Boeing avalia o que fazer com seu problemático programa espacial
Empresa ficou muito atrás dos grandes avanços tecnológicos feitos pela SpaceX, de Elon Musk, e outras do "novo espaço", que têm promovido a tecnologia de foguetes reutilizáveis
A Boeing está avaliando opções para o futuro de seu problemático programa de cápsulas espaciais Starliner e operações de apoio à Estação Espacial Internacional (ISS) como parte de uma revisão ampla de portfólio sob o comando do novo CEO Kelly Ortberg, segundo informou hoje o Wall Street Journal, citando fontes familiarizadas com o assunto.
Desfazer-se do Starliner liberaria a Boeing de um programa profundamente problemático que acumula mais de R$ 1,8 bilhão em encargos únicos. Isso inclui US$ 250 milhões durante o terceiro trimestre.
Ao contrário do WSJ, a agência Bloomberg diz que a Boeing não está buscando vender suas operações espaciais mais amplas ou se desfazer de contratos da Nasa relacionados à ISS e ao Sistema de Lançamento Espacial (SLS) o enorme foguete destinado a eventualmente levar astronautas americanos de volta à lua, afirmou a fonte.
A Boeing disse que não comenta rumores ou especulações de mercado, segundo um porta-voz por e-mail.
Durante décadas, a empresa trabalhou lado a lado em grandes programas da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço, incluindo as missões dos astronautas da Apollo e a criação da estação espacial. Nos últimos anos, a SpaceX, de Elon Musk, suplantou o papel da Boeing como principal parceira da agência.
Recentemente, a Nasa optou por fazer com que dois astronautas esperassem meses por uma carona de volta da ISS em uma nave da SpaceX, depois que surgiram problemas no primeiro voo espacial humano da Starliner.
À medida que o Starliner enfrentava múltiplos atrasos, a cápsula rival Crew Dragon da SpaceX fez 43 visitas à ISS desde 2019, transportando tanto tripulação quanto carga para a Nasa.
A revisão do Starliner ocorre no momento em que Ortberg trabalha para encerrar uma greve trabalhista de seis semanas que paralisou a produção dos principais aviões a jato, incluindo o 737 Max, que gera muito dinheiro.
Recursos
A paralisação dos trabalhos está minando as finanças da empresa, com suas classificações de crédito à beira da inutilidade e o agravamento da queima de caixa que, segundo a empresa, se estenderá até 2025.
Ortberg, que assumiu o cargo de CEO da Boeing em agosto, disse que está avaliando a venda de ativos e procurando se desfazer de programas problemáticos. Além dos principais negócios comerciais e de defesa, disse ele, quase tudo está em discussão.
“É melhor fazer menos e fazer melhor do que fazer mais e não fazer bem”, disse Ortberg em uma ligação telefônica esta semana com analistas. “Como queremos que esta empresa seja daqui a cinco ou dez anos? E essas coisas agregam valor à empresa ou nos distraem?”
Espera-se que a Boeing mantenha sua posição de supervisão do Sistema de Lançamento Espacial (SLS), disseram algumas das pessoas. O SLS é um enorme foguete que a Nasa está pagando à empresa para construir para iniciar futuras missões de exploração lunar.
O foguete completou com sucesso seu primeiro voo para a Nasa há cerca de dois anos, embora a Boeing tenha enfrentado desafios de produção e problemas de controle de qualidade com o sistema.
Tecnologia
Na última década, a Boeing ficou muito atrás dos grandes avanços tecnológicos feitos pela SpaceX e outras empresas do "novo espaço", que têm promovido a tecnologia de foguetes reutilizáveis.
Ortberg demitiu o chefe da unidade de negócios de defesa e espaço da Boeing em setembro. O negócio espacial é uma pequena parte dessa unidade, que fabrica caças a jato e helicópteros para o Pentágono e teve um prejuízo de US$ 3,1 bilhões em uma receita de US$ 18,5 bilhões nos primeiros nove meses de 2024.
Antes da entrada de Ortberg, a Boeing conversou com a Blue Origin, a empresa espacial de propriedade do bilionário Jeff Bezos, sobre a possibilidade de assumir alguns dos programas da Nasa, disse o WSJ, citando as fontes.
A Blue Origin está preparando seus próprios foguetes para futuras missões comerciais e da Nasa e para competir com a SpaceX.
Tanto o programa Starliner quanto o trabalho da Boeing para a ISS enfrentam incertezas, independentemente de a empresa acabar vendendo-os. A Nasa quer tirar a estação espacial da órbita por volta de 2030.
As ações da Boeing fecharam em queda de 0,12% em Nova York, cotadas a US$ 155,01.