oriente médio

Secretário-geral da ONU diz que ataques contra missão no Líbano podem constituir 'crime de guerra"

Mais cedo, primeiro-ministro israelense pediu a saída dos capacetes azuis da região, alegando que tropas da ONU se tornaram 'escudo humano' do Hezbollah

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres - Angela Weiss / AFP

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, denunciou neste domingo os ataques israelenses que feriram vários membros da força de paz da ONU no sul do Líbano (Unifil) em meio à guerra entre Israel e Hezbollah na região.

A declaração acontece após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pedir a retirada das tropas da Unifil da região, alegando que a organização se tornou um "escudo humano" da milícia xiita libanesa.

“O pessoal da Unifil e suas instalações nunca devem ser alvos”, disse Guterres em um comunicado. “Os ataques contra as forças de paz violam a lei internacional... (e) podem constituir um crime de guerra.”

Também neste domingo, Netanyahu fez um apelo a Guterres para que as forças de paz posicionadas no sul do Líbano fossem retiradas do “caminho do perigo”.

Nos últimos dias, cinco soldados da ONU ficaram feridos em incursões israelenses na região, com um dos 29 postos da Unifil sendo invadido pelo Exército de Israel. Falando antes de uma reunião de Gabinete, Netanyahu afirmou que as forças israelenses pediram várias vezes à Unifil para sair.

— Sr. Secretário Geral, tire as forças da Unifil do caminho do perigo. Isso deve ser feito agora mesmo, imediatamente. Sua recusa em evacuar os soldados da Unifil os torna reféns do Hezbollah. Isso coloca em risco tanto eles quanto a vida de nossos soldados — declarou o premier.

— Lamentamos os danos causados aos soldados da Unifil e estamos fazendo todo o possível para evitar tais danos. Mas a maneira mais simples e óbvia de garantir isso é simplesmente retirá-los da zona de perigo.

A Unifil se recusou reiteradamente a deixar suas posições no sul do Líbano. A missão está posicionada entre o rio Litani, o mais extenso do Líbano, e a fronteira libanesa-israelense. Seu principal quartel-general fica em Ras al-Naqoura, perto da divisa com Israel, mas há postos de observação e patrulhas espalhadas por todo o sul do Líbano.

— Houve uma decisão unânime de permanecer, porque é importante que a bandeira da ONU ainda esteja hasteada nessa região e que seja possível se reportar ao Conselho de Segurança — disse o porta-voz da Unifil, Andrea Tenenti, à AFP em uma entrevista no sábado.

Segundo Tenenti, Israel pediu à Unifil que se retirasse das posições “até cinco quilômetros (três milhas) da Linha Azul” que separa os dois países, mas as forças de paz se recusaram. Isso incluiria suas 29 posições no sul do Líbano.

Neste domingo, um desses postos foi invadido. De acordo com a missão, dois tanques israelenses "destruíram o portão principal" neste domingo e "entraram à força" em uma de suas posições e permaneceram lá "por cerca de 45 minutos". Os disparos israelenses ainda teriam gerado uma "fumaça" que causou "irritações na pele e reações gastrointestinais em 15 capacetes azuis".

A Unifil, uma missão de cerca de 9.500 soldados de várias nacionalidades, foi criada após a invasão do Líbano por Israel em 1978. Atualmente, ela tem a tarefa de monitorar um cessar-fogo que encerrou uma guerra de 33 dias em 2006 entre Israel e o Hezbollah.

Quarenta nações que contribuem para a Unifil disseram no sábado que “condenam veementemente os recentes ataques” contra as forças de paz.

“Tais ações devem parar imediatamente e devem ser adequadamente investigadas”, disse a declaração conjunta, publicada no X pela missão polonesa da ONU e assinada por nações que incluem os principais contribuintes, Indonésia, Itália e Índia.

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, também condenou o apelo israelense para que a UNIFIL abandonasse o sul do país.

— O aviso que Netanyahu enviou a Guterres exigindo a remoção da UNIFIL representa um novo capítulo na abordagem do inimigo de não cumprir as normas internacionais — declarou Mikati.

Anteriormente, Netanyahu disse que as críticas a Israel eram descabidas e deveriam ser dirigidas ao Hezbollah.

— Em vez de criticar Israel, eles deveriam direcionar suas críticas ao Hezbollah, que usa a Unifil como escudo humano, assim como o Hamas em Gaza usa a UNRWA como escudo humano — afirmou sobre a agência da ONU para refugiados palestinos. — Infelizmente, a UNRWA também coopera com o Hamas lá.

A UNRWA tem mais de 30 mil funcionários nos territórios palestinos e em outros lugares. A agência está em crise desde que Israel acusou uma dúzia de seus funcionários de estarem envolvidos no ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.206 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP de números oficiais israelenses.

A ONU demitiu imediatamente os funcionários implicados, e uma investigação encontrou algumas “questões relacionadas à neutralidade”, mas ressaltou que Israel não havia fornecido provas de suas principais alegações.