Esportes Olímpicos

Vice-presidente do COB, Yane Marques destaca atenção com Nordeste e desejo de chegar à presidência

Pernambucana, medalhista de bronze na Olimpíada de Londres 2012, se tornou a primeira mulher a chegar na cúpula da gestão do Comitê Olímpico Brasileiro na chapa com Marco Antônio La Porta

Yane Marques, nova vice-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) - Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco.

Primeira mulher eleita vice-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) na chapa com Marco Antônio La Porta, Yane Marques tem ambição para seguir dando passos maiores na gestão do esporte brasileiro. A pernambucana, bronze na Olimpíada de Londres 2012, se define como uma vice atuante e cogita a possibilidade de disputar a presidência do COB nos próximos ciclos.

Em entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco, a ex-pentatleta, que assume o cargo a partir de 15 de janeiro de 2025, comentou sobre sua preparação para o novo desafio, a parceria com La Porta, protagonismo feminino, destaque para o Nordeste e os planos até a Olimpíada de Los Angeles 2028.

Entrevista

Qual foi o sentimento após ter sido eleita junto com La Porta para assumir a gestão do esporte olímpico brasileiro?
O sentimento é de confiança depositada. Sabemos disso, é muito trabalho, muita ausência, muita sensibilidade, mas isso a gente tem e estamos dispostos. Então é um sentimento de que eu tenho uma longa missão pela frente para fazer uma coisa que eu sou apaixonada. Eu estou feliz demais com essa nova missão de quatro anos, que pode ser oito, pode ser 12. Quem sabe…

Passa pela sua cabeça se tornar a primeira mulher a assumir a presidência do COB?
É uma construção. Do mesmo jeito que foi uma construção para chegar onde eu estou hoje. Me formei em educação física, tenho curso avançado de gestão esportiva, sou pós-graduanda em gestão pública, sou secretária executiva em Recife há oito anos, fui eleita vice-presidente e presidente da Comissão de atletas. É uma construção e eu quero profissionalmente dar passos para frente. O presidente La Porta pode ser candidato na próxima eleição. Ele topando e a gente fazendo uma gestão muito colaborativa, estou disposta a ir com ele por mais quatro, depois naturalmente pensando numa ascensão o que se espera é que eu tente a presidência. Não é uma coisa que eu esteja trabalhando agora, mas é algo que eu acho natural.

E como é sua relação com La Porta?
A minha relação com La Porta sempre foi muito boa. A gente sempre esteve próximo, ele é um cara que circula muito bem entre os presidentes de Confederação e muito bem entre os atletas. La Porta tem uma postura sempre muito calma. Temos alguns valores e princípios que se conectam.

Você aparenta que vai ser uma vice bem atuante.
Eu combinei com ele que seria uma vice-presidente atuante. Eu não vou estar atrás dele, eu vou estar ao lado. Obedecendo que ele é o presidente, tenho muita consciência disso. La Porta tem muito mais experiência em gestão, já foi vice-presidente do COB, entende muito mais que sobre como a máquina COB funciona. Tenho tranquilidade de reconhecer isso, mas eu entro para aprender.

Na Olimpíada de Paris, o resultado do Brasil foi impulsionado pelo desempenho das atletas mulheres. E você se torna a primeira mulher a chegar na cúpula da gestão do COB. Como você observa esse cenário?
A gente quebra um paradigma e escreve uma linha no livro da história do esporte no Brasil. Pela primeira vez, uma mulher, que também é atleta, medalhista olímpica e gestora. E eu queria muito, sendo a primeira, deixar essas portas abertas para as próximas que estão por vir.

Teremos mais mulheres em cargos de gestão no COB?
Sim. Eu na vice-presidência e mais duas ou três mulheres nos cargos de diretoria e liderança. A gente sai do falar para colocar em prática essa valorização da mulher e obviamente jogar um pouquinho de luz ao trabalho que precisa ser feito para fomentar o esporte feminino no Brasil.

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O Brasil teve um rendimento ruim em Paris com esportes muito importantes, como a natação e o atletismo. Eles terão uma atenção especial neste próximo ciclo olímpico?
A CBDA [Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos] e a CBAt [Confederação Brasileira de Atletismo] são Confederações que tratam de esportes plurais, de muitas disciplinas. São muitas possibilidades de investimento e a gente está atento a isso. O produto final do COB, pensando numa empresa, é a medalha. Toda energia tem que ser canalizada para encontrar caminhos para conquistar medalhas. Vão ter sim uma atenção bem especial.

Você recebeu o apoio completo da Comissão de Atletas. Quais as principais demandas que partem dos atletas atualmente?
Os atletas clamam por espaço na administração. Eles falam sobre apoio para o pós-carreira, querem justiça nos critérios de classificação das competições internacionais como Pan-Americano e Jogos Olímpicos.

E sobre o desenvolvimento da base, quais projetos vocês têm sobre o trabalho estrutural para o esporte brasileiro?
O COB acabou de fechar um patrocínio gigantesco com a Caixa de R$ 40 milhões por ano durante o ciclo de Los Angeles. A gente pretende usar esse recurso dividindo com as Confederações para trabalhar o desenvolvimento. Criar e carimbar alguns Centros de Treinamento no Brasil. Trazer o modo COB de operar. Queremos também fazer parcerias com universidades, com colégios militares, com o exército, que são forças com estrutura esportiva gigante. O COB poderia ajudar com recursos, com manutenção e encher de atleta, para conseguir fazer esse desenvolvimento em todas as regiões no Brasil.

Com sua chegada, a gente pode ver uma atenção maior para Pernambuco e Nordeste?
O Nordeste vai ter uma atenção que nunca teve. Vou ficar baseada em Recife para ativar o Comitê Olímpico do Brasil em toda essa região Norte-Nordeste. Eu vou ser responsável por isso. Sempre senti falta e agora estou tendo a oportunidade de colocar em prática.

Durante esse período na gestão municipal do Recife, você atuou com a missão de alinhar esporte com educação. Como foi esse trabalho?
O esporte ensina valores e princípios que complementam o que eles aprendem como alunos de aula regencial. Isso faz com que sejam pessoas de melhor convívio na sociedade e tenham boas oportunidades na vida. Então trabalhar com a educação está sendo um desafio muito gostoso. Temos números bem significativos com relatos de como os alunos melhoraram a condição de comportamento e assiduidade nas aulas.

Por fim, pegando uma máquina do tempo até 2028, no fim do mandato: o que seria para você o indicativo de um bom trabalho na gestão?
Medalhas, obviamente. Acho que não tem como a gente fugir disso, vamos trabalhar muito duro para melhorar esse número. A gente sabe das dificuldades que vai encontrar, mas esse é nosso objetivo principal. Eu quero encerrar esse ciclo com a sensação de dever cumprido. Seja de resultado, de relacionamento, de respeito e com energia para tentar mais uma. Que eu esteja bem, com saúde e com disposição para, junto com La Porta, ter mais um ciclo. E que, no final das contas, o esporte no Brasil ganhe com essa nossa entrega.