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Com atividades voltadas à nova economia, Agropecuária Mata Sul inova em meio a monocultura

Parte do território de atuação do empreendimento compreende a Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Frei Caneca

Agropecuária Mata Sul inova em meio a monocultura - Divulgação

O Brasil é uma potência no agronegócio mundial, mas a participação de Pernambuco neste setor da economia é tímida. Se excluirmos do debate a atividade dos negócios da agroindústria da cana-de-açúcar, restam poucas iniciativas relevantes, como a pecuária de corte estimulada pelo novo frigorífico da Masterboi, e a fruticultura no Sertão do São Francisco. Mas, na região Sul de Pernambuco, uma iniciativa de diversificação vem dando resultados exitosos. Lá, a Agropecuária Mata Sul vem ampliando as opções de negócios – e gerando empregos – a partir da produção de florestas em consórcio com a produção pecuária.

A empresa possui 4 mil hectares no município de Jaqueira, na Zona da Mata Sul, a 125 quilômetros do Recife, e dedica-se à criação de gado das raças Nelores, Aberdeen Angus e Akaushi com um rebanho com 5 mil cabeças de gado, além do plantio de 200 mil árvores jovens, parte eucaliptos e parte mogno africano. O plano é plantar mais 1 milhão de árvores, nos próximos 5 anos, que além de gerar madeira certificada - graças ao manejo florestal- irá, no futuro, gerar créditos de carbono.

O negócio é uma equação que se equilibra no médio e longo prazos: a pecuária extensiva começa a dar resultados entre dois a três anos e as plantações de eucalipto com 10 anos, enquanto o nobre mogno precisa de 20 anos para contribuir com o retorno financeiro do empreendimento.

O diretor da Agropecuária Mata Sul, Felipe Bravo, detalha alguns dos desafios que a empresa precisa superar. “A falta de mão de obra com experiência na criação de gado ou mesmo na silvicultura é uma realidade, mas assumimos o desafio dos pioneiros”, comenta Felipe Bravo, da Mata Sul.

A realidade é que o negócio, um investimento de R$ 30 milhões, precisa do tempo de amadurecimento. Os primeiros lotes de gado começaram a ser comercializados em 2019. O caminho para o retorno dos investimentos é maior. A pecuária pediu a instalação de 900 quilômetros de cerca, para retenção do gado. Essa estrutura requer constante manutenção e também contribuiu para delimitar a propriedade.

Créditos de carbono
Outra expectativa está na captura de carbono que o plantio de floresta representa. Esse é um novo negócio que se abre nestes tempos de descarbonização. Felipe Bravo argumenta que outra fonte de retorno para o investimento está na obtenção de créditos de carbono, mas essa atividade ainda precisa ser regulamentada pelo Governo Federal. “A demanda é crescente e o potencial é grande: acreditamos que a regulamentação é uma questão de tempo”, aguarda o diretor da Mata Sul.

Como todo empreendimento, a Agropecuária Mata Sul representa ganhos sociais para a população de Jaqueira. Hoje, com 35 funcionários contratados, é a maior empregadora privada do município, sendo superada apenas pela prefeitura. Em três anos, com o corte dos eucaliptos adultos, será instalada uma madeireira para venda de peças para construção civil. A nova atividade demandará 80 novos funcionários. O volume de empregos, para a realidade dos municípios da Zona da Mata, gera impacto social e contribui com a economia local.

A Agropecuária Mata Sul tem negócios alinhados com as práticas ESG - sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, que significa Ambiental, Social e Governança. É um conjunto de padrões e boas práticas que avaliam o desempenho de sustentabilidade de uma empresa.

A geração de energia é limpa e utiliza 6 mil placas fotovoltaicas. Parte do território de atuação do empreendimento compreende a Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Frei Caneca. Como todas reservas de Mata Atlântica, ela está sob constante ameaça. Restam 630 hectares do bioma que vem sendo devastado com a expansão de plantações de banana, a despeito das ações que a Agropecuária Mata Sul tem tomado. Como forma de resguardar a reserva, a agropecuária fez o registro de imagens de feitas por satélite entre os anos de 2015 e 2018, que revelam ocupações irregulares na região e denunciou a situação para as autoridades.

RPPN é uma categoria de unidade de conservação criada pela vontade do proprietário rural, sem desapropriação de terra e em caráter perpétuo. No momento que decide criar uma RPPN, o proprietário assume compromisso com a conservação da natureza.

“A RPPN Frei Caneca é a maior área de Mata Atlântica ao norte da Bahia. Somos responsáveis por ela e não tem sido fácil protegê-la”, desabafa Bravo.