RIO DE JANEIRO

Mãe denuncia laboratório investigado por falso positivo para HIV no parto

Segundo relato de Tatiane Andrade, ela sofreu estresse pós-traumático por acreditar que estava com vírus e recém-nascida recebeu tratamento para soropositivos

Operação no Laboratório PSC, que resultou no transplante de seis órgãos contaminados com HIV - Rafael Campos/Polícia Civil do Rio

Uma moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense do Rio, denunciou à polícia que houve um erro no exame de HIV que ela fez no PCS Lab Saleme, investigado por transplantes de órgãos infectados, e sua filha recém-nascida teria recebido tratamento para soropositivos por 28 dias.

Ao RJTV, Tatiane Andrade, de 30 anos, contou ainda que sofreu estresse pós-traumático por acreditar que estava com o vírus.

A bebê, hoje com 1 ano, teve que tomar coquetel de remédios logo após o nascimento prematuro, de 7 meses.

Tatiane também não pode amamentar a própria filha para evitar que a suposta infecção pelo HIV fosse transmitida para a bebê. Ela ainda foi medicada para secar o leite e nunca amamentou a criança.

O parto aconteceu na maternidade particular NeoMater de Nova Iguaçu, em setembro de 2023, e no dia do nascimento da filha, ela realizou um teste de HIV na unidade que contrata a PCS Lab Saleme para os exames. O resultado deu positivo. 

"Quando o resultado saiu, no dia 19 de setembro de 2023, foi o médico e a psicóloga do hospital para me darem a notícia. Naquele momento, meu mundo acabou. Eu, que já estava debilitada, pois tinha acabado de ter uma filha e ainda mais prematura, pedia para Deus que a minha bebê não tivesse nada", contou Tatiane ao RJTV.

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O laudo de HIV positivo de Tatiane foi assinado por Walter Vieira, um dos sócios presos hoje na Operação Verum por assinar um laudo com falso negativo de um doador de órgão infectado pelo HIV. Ele é tio do deputado federal Doutor Luizinho (PP), que foi secretário de Saúde do Rio no ano passado.

Segundo entrevista de Tatiane ao RJTV, ela aguardava documentos para processar a maternidade e o laboratório.

Com as notícias sobre os transplantados infectados pelo HIV, ela decidiu levar seu caso à polícia. O registro foi feito na tarde desta segunda-feira na 56ª DP (Comendador Soares). 

"Colheram meu sangue e minha filha nasceu. Porém, algumas horas depois, um médico foi e me disse que o teste deu positivo pra HIV e que minha filha, com minutos de vida, começaria a tomar o coquetel. Eu só me desculpava para o meu esposo falando que eu não fiz nada e pedia desculpa pra ele caso o tivesse contaminado", lembra a mulher sobre o início do protocolo especial para mães soropositivas no momento do parto.

Após o parto, ela resolveu realizar outro teste mais aprofundado na própria maternidade, mas não recebeu o resultado. O PCS Lab Saleme alegava que a responsabilidade da entrega do laudo era do hospital e o hospital dizia que era do laboratório.

Ela então fez um novo teste em outro laboratório. Em 26 dias, no dia 10 de outubro, conseguiu esclarecer que nem ela, nem o marido e nem a filha estavam infectados.

"Fui à sede de Nova Iguaçu e me disseram que não era meu direito pegar o resultado. Só depois que ameacei processar e chamar a imprensa, que emitiram meu resultado, em janeiro desse ano", explicou. Ela disse ainda que até hoje não superou o acontecido. "Por razões de plano de saúde, eu faço terapia na mesma rua da sede do PCS Laboratórios, e passar por lá me entristece e me faz reviver tudo que vivi", diz.

Ao G1, a direção da NeoMater afirmou que "em razão do sigilo" não pode comentar e que "a paciente em questão recebeu todos os esclarecimentos devidos durante a permanência na unidade”. Alegando ainda que, após a alta, mantiveram à disposição todos os resultados dos exames feitos e o acesso ao prontuário.

Já o PCS Lab Saleme disse que “o resultado do terceiro teste da gestante estava disponível desde o dia 29/09/23, mesma data em que foi acessado pela maternidade" e que, entre 14 de janeiro a 12 de outubro, o resultado teria sido impresso 12 vezes pela equipe da maternidade, conforme registro do sistema.

Acrescentando, ao G1, que “é responsabilidade dos hospitais informar os resultados de exames de pacientes atendidos ou internados nessas unidades". Eles não comentaram o erro no exame.