RIO DE JANEIRO

Caso Marielle: Domingos Brazão afirma que não foi prejudicado pela CPI das Milícias

Conselheiro do TCE, que é réu pela morte de Marielle Franco, prestou depoimento ao STF

Caso Marielle: Domingos Brazão afirma que não foi prejudicado pela CPI das Milícias - Domingos Peixoto

O conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão, um dos réus pela morte da vereadora Marielle Franco ( PSOL), afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não foi prejudicado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou as milícias no Rio de Janeiro. Brazão também negou que tivesse uma relação ruim com o partido da vereadora.

Brazão é o segundo réu a ser ouvido na ação penal que tramita no STF, após as testemunhas de acusação e defesa prestarem depoimento. O deputado federal Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ), seu irmão, foi ouvido entre segunda e terça-feira.

O delegado Rilvado Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil, também prestará depoimento. Os três são réus pela suspeita de serem os mandantes do crime, mas negam a acusação.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), que foi aceita pelo STF, aponta um "estado de animosidade" crescente entre os irmãos Brazão e o PSOL. Entre os fatos listados, estão o relatório final da CPI das Milícias, presidida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo (na época no PSOL, hoje no PT) e a atuação da legenda para tentar barrar a indicação do próprio Domingos Brazão ao TCE.

Brazão afirmou que comissão parlamentar inibiou a atuação dos milicianos e que, por isso, facilitou o trabalho dele e de outros políticos.

— A CPI das Milicias, a partir dos efeitos dela, inibiu os milicianos, sobretudo policiais, de ficarem à frente. Permitiu que quem quisesse trabalhar (conseguisse), ficou mais fácil trabalhar. Eu achei que a CPI cumpriu um papel importantíssimo.

De acordo com ele, sua votação para deputado estadual aumentou entre 2006 e 2010, após a realização da CPI.

— Eu tinha tido 70 mil votos e tive 90 e tal mil votos (quatro anos depois). Não foi só a CPI — afirmou, acrescentando depois: — Nitidamente, era perceptível que os milicianos se encolheram, porque os efeitos passaram a ser sentidos a partir de 2010.

Brazão também afirmou que a tentativa do PSOL de impedir sua nomeção ao TCE, em 2015, foi apenas uma "sinalização" para sua base política, porque não tinha chances de dar certo.

— A nossa atuação política, à época, ela não depende dessas sinalizações. E eu respeito o PSOL, que é um partido mais radical, ele depende de ficar sinalizando para o eleitor umas coisas que ele sabe que não vai dar no futuro.

O conselheiro ainda afirmou ter sido "muito correto" com o partido, e que teve duas oportunidades de desgastar a legenda, mas não o fez. A primeira ocorreu no processo de cassação da ex-deputada Janira Rocha, quando ele era presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e não teria apressado o processo.

A segunda foi quando ele já estava no TCE e votou para aprovar, com ressalvas, as contas do então prefeito de Itaocara, Gelsimar Gonzaga, o primeiro eleito pela sigla em todo o apís.

— Fui muito correto com o PSOL. Porque, ironicamente, as duas oportunidades de desgastar o PSOL, para a felicidade do PSOL, caíram na minha mão. Que foi uma na Alerj e uma no tribunal de contas.