SAÚDE

Maconha de alta potência, com mais de 10% de THC, está ligado a alterações no DNA, diz novo estudo

Estudo publicado na Molecular Psychiatry é o primeiro a sugerir que o uso de cannabis de alta potência deixa uma marca distinta no DNA

Maconha de alta potência, com mais de 10% de THC, está ligado a alterações no DNA, diz novo estudo - Unsplash

Uso de cannabis de alta potência deixa uma marca distinta no DNA, afirma estudo publicado na Molecular Psychiatry sendo o primeiro a sugerir isso. A cannabis de alta potência é definida como tendo conteúdo de Delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) de 10% ou mais.

A pesquisa também mostrou que o efeito do uso de cannabis no DNA é diferente em pessoas que vivenciam seu primeiro episódio de psicose em comparação com usuários que nunca vivenciaram psicose. Abrindo margem para novos exames de sangue com potencial de ajudar a caracterizar os usuários de cannabis em risco de desenvolver psicose para informar abordagens preventivas.

"Nosso estudo é o primeiro a mostrar que a cannabis de alta potência deixa uma assinatura única no DNA relacionada a mecanismos em torno do sistema imunológico e produção de energia.

Pesquisas futuras precisam explorar se a assinatura de DNA para o uso atual de cannabis, e em particular a dos tipos de alta potência, pode ajudar a identificar os usuários com maior risco de desenvolver psicose, tanto em ambientes de uso recreativo quanto medicinal”, afirma a autora sênior Marta Di Forti, professora de Drogas, Genes e Psicose no King´s College London.

Os pesquisadores exploraram os efeitos do uso de cannabis na metilação do DNA — um processo químico detectado em amostras de sangue que altera o funcionamento dos genes (sejam eles ligados ou desligados) — o que significa que altera a expressão genética sem afetar a sequência do DNA em si e é considerada um fator vital na interação entre fatores de risco e saúde mental.

A equipe de laboratório da Universidade de Exeter conduziu análises complexas de metilação de DNA em todo o genoma humano usando amostras de sangue de pessoas que experimentaram o primeiro episódio de psicose e aquelas que nunca tiveram uma experiência psicótica.

A análise mostrou que usuários frequentes de cannabis de alta potência tiveram alterações em genes relacionados à função mitocondrial e imunológica, particularmente o gene CAVIN1, que poderia afetar a energia e a resposta imunológica.

"Nossas descobertas fornecem insights importantes sobre como o uso de cannabis pode alterar processos biológicos. A metilação do DNA, que preenche a lacuna entre a genética e os fatores ambientais, é um mecanismo-chave que permite que influências externas, como o uso de substâncias, impactem a atividade genética. Essas mudanças epigenéticas, moldadas pelo estilo de vida e exposições, oferecem uma perspectiva valiosa sobre como o uso de cannabis pode influenciar a saúde mental por meio de vias biológicas”, afirma Emma Dempster, professora sênior da Universidade de Exeter e principal autora do estudo.

Dempster meta-analisou dados de duas coortes: o estudo GAP, que consiste em pacientes com primeiro episódio de psicose no sul de Londres e no Maudsley NHS Foundation Trust, e o estudo EU-GEI, que consiste em pacientes com primeiro episódio de psicose e controles saudáveis na Inglaterra, França, Holanda, Itália, Espanha e Brasil.

Totalizando 239 participantes com primeiro episódio de psicose e 443 controles saudáveis representando a população geral de ambos os locais de estudo que tinham amostras de DNA disponíveis.

A maioria dos usuários de cannabis no estudo usou cannabis de alta potência mais de uma vez por semana (definido como uso frequente) e usou cannabis pela primeira vez aos 16 anos, em média.

"Com a crescente prevalência do uso de cannabis e a maior disponibilidade de cannabis de alta potência, há uma necessidade urgente de entender melhor seu impacto biológico, particularmente na saúde mental”, diz Di Forti.