Caso HIV

Castro diz que soube de transplantes de órgãos com HIV no dia do fechamento do laboratório

Governador do Rio afirmou que "não é hora de falar em culpados" e destacou o trabalho de Cláudia Mello à frente da pasta de saúde

Governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governador Cláudio Castro (PL) afirmou, durante coletiva de imprensa nesta terça-feira, que soube do caso de seis pessoas infectadas por HIV após transplantes de órgãos devido ao fechamento do laboratório PCS Lab Salemen, do dia 8. No entanto, o erro só veio à tona três dias depois, na última sexta-feira, através de uma reportagem feita pela BandNews FM.

— Eu soube no dia do fechamento do laboratório, coisa de uma semana e pouca atrás. O laboratório foi fechado, tomamos ciência e imediatamente determinei que procurassem as pessoas para que começasse toda a questão de contraprova — disse Castro.

Em contrapartida, a Secretaria estadual de Saúde instaurou, no dia 13 de setembro deste ano, o primeiro procedimento interno para investigar o caso. Apesar de Castro destacar que avisou imediatamente a Polícia Civil, somente mais de um mês depois a corporação abriu uma apuração com foco em funcionários do laboratório. A informação consta na decisão judicial que decretou a prisão temporária de quatro desses funcionários e busca e apreensão em 11 lugares.

De acordo com o documento, "as investigações [foram] realizadas no inquérito policial instaurado (...) por determinação do Departamento Geral de Polícia Especializada (...) diante da notícia veiculada no programa da Rádio Bandeirantes que trouxe à tona a contaminação de 6 (seis) pacientes transplantados, com o vírus HIV" — o que só aconteceu na última sexta-feira. A Polícia Civil confirmou que foi nesta data a abertura do inquérito.

Até o momento, Castro aponta que as três ações tomadas pelo Governo envolvem a abertura de uma sindicância na saúde, uma auditoria no âmbito da controladoria para apurar os contratos com o laboratório e a investigação policial. Castro explicou que todos os 286 resultados dos exames feitos em doadores no Hemorio para localizar possíveis novas infecções devem estar prontos até sexta-feira.

— O Hemorio está fazendo todas as contraprovas. Mandei que fossem rescindidos todos os contratos que este laboratório possa ter com o governo do estado. Já estão suspensos cautelarmente e já estamos preparando a rescisão — afirmou Castro.

Afastamento de secretária
Indagado sobre um possível afastamento da secretária de Saúde Cláudia Mello, Castro ressaltou todo o trabalho realizado por ela à frente da pasta e apontou que Mello é "uma profissional extremamente capacitada". O governador pontuou que é necessário "tomar cuidado" com as punições, mesmo que se trate de um "erro gravíssimo".

— Foi um erro grave, não ninguém aqui está minimizando o erro, ele é gravíssimo, a situação é gravíssima, mas a gente tem que tomar cuidado ao punir uma pessoa, ainda mais uma servidora pública, com toda a trajetória que a Dr. Cláudia tem. A sindicância vai apontar os culpados e aí, com base nisso, todo mundo merece o devido processo legal, inclusive o servidor público. Se ela mostrar o erro individual de qualquer pessoa, essa pessoa será exemplarmente punida, sendo secretário, subsecretário, assessor, superintendente, quem quer que seja. Acho que não é a hora de falar em culpados, é hora de a gente corrigir, para nunca mais acontecer — alegou Castro.

Favorecimento de Dr. Luizinho
Castro contou que o primeiro contrato firmado com o PCS foi em 2021, em um pregão com participação de outros seis concorrentes. A licitação emergencial foi feita pela Fundação Saúde, entidade ligada ao Governo do Estado que assumiu a administração das unidades de saúde no lugar das Organizações Sociais. O governador negou qualquer indício de favorecimento do deputado federal e ex-secretário de Saúde do Rio Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, o Doutor Luizinho, seu aliado político, em contratos emergenciais:

— O Estado do Rio de Janeiro era tomado pelas OSs. Foi votada uma lei na Assembleia Legislativa de que nós teríamos que acabar com as OSs. Qual o processo de acabar com as OSs? Quando acaba o contrato, a Fundação Saúde assume esse hospital, UPA. Eu não posso parar o serviço, e inclusive existe uma decisão do Tribunal de Contas falando isso: quando a Fundação Saúde assume o equipamento, faz uma contratação emergencial. E, em seguida, abre a licitação.

Castro definiu como “muito difícil” qualquer possibilidade de favorecimento e relatou que chegou a conversar com Dr. Luizinho depois que o caso das contaminações foi levado ao público.

— Ele falou que está muito tranquilo, que não fez nada de errado. Ele publicou uma nota, inclusive, falando para punir quem estiver errado. Uma coisa eu garanto: Luizinho não interferiu em nada, não pediu que não fosse feito. Tanto que foi feita a operação, está seguindo normalmente e prendeu uma pessoa próxima à família dele. E a coisa está acontecendo com toda a tranquilidade — destacou Castro.

Os sócios do PCS Lab Saleme são parentes de Dr. Luizinho. Matheus Sales Teoxeira Bandoli Vieira, que é sócio-diretor da empresa e assinou contratos com o governo, é primo do político. Já Walter Vieira, outro sócio do laboratório, é casado com a tia do ex-secretário.