Drone iraniano do Hezbollah enganou defesa antiaérea de Israel, matou 4 e feriu 67 em quartel
Aeronave chegou a ser perseguida, mas desapareceu dos radares pouco antes de atingir a instalação militar no domingo à noite
Na noite de domingo, uma base israelense no norte do país foi alvo de um ataque com drones vindos do Líbano, mas desta vez os sistemas de defesa não impediram que a instalação fosse atingida, matando quatro soldados e ferindo quase setenta, e tampouco alertaram sobre a chegada deles.
O incidente, o mais mortal do tipo para as forças israelenses desde o início do enfrentamento com o Hezbollah, em outubro do ano passado, ressalta como o uso crescente de drones de tecnologia iraniana colocou à prova os bilionários sistemas como o Domo de Ferro — e o problema não se restringe apenas à fronteira com o Líbano.
De acordo com a investigação inicial, o Hezbollah lançou dois drones carregados de explosivos, que entraram no espaço aéreo israelense pelo mar.
Um deles foi abatido nos arredores de Haifa, mas o outro conseguiu evitar as aeronaves que o perseguiram, e ao desaparecer dos radares, assumiu-se que havia caído em uma área deserta. Minutos depois, a base foi atingida pela explosão, quando os militares estavam jantando.
Não houve alerta com sirenes para que eles buscassem abrigo.
Citado pelo Times of Israel, o Centro Alma, um instituto de pesquisa que estuda as ameaças de segurança no norte do país, o drone usado provavelmente foi o Mirsad, conhecido no Irã como Ababil-T, o “preferido” pelo Hezbollah em seus ataques contra Israel.
O equipamento tem alcance de 120 km, além da capacidade de voar a até 3 mil metros e levar 40 kg de explosivos, o suficiente para causar estragos em terra.
As autoridades israelenses ainda querem saber como o drone conseguiu burlar os sistemas de defesa e atingir uma base sem ser notado — em comunicado, o Hezbollah disse ter “enganado” as linhas antiaéreas de Israel ao lançar ataques simultâneos de drones e mísseis, “sobrecarregando” as baterias instaladas ao longo da fronteira.
— Este é um evento difícil com resultados dolorosos. Devemos investigar, estudar os detalhes e assimilar as lições de forma rápida e profissional — disse na segunda-feira, em visita à base atingida, o ministro da Defesa, Yoav Gallant.
— Diante da ameaça dos drones, estamos concentrando um esforço nacional e estamos engajados no desenvolvimento de soluções que ajudarão a lidar com a ameaça.
Ao longo do processo de estabelecimento do Hezbollah como uma das maiores forças militares não estatais do planeta — se não a maior —, o grupo xiita criou, com o apoio do Irã, um notável arsenal de mais de 100 mil mísseis, alguns capazes de atingir todo o território de Israel.
Mas uma faceta pouco explorada, até agora, desse poderio bélico são os drones, igualmente com tecnologia iraniana e até mais mortais do que os mísseis.
Além do Ababil-2, que atingiu a base no domingo e que é o mais usado em ataques contra Israel, o Hezbollah tem uma diversidade considerável em seus drones, incluindo outros modelos do Ababil, com alcance de algumas centenas de quilômetros, até as aeronaves da família Shahed, também exportados para a Rússia e usados na Ucrânia.
O grupo tem ainda drones de observação, um pouco mais rudimentares do que os usados por Israel no Líbano e em Gaza, mas também capazes de ajudar no estabelecimento de alvos e rotas de ataque.
A ameaça a Israel não vem apenas do Líbano. No começo do mês, dois soldados morreram nas Colinas do Golã, em um ataque com drones lançados por uma milícia aliada a Teerã no Iraque — desde 1991, quando o então regime de Saddam Hussein estava prestes a ser invadido pelos EUA, um ataque vindo de solo iraquiano não deixava mortos em Israel.
Em julho uma pessoa morreu quando um drone lançado pelos houthis, que controlam parte do Iêmen, atingiu um prédio residencial em Tel Aviv.
Um estudo publicado em julho pelo Instituto Judaico de Segurança Nacional dos EUA apontou que o uso crescente dos drones é um risco real à integridade de Israel, especialmente dada a quantidade de equipamentos nas mãos do Hezbollah.
Ao contrário de mísseis e foguetes, que têm trajetórias antecipadas, os drones podem manobrar em diferentes direções, incluindo um elemento de imprevisibilidade.
“O sistema Domo de Ferro é calibrado para interceptar projéteis ao longo de uma trajetória antecipada, tornando a interceptação dos drones do Hezbollah — que, ao contrário de foguetes e mísseis, não têm uma trajetória de voo previsível — um desafio tático”, diz o estudo. “Esses drones complicam ainda mais a interceptação ao voar em velocidades mais lentas do que as aeronaves de caça israelenses.”
Um integrante das Forças Armadas, citado pelo Times of Israel, citou ainda que os drones voam mais devagar do que os mísseis e usam materiais de mais difícil detecção pelos radares, como plástico — seu tamanho, afirmou o oficial, pode levar os sistemas de monitoramento a confundi-los com pássaros, o que não é tão raro de acontecer.
Para especialistas militares, Israel precisará adotar abordagens diferentes para aumentar a taxa de interceptação de drones, incluindo radares acústicos e equipamentos de captura eletrônica e lasers de alta potência, além do emprego de métodos conhecidos de interceptação, incluindo helicópteros — considerado o mais eficaz — e aviões de combate.