opinião

Desafios e rumos da carreira de magistério

Mesmo em meio às tantas mudanças que tivemos no Mundo, em diferentes atividades, nas últimas décadas, especialmente com as inovações tecnológicas cada vez mais presentes, o exercício do magistério tem sofrido incontáveis impactos, que desafiam os profissionais da área educacional.

Comparando-se, por exemplo, o número de interessados, atualmente, em cursos de licenciatura (que credencia a atividade de professor), com os de décadas atrás, é fácil se concluir que tem diminuído a cada ano, a quantidade dos que almejam seguir carreira no magistério, especialmente na educação básica.

Esse indesejável quadro, apesar do acentuado déficit sentido, sempre foi regra em nosso País, mas já tem dado sinais de alerta, a ponto de, presentemente, falar-se em verdadeiro “apagão de professores”.

Muitos são os problemas que têm contribuído para que tenhamos chegado a essa zona de preocupação, mas os vilões mais conhecidos estão ligados a questões salariais, que aviltam a dignidade da profissão. Somada a essa lesão de ordem remuneratória, a baixa valorização da classe causa o natural desestímulo para os que trilham os caminhos do magistério.

Esse opróbrio, além de sofrer com as dificuldades inerentes ao próprio exercício, vem recebendo nos últimos anos o desafio que a tecnologia impõe nas relações de trabalho, cobrando da nobre profissão, exigências de qualificação, que muitas vezes estão longe de serem alcançadas, em razão da falta de incentivo, por parte do poder público.

Cria-se, em alguns casos, uma injusta competição entre o exercício tradicional do magistério, com os modelos de ensino adotados, que priorizam a utilização de tecnologia, em detrimento até mesmo das condições mais humanizadas de ensino-aprendizagem.

A expressão “inteligência artificial”, por exemplo, tão presente em nossas relações, não só de trabalho, mas doutras áreas do viver, tem desafiado uma geração de docentes a quem ainda não foi dada sequer a dignidade mínima, para que pudessem exercer seu trabalho, gerando uma nefasta exclusão de muitos professores do mercado de trabalho. 

Embora com raras exceções, a maioria dos professores da rede pública de ensino é privada de subsídios, como as ferramentas estruturais, que a põe em desvantagem com o ensino na rede particular, onde o poder aquisitivo permite a aquisição de uma parafernália que propicia mais despertar no processo de ensino-aprendizagem.

Além dessa problemática, há sentidos desníveis não só salariais, mas de formação para o ensino em diferentes estágios e ambientes educacionais, que agravam ainda mais a condição de alguns professores, como, por exemplo, a exigência de formação acadêmica e de qualificação para a licenciatura plena; em detrimento da não exigência dessa formação para se ensinar em instituições privadas, só pela condição de bacharelado.

Assim, um professor que leva anos para a obtenção de todas as competências exigidas para lecionar em escolas, não tem a mesma retribuição, principalmente salarial, daquele que ensina em instituições públicas ou privadas de ensino superior, em que não se exige a licenciatura para tal. 

Já não se formam mais professores para ensinar como antigamente, sendo possível o exercício livre do magistério, apenas com a formação técnica na área, com a obtenção do bacharelado.

Isso provoca, sem dúvida, uma significativa queda no interesse pela profissão, que poderia muito bem ser lindamente valorizada, tendo em vista que é por ela que os profissionais das demais carreiras passam.

Apesar dos pesares, ainda devemos acreditar que dia virá em que essa angustiante situação seja superada, para que o “Dia do professor” não seja somente mais uma data a ser lembrada no duro calendário dos nossos anos de vida.

* Defensor público e professor.

___
Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail cartas@folhape.com.br e passam por uma curadoria para possível publicação.