SAÚDE

Experimento revela que o cérebro divide a hora da refeição em quatro fases diferentes; entenda

O estudo foi realizado em camundongos e abre caminhos para novos trabalhos sobre transtorno alimentar

Imagem do Iseult Magneton 11.7 T MRI mostra cérebro humano - Alain Jocard/AFP

As refeições diárias criam uma corrida de revezamento neurológica e divide a atividade do cérebro em quatro fases diferentes, como mostram as evidências de um novo estudo da revista científica Journal of Neuroscience. Essa diferenciação permite que o alimento não seja consumido mais ou menos além do necessário.

Para chegar à esta conclusão, pesquisadores da Universidade de Erlangen-Nuremberg (FAU) e da Universidade de Colônia, na Alemanha, investigaram com qual frequência ocorria disparos neurais (padrões de ação iniciados e propagados pelos neurônios) no hipotálamo lateral do cérebro. Esta região é fundamental para a regulação de comportamentos inatos envolvendo alimentação, exploração e socialização em camundongos e humanos.

Assim, foram identificados quatro conjuntos distintos de neurônios, os quais trabalham a partir da primeira até a última mordida no alimento. Cada um deles se acendem um após o outro, o que leva os cientistas a acreditarem está atividade é uma verificação complexa do quanto é necessário ingerir de comida e qual é o melhor momento de parar.

O experimento, realizado em camundongos, contou com o uso de inteligência artificial para identificação dos neurônios ativos através da leitura da atividade cerebral registrada por implantes de eletrodos.

"Quando comemos, mudamos rapidamente do que chamamos de comportamento 'apetite' para o comportamento 'consumatório'. Sabemos pouco sobre como o cérebro controla a duração dessa fase consumatória. Ela não deve ser nem muito longa nem muito curta para que recebamos a quantidade certa de energia", aponta o neurocientista Alexey Ponomarenko da FAU, em comunicado.

Segundo os pesquisadores, ao aplicar os achados no cérebro humano, será possível compreender melhor casos de transtornos alimentares e favorecer o surgimento de novas alternativas de tratamento.

"Agora conseguimos mostrar que todas as equipes de neurônios envolvidas na ingestão de alimentos se comunicam nas mesmas frequências. Em contraste, grupos de neurônios responsáveis por outros comportamentos – como explorar o ambiente ou interação social – preferem se comunicar por um canal diferente", analisa Ponomarenko.

Por outro lado, a equipe não encontrou a origem dos sinais que acionam os neurônios responsáveis pelas quatro fases. Dessa forma, esperam coletar mais dados sobre a fisiologia ligada a este processo, como a capacidade do estômago, níveis de açúcar no sangue e flutuações nos níveis do hormônio da fome.

Outro ponto apresentado pelos pesquisadores é a possibilidade do uso de optogenética, técnica que permite o controle de células cerebrais com a luz.

"Em camundongos, o comportamento oscilatório dos neurônios pode ser influenciado ainda mais diretamente por manipulações optogenéticas. Estamos agora planejando um estudo de acompanhamento para investigar como isso afeta seu comportamento alimentar", conclui Ponomarenko.