Caetano e Bethânia, em Pernambuco, passeiam por 50 anos da música brasileira; leia a crítica
Com a casa cheia, Caetano e Bethânia celebraram quase cinco décadas desde o primeiro encontro entre eles no palco
A primeira noite de show dos baianos Caetano Veloso e Maria Bethânia em Pernambuco, no Classic Hall, em Olinda, nesta sexta-feira (25), fez valer o clamor do público nas redes sociais para incluir o estado na turnê nacional.
O pedido foi atendido e os dois dias de apresentações logo tiveram ingressos esgotados. Com a casa cheia, Caetano e Bethânia celebraram quase cinco décadas desde o primeiro encontro entre eles no palco. “Boa noite, cidade amada!”, saudou Caetano.
Abrindo o repertório, uma música muito representativa sobre o período de chumbo da ditadura militar. “Alegria, alegria”, foi censurada pelo governo militar por conta dos versos "O sol nas bancas de revista/ Me enche de alegria e preguiça".
Explico: o dossiê do DOPS sobre Caetano descreveu o músico como “membro de um grupo orientado por Martha Alencar, dirigente da editora cultural do jornal O Sol, que vem se constituindo num dos principais meios de ação psicológica sobre o público”.
Em seguida, “Os mais doces bárbaros”, canção símbolo do grupo Doces Bárbaros, formado por Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Gal Costa, em 1976, comemorando a primeira década de suas carreiras.
“Gente é pra brilhar. Não pra morrer de fome”, os dois seguiram cantando os versos de Caetano na canção “Gente”, seguida da sutileza e cadência em arranjos delicados para a canção “Oração ao tempo” e a poesia de “A tua presença Morena”, ambas de Caetano.
Ao longo de mais de 30 músicas e duas horas de show, momentos marcantes como a religiosidade do recôncavo baiano, homenagens à Dona Canô, mãe dos artistas, em fotografias antigas de família sendo projetadas no telão. A hialorixá Mãe Menininha do Gantois também recebeu afetuoso tributo dos artistas.
O samba de roda e ijexá tiveram lugar de destaque no show, com canções como “Samba de Dois-Dois", de Paulo Cesar Pinheiro e Roque Augusto Ferreira, até uma homenagem a Gilberto Gil com “Filhos de Gandhi”, apresentando Caetano e Gil vestidos à caráter para o bloco em uma bela imagem no telão, que arrancou muitos aplausos.
Tributo a Pernambuco
Assim como têm feito nos estados por onde passou a turnê, a exemplo da versão de “Voando pro Pará”, de Joelma, a esperada homenagem a Pernambuco aconteceu durante o show, em alguns momentos, seja no arranjo de maracatu para “Tropicália”, com Pretinho da Serrinha no comando das percussões, ou nos versos "Belo é o Recife pegando fogo, na pisada do maracatu", da canção “Festa”, de Gonzaguinha, a penúltima do repertório, antes do encerramento apoteótico com a infalível “Odara".
Nesse show memorável, foi possível presenciar o poder da voz e da interpretação de Maria Bethânia que ao lado do irmão Caetano figuram como dois dos mais importantes artistas da música brasileira.
O legado deixado por eles jamais caberia em duas horas de show, mas o espetáculo montado - com direção musical feita a quatro mãos pelos braços direitos de Bethânia (o baixista Jorge Helder) e Caetano (o guitarrista Lucas Nunes, que também integra o grupo Bala Desejo - esteve à altura da grandiosidade de suas carreiras.