Banco Central

Comissão do Senado aprova por unanimidade Gabriel Galípolo para a presidência do BC

Ele foi indicado para substituir Roberto Campos Neto a partir de janeiro

Gabriel Galípolo assume o cargo na presidência do Banco Central em janeiro de 2025 - Reprodução/X

Indicado à presidência do Banco Central, Gabriel Galípolo foi aprovado nesta terça-feira pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado por unanimidade de 26 votos. Articulado e bem relacionado, a expectativa também é de aprovação no plenário da Casa, onde a indicação deve passar ainda nesta tarde.

Ele assumirá o cargo em janeiro. A aprovação ocorreu após uma sabatina de cerca de cinco horas.

Apesar de ser o “nome de Lula”, Galípolo tem boas relações com a maioria dos parlamentares, com quem dialoga desde os tempos em que era número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda.

Ele enfrentou escrutínio do Senado pela segunda vez. No ano passado, também passou com tranquilidade pela sabatina para a diretoria de Política Monetária do BC, cargo que ocupa atualmente.

Se aprovado no plenário nesta terça-feira, Galípolo vai substituir o atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, alvo frequente das críticas de Lula. O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro.

Essa é a primeira transição na chefia do BC da lei de autonomia, que prevê mandatos não coincidentes com o presidente da República. Desde sua primeira indicação, a expectativa era de que Galípolo fosse apontado por Lula para a cadeira de Campos Neto devido à proximidade com Lula e com a equipe econômica.

O que disse na sabatina
Galípolo afirmou, em sabatina , que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu a ele "liberdade na tomada de decisões".

— Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro — disse, renovando o compromisso com a autonomia do BC

Ele disse que tem um sentimento de "gratidão" por todos os senadores por ter sido recebido pelos parlamentares de todos os partidos com tanta gentileza em um período difícil de campanha eleitoral. Ele também agradeceu ao presidente Lula, ao ministro Fernando Haddad, a Campos Neto, a aos demais diretores e servidores do BC.

Galípolo ainda afirmou em sua fala inicial que reconhece que há "numerosos desafios", como a consolidação de uma agenda capaz de criar uma economia mais equânime, o que envolve, segundo ele, o compromisso permanente do BC no combate à inflação.

— Devo aos senadores e senadoras a obrigação de reafirmar meu compromisso com o mandato estabelecido pelo arcabouço institucional e legal para a autoridade monetária brasileira, a consciência da honra e responsabilidade que envolve a indicação à presidência do BC e o papel da estabilidade monetária e financeira na construção da sociedade que desejamos.

Desinflação custosa
Como esperado, as perguntas dos senadores giraram em torno da inflação, do compromisso de Galípolo com a autonomia do BC e com decisões técnicas, especialmente considerando a proximidade com Lula, que costuma criticar os juros elevados.

Outros temas abordados foram as preocupações com o impacto das bets na sociedade brasileira e com a condução das contas públicas pelo governo.

O atual diretor de Política Monetária afirmou que o distanciamento das expectativas de inflação das metas em um contexto de atividade forte e dólar mais alto demandam "maior prudência" da política monetária.

Também disse que cabe ao BC perseguir de forma "inequívoca" a meta de inflação de 3% — que pode variar entre 1,5% e 4,5%.

— Hoje nós temos uma meta estabelecida de 3% e cabe ao BC perseguir essa meta de maneira inequívoca, colocando a taxa de juros em patamar restritivo necessário pelo tempo que for necessário para atingir essa meta. Essa é a função do BC. De maneira nenhuma, ideia de autonomia é de que o BC vai virar as costas para o poder democraticamente eleito.

Na sabatina, o diretor do BC também reforçou o entendimento citado no último Comitê de Política Monetária (Copom) de que a economia brasileira está "pujante". Na reunião de setembro, o colegiado considerou que a atividade econômica está operando acima do que sua estrutura permite, o que tende a ser inflacionário. Por isso, disse que a função do BC é ser mais conservador com os juros.

— (A economia pujante) não é ruim, mas a bola que o BC deve estar com o olho é a inflação. Devemos assistir um processo de desinflação mais lento e custoso. Como não cabe ao BC correr risco, sua função é ser mais conservador para garantir que a taxa de juros está no patamar necessário para que a inflação atinja a meta definida.

No Copom de setembro, o BC retomou o ciclo de alta da taxa Selic, com a elevação dos juros de 10,50% para 10,75% ao ano, em decisão unânime.

Mão fraca
Galípolo ainda comentou que foi acusado de ser "mão fraca" na gestão do mercado de câmbio, responsabilidade da diretoria de Política Monetária, por não ter feito intervenções extraordinárias durante seus primeiros meses na cadeira. Ele argumentou que as opiniões oscilam muito rapidamente. Antes de sua entrada, havia a expectativa de que houvesse mais atuações.

— O ano de 2023 foi o primeiro que não fizemos intervenção extraordinária no fim do ano. Aí passei a ser acusado de ser 'mão fraca'. A verdade é que o BC tem institucionalidade bem consolidada que sabe reagir, agregar e reunir as informações — disse, acrescentando que tem tentado levar as informações para colegiado:

— É mais difícil de errar com nove pessoas do que sozinho

Bets
Sobre as bets, Galípolo reforçou que a autarquia não versa sobre a regulação de bets, mas que acompanha o tema para avaliar o impacto em consumo e atividade econômica. Segundo ele, o debate dentro do BC começou com avaliações sobre o crescimento da renda e o reflexo em consumo e poupança. O diretor também disse que o BC acompanha as operações de saída de recursos do país.

— Tinha alguma vazamento que não era simples de identificar. Passamos a fazer estudos internos e dialogar com instituições financeiras. Confesso que, nas primeiras reuniões, tive grande desconfiança sobre os números e a cada reunião foram se confirmando até chegar no estudo que ficou público do BC.

A preocupação com os sites de apostas e de jogos de azar aumentou após o BC divulgar um levantamento preliminar que aponta que os brasileiros transferiram cerca de R$ 20 bilhões por mês a sites de apostas e jogos de azar entre janeiro e agosto de 2024. O gasto dos beneficiários do Bolsa Família foi de R$ 3 bilhões em agosto, estima o BC.

Rito
Galípolo visitou cerca de 50 senadores no tradicional ritual de beija-mão que antecede a sabatina. Nessas reuniões, os principais temas de preocupação de parlamentares e que devem ser repetidos em perguntas na sessão da CAE foram a relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o compromisso de Galípolo com a independência do BC, a trajetória da taxa Selic e o risco ligado às bets.

Galípolo acumula experiências no setor público e privado, sendo reconhecido por ser uma das figuras chaves para intermediar a relação entre a campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva com atores do mercado financeiro, nas eleições de 2022.

Ele atuou de 2017 a 2021 como presidente do Banco Fator. É formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela PUC de São Paulo, instituição na qual também foi professor nos cursos de graduação, de 2006 a 2012.

Além disso, lecionou no MBA de PPPs e Concessões da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).