Justiça

Investigada no inquérito que apura transplantes com órgãos infectados por HIV se apresenta à polícia

Jacqueline Iris Barcellar de Assis teve a prisão temporária por cinco dias decretada pela Justiça e era procurada por agentes da Decon

Jacqueline Iris nega que tenha assinado laudos com falso negativo para HIV - Reprodução/Redes Sociais

Investigada no inquérito da Delegacia do Consumidor (Decon) que tem como figura central o laboratório PCS Lab Saleme, Jacqueline Iris Barcellar de Assis se apresentou, na tarde desta terça-feira, na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, Zona Norte do Rio.

Funcionária do laboratório, ela teve a prisão temporária por cinco dias decretada após vir a público, na última sexta-feira, a notícia de que seis pacientes que estavam na fila do transplante receberam órgãos infectados com HIV.

A Polícia Civil realizou a operação Verum na última segunda-feira para cumprir mandados 11 de busca e apreensão e quatro de prisão, uma deles contra Jacqueline, em endereços em Nova Iguaçu e na capital. Durante a ação, Walter Vieira, apontado pela Polícia Civil do Rio como sócio do laboratório, e Ivanilson Fernandes dos Santos foram presos.

Jacqueline é citada na decisão judicial que decretou as prisões de quatro investigados junto com Walter Vieira, sócio do PCS Lab Saleme, que também está preso: "Apurou-se, ainda, que dois resultados com 'falsos-negativos' para sorologia de HIV foram assinados por Walter Ferreira e Jacqueline Iris Barcellar de Assis, respectivamente, sócio administrador e funcionária do laboratório (...) Apurou-se, ainda, que a formação da indiciada Jacqueline é desconhecida, havendo referências de que dados inseridos no cadastro do Conselho Regional de Biomedicina seriam inidôneos".

Além de Jacqueline e Walter, outras duas pessoas tiveram as prisões temporárias por cinco dias decretadas pela Justiça: Walter Vieira, Cleber de Oliveira Santos e Ivanilson Fernandes dos Santos. Cleber segue sendo procurado pela polícia.

Walter, sócio do laboratório, e Ivanilson foram presos durante uma operação da Decon nesta segunda-feira.

De acordo com as investigações, Ivanilson seria um dos responsáveis técnicos pelos laudos. Já Cleber de Oliveira Santos, ainda segundo a Polícia Civil, estaria atuando no protocolo dos exames junto com Ivanilson.

Em entrevista ao Globo , Jacqueline reconheceu que as rubricas nos laudos são suas, mas nega qualquer envolvimento no caso. Ela disse que sequer é biomédica.

O número de registro no Conselho Regional de Biomedicina (CRBM) que consta no documento como sendo dela é de outra pessoa, que mora fora do Rio e não exerce mais a profissão, como mostrou a TV Globo. Já o laboratório PCS Lab Saleme afirma que Jacqueline se apresentou como biomédica e encaminhou uma troca de mensagens de agosto, na qual a funcionária apresenta um certificado de que seria biomédica. Entretanto, os laudos com a assinatura dela são de maio.

Jacqueline disse ao Globo que nunca teve registro como biomédica e que o nome dela foi usado pelo laboratório. Ela contou que foi contratada, em outubro de 2023, como supervisora administrativa com salário mensal de R$ 1.600 e só teve a carteira assinada em setembro deste ano.

Jacqueline negou qualquer envolvimento com o caso e explicou que as assinaturas eletrônicas foram coletadas pela empresa assim que assumiu o cargo técnico e que esse era um procedimento padrão para todos os funcionários.

Ela afirmou ainda que sua formação, de 2008, é de técnica de análises laboratoriais, o que não permitiria um registro de nível superior. Após o caso ganhar repercussão, Jacqueline relatou que começou a receber ameaças.

— Eles enviaram laudos em meu nome. Todo esse período o serviço que prestei para eles foi de supervisor administrativo. A gente fazia preenchimento de planilhas, pedido de insumos, conferência de estoque. A conferência de laudo que a gente fazia era administrativa: se estava digitado correto, a pontuação correta para poder enviar para os médicos. Nessa tela não aparecia nenhuma assinatura minha. Se tivesse, eu chamaria a atenção. Minha vida está de cabeça para baixo nesse momento. Nunca tive registro na área da medicina. Meu nome foi usado de forma indevida. Estou sendo massacrada, recebendo mensagens de ameaças no meu WhatsApp. Acredito que depois disso tudo meu nome possa aparecer em outros contextos e documentos. Nossa assinatura estava na base de dados deles e podia ser usada como quisessem. Mas tenho provas de que nada disso passava por mim lá dentro — defendeu-se Jacqueline.