeira e Rildo Vieira), ganham também os versos,

"de andar e os de serem andados. Mas não é sobre isso que todas as músicas falam?", questiona Juliano Holanda, um dos parceiros musicais de Geraldo e que a este cedeu a letra de "Absinto", uma das canções do álbum que direcionam Geraldo e a quem tem o privilégio, "sem demora nem pressa", de ouvir a sua história.