Defesa de candidatura nordestina à presidência do PT é novo capítulo entre Gleisi e Haddad
Insistência de grupo contra Edinho Silva pode rachar PT e colocar Lula em saia justa
A sucessão para o comando do PT se transformou em mais um capítulo da disputa interna entre a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Lideranças petistas avaliam que Gleisi têm a insuflado a candidatura de um nome do Nordeste para o seu posto com o objetivo principal de enfraquecer o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, aliado de Haddad e favorito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Gleisi Hoffmann e Haddad não se bicam. A rivalidade vem desde 2018, quando o presidente Lula escolheu o ministro da Fazenda para ser candidato à presidência da República, enquanto estava preso em Curitiba, pela operação Lava-Jato.
A presidente do partido, que se mantinha firme em defesa da legenda e da liberdade de Lula, gostaria de ter sido a candidata, ou que um candidato da sua escolha tivesse sido lançado. Além disso, Gleisi e Haddad já acumulavam diferenças ideológicas.
Desde então, Haddad se consolidou como um dos queridinhos de Lula e vem assumindo um protagonismo no partido, em disputa com o poder institucional de Gleisi.
Para aliados da presidente, deixar Edinho Silva assumir seu posto seria entregar de vez o poder nas mãos do grupo político do ministro da Fazenda, em meio ao desafio do partido de encontrar uma nova liderança pós-Lula. A reeleição do presidente ainda é dúvida no PT. Lideranças reconhecem a idade avançada de Lula, que terá 77 anos em 2026, além da necessidade de renovação da legenda.
Gleisi e Haddad ainda vem acumulando divergências em relação à política econômica do governo. A presidente do PT é contra corte de gastos estruturais, como em saúde e educação, seguro-desemprego e benefícios a servidores públicos, que estão sendo cogitadas pelo ministro da Fazenda.
Aliados de Haddad afirmam que a candidatura de Edinho seguirá de pé, mesmo que a ala de Gleisi insista em uma candidatura à parte. Isso levaria a um racha na principal corrente do partido, a CNB (Construindo um Novo Brasil), que abriga tanto Gleisi, quanto Haddad. Ficaria a cargo de Lula escolher um lado, ou determinar eleições para a presidência do PT.
Entre os argumentos levantados por aliados de Gleisi está o bom desempenho do partido no Nordeste nas eleições municipais. Dos oito estados nos quais o PT avançou em número de eleitos frente a 2020, seis estão no Nordeste.
No Rio Grande do Sul, no Paraná e em Santa Catarina, houve recuo no total de prefeitos. Um dos nomes nordestinos defendidos por Gleisi é o do deputado federal, José Guimarães, do Ceará, líder do governo na Câmara dos Deputados.
Pessoas próximas à presidente do partido ainda usam como argumento a derrota de Edinho Silva em Araraquara, que não conseguiu eleger sua sucessora, Eliana Honain (PT), ex-secretária de saúde do município.
A eleição de Eliana era dada como certa até uma semana antes do primeiro turno. Edinho tem uma ótima avaliação na cidade, mas a investida de personagens bolsonaristas na reta final da campanha do Dr. Lapena (PL) pareceu influenciar indecisos e mostrou que o município está longe de ser uma ilha de esquerda no interior paulista conservador. A cidade recebeu a visita de Michele e Eduardo Bolsonaro, além do deputado federal Nikolas Ferreira (PL).