ORIENTE MÉDIO

Papa Francisco pede que capacetes azuis da ONU 'sejam respeitados' no Líbano após ataques de Israel

Operação de paz no país árabe descreve como 'violações chocantes' as ações israelenses

Papa Francisco - Filippo Monteforte / AFP

O Papa Francisco pediu neste domingo para que haja "respeito" aos capacetes azuis da Organização das Nações Unidas ( ONU) no Líbano, alvos de ataques recentes por parte do exército de Israel.

O país do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem atacado diversas regiões do território libanês, o que foi descrito, pela operação de paz, como “violações chocantes” as ações israelenses. Grupos humanitários e áreas com concentração de civis têm sido alvos de bombardeios.

"Sinto-me próximo de todos os povos envolvidos (no conflito do Oriente Médio), Palestina, Israel, Líbano, onde peço que os soldados de manutenção da paz da ONU sejam respeitados", declarou o pontífice argentino no Vaticano.

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) denunciou esta semana que as suas forças foram atacadas "deliberadamente" pelo exército de Israel na cidade libanesa de Naqura, onde está o seu quartel-general, além de outras posições.

Consequentemente, pelo menos cinco soldados da paz ficaram feridos na ofensiva israelense no sul do Líbano. A região estaria sendo atacada devido à presença do Hezbollah, força armada e política libanesa. No entanto, assim como na Palestina, Israel tem feito de alvo áreas residenciais e de abrigo a deslocados sem relação com o grupo.

As tentativas de negociar o fim dos ataques ao Líbano e à Faixa de Gaza, na Palestina, falharam até agora. Territórios palestinos têm sido alvos de bombardeios e incursões desde outubro do ano passado. Israel tem sido apontado como responsável por um genocídio na região.

Nem mesmo zonas humanitárias seguras, para pessoas deslocadas pela guerra, estão livres dos ataques israelenses, que afirmam bombardear apenas áreas onde há a presença do grupo palestino Hamas; não são apresentadas provas sobre terem combatentes no local.

"Peço mais uma vez um cessar-fogo imediato em todas as frentes e que sejam seguidos os caminhos da diplomacia e do diálogo para alcançar a paz", disse Papa Francisco no final da oração do Angelus, na qual também rezou "pelas vítimas, os deslocados e os reféns".

"Irmãos e irmãs, a guerra é uma ilusão. Nunca trará paz ou segurança, é uma derrota para todos, especialmente porque acreditamos que somos invencíveis. Por favor, parem", disse o Papa Francisco.

O pontífice também manifestou sua preocupação com a situação na Ucrânia, depois de ter se reunido na sexta-feira com o presidente Volodimir Zelensky no Vaticano, com quem discutiu os meses difíceis que se aproximam devido à chegada do inverno boreal, os bombardeios da rede elétrica e o avanço das tropas russas.

'Violações chocantes'

Neste domingo, a Força Interina da ONU no Líbano (Unifil) reportou novas ações por parte das forças armadas de Israel, incluindo a entrada à força de tanques pelos portões de uma base.

Em comunicado, a operação de paz diz ter solicitado uma explicação às autoridades militares israelenses sobre o que descreve como “violações chocantes” ocorridas em território libanês.

O primeiro episódio foi registrado por volta das 4h30, hora local, neste domingo. Soldados de paz estavam em abrigos quando dois tanques Merkava destruíram o portão principal e entraram à força, onde permaneceram por cerca de 45 minutos. Os agentes de paz protestaram quanto à violação e destacaram que tal ato colocava a base em perigo.

A organização lembra que violar e entrar em uma posição das Nações Unidas é uma violação flagrante adicional do direito internacional e da Resolução 1701 do Conselho de Segurança.

Ainda neste domingo, por volta das 6h40, no mesmo local, os soldados da paz relataram disparo de várias balas cerca de 100 metros ao norte de onde foi observada fumaça.

Ao menos 15 pessoas na base sofreram os efeitos da fumaça que entrou no acampamento, incluindo irritação na pele e reações gastrointestinais, apesar do uso de máscaras de proteção. Segundo a Unifil, os feridos estão em tratamento.

No sábado, soldados de Israel interromperam um movimento logístico essencial da Unifil e impediram sua passagem perto de Meiss ej Jebel.

A ação ocorreu apesar dos constantes avisos, inclusive por meio de notas oficiais, das "obrigações de garantir a segurança do pessoal e da propriedade da ONU e de respeitar a inviolabilidade das instalações da ONU em todos os momentos".

País vizinho à Palestina e a seus territórios ocupados, o Líbano se tornou um destino para milhares de refugiados por conta da guerra que já ultrapassa um ano. Desde os ataques ao território libanês, moradores e deslocados tiveram que deixar suas casas.

O Líbano tem 60% das escolas públicas do país agora sendo usadas como abrigos para os deslocados. O início do ano letivo foi adiado para 4 de novembro afetando o acesso de mais de 300 mil crianças à educação, lembra a ONU.