CINEMA

"O Aprendiz": filme criticado por Donald Trump estreia no Brasil

Entre a sátira e a tragédia, o longa-metragem retrata a ascenção empresarial do ex-presidente dos Estados Unidos

Relação entre Trump e o advogado Roy Cohn está no centro de "O Aprendiz" - Divulgação

Às vésperas da próxima eleição presidencial nos Estados Unidos, “O Aprendiz” leva aos cinemas a história de origem de um dos elementos centrais nesta disputa. O filme, que estreia nesta quinta-feira (17), aborda a trajetória do empresário e ex-presidente Donald Trump, que tenta retornar à Casa Branca. 

Diferente de outras cinebiografias vistas por aí, o longa dirigido pelo cineasta iraniano Ali Abbasi está longe de ser uma homenagem ao seu personagem principal. Trump, aliás, lidera uma verdadeira campanha contra a produção, que classificou como “falso e sem classe”. 

Utilizando o mesmo título do reality show apresentado pelo magnata por 14 temporadas, “O Aprendiz” inverte a lógica do programa televisivo, mostrando Trump na posição de pupilo em treinamento. Ambientada entre os anos 1970 e 1980, a trama é baseada na relação do executivo com o advogado Roy Cohn, considerado seu mentor.

Ascenção de Trump
Vivido por Sebastian Stan (mais conhecido pelos filmes da Marvel), o jovem Trump se aproxima de Cohn (interpretado com excelência por Jeremy Strong) na esperança de que ele represente a empresa de seu pai em uma causa já considerada perdida. Implacável, o homem consegue fazer com que o cliente leve a melhor, consolidando sua influência sobre ele. 

Ambicioso, Trump vê no período de decadência vivenciado por Nova York a oportunidade perfeita para fazer negócios no setor imobiliário e conquistar poder dentro da cidade. Com a Justiça e a mídia nas mãos, Cohn ensina a ele o passo a passo para atingir seus objetivos, alicerçado em três regras repetidas à exaustão: atacar sempre, nunca admitir culpa e se declarar vitorioso em qualquer circunstância.

Aos olhos do público, o jovem empresário vai sendo moldado aos poucos, até se transformar em algo próximo da figura controversa que conhecemos hoje. Essa transformação ocorre de maneira física, através da caracterização de Stain, que ao longo do filme vai “ganhando peso” e um tom alaranjado na pele. Ponto para o ator, que passa por essa metamorfose de forma sútil, sem cair na caricatura. 

Enquanto acumula conquistas, como a construção da Trump Tower e os cassinos em Atlantic City, o bilionário vai perdendo o senso de moralidade. O filme não poupa o personagem do escárnio, patinando entre a sátira e a tragédia, às vezes sem conseguir achar o tom certo na transição de um para outro (como na cena em que, logo após comentar sobre o aspecto laranja do marido, Ivana Trump é abusada sexualmente por ele). 

Política de fora
A partir de sua segunda metade, o longa parece perder “o fio da meada” da narrativa, deixando de lado a relação entre Trump e Cohn, dando maior destaque ao casamento do empresário e suas questões familiares. É quando o filme perde o freio no deboche, retratando seu protagonista como um figura risível, com problemas de ereção e preocupado com cirurgias estéticas. 

O lado político fica de fora. Curiosamente, o executivo demonstra especial desprezo por figuras políticas institucionais, mas não deixa de expressar suas convicções a respeito dos rumos que os Estados Unidos deveriam levar. 

Em sua cena final, ao mostrar Trump repetindo ao seu biógrafo as três regras de seu mentor como se fossem suas, “O Aprendiz” busca cravar que o ex-presidente não é assim tão original. Pelo contrário, ele seria só a continuação de um modus operandi que é intrínseco às estruturas de poder norte-americanas.