opinião

Cigarro eletrônico: um problema de saúde pública

O uso de cigarros eletrônicos tem se tornado uma preocupação crescente em todo o mundo, em especial entre os jovens de até 24 anos. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma resolução que proíbe a importação e a comercialização desses dispositivos - em resposta à falta de evidências científicas que comprovem a segurança dos produtos - tornando a disseminação um problema de saúde pública.

Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) aquecem um líquido que gera um aerossol, inalado pelo usuário. Eles foram inicialmente desenvolvidos como uma alternativa mais segura ao tabagismo convencional, mas estudos científicos têm demonstrado que os DEFs apresentam riscos significativos à saúde.

Um dos principais problemas é o impacto negativo a longo prazo na saúde pulmonar. O aerossol produzido contém partículas finas, compostos orgânicos voláteis, metais pesados e substâncias tóxicas, que podem causar danos aos pulmões e aumentar o risco de doenças respiratórias, como a bronquite crônica e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Além disso, a inalação de nicotina por meio dos cigarros eletrônicos pode levar à dependência química, afetando o desenvolvimento cerebral e aumentando o risco de vício em outras substâncias.

Mesmo com potenciais problemas, os DEFs estão aplicando estratégias de atração que reduzem a conscientização dos jovens sobre os malefícios causados pelo produto. Frequentemente, são comercializados em uma variedade de sabores e embalagens atrativas. Essa exposição pode normalizar o ato de fumar, contribuindo para a perpetuação de maus hábitos e reforçando um método ainda pior do que o tradicional.

Diferentemente dos cigarros convencionais, que são submetidos a rigorosas restrições de fabricação, os eletrônicos escapam de regulamentações semelhantes, resultando em produtos de qualidade duvidosa, com ingredientes desconhecidos ou potencialmente perigosos. A falta de padronização e controle de qualidade dos líquidos representa um risco adicional à saúde dos usuários, que podem estar expostos a substâncias nocivas sem conhecimento.

É fundamental que os profissionais de saúde estejam preparados para abordar o tema de maneira eficaz. A formação acadêmica e a educação continuada devem incluir informações sobre os riscos à saúde associados aos DEFs, estratégias de prevenção e intervenção, e a importância do aconselhamento personalizado para os usuários. É igualmente essencial promover a conscientização entre a população em geral, por meio de campanhas de saúde pública e materiais educativos.

A proibição da Anvisa é um passo importante para proteger a saúde, mas é apenas o primeiro de muitos que devem ser dados para enfrentar esse desafio complexo. É necessário adotar uma abordagem multidisciplinar, visando a implementação de políticas públicas eficazes, a realização de estudos científicos robustos e a promoção de ambientes saudáveis e livres do tabagismo em todas as fases da vida. Cabe a todos, como sociedade, assumir esse compromisso.

* Doutora em Engenharia Biomédica e professora na FASIG.

___
Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail cartas@folhape.com.br e passam por uma curadoria para possível publicação.