Evo Morales

Governo boliviano rebate Evo Morales sobre suposto atentado e acusa ex-presidente de armar "teatro"

O ex-mandatário, que saiu ileso do suposto atentado, no qual seu motorista ficou ferido, insistiu em culpar agentes do governo do presidente Luis Arce

O ex-presidente boliviano (2006-2019) Evo Morales - Aizar Raldes / AFP

O governo boliviano rebateu, nesta segunda-feira (28), Evo Morales e o acusou de armar "um teatro" com o suposto atentado a tiros realizado por policiais e militares de que o ex-presidente teria sido alvo enquanto viajava por uma estrada, bloqueada por seus apoiadores há duas semanas, no departamento de Cochabamba.

O ministro de Governo (Interior), Eduardo del Castillo, afirmou que o incidente ocorreu após o ex-presidente tentar evitar um controle antidrogas da polícia.

Morales, de 65 anos, denunciou em um vídeo no domingo que seu veículo recebeu 14 tiros.

O ex-mandatário, que saiu ileso do suposto atentado, no qual seu motorista ficou ferido, insistiu em culpar agentes do governo do presidente Luis Arce, que foi seu ministro e com quem está em conflito pela candidatura do partido governista de esquerda para 2025.

"Senhor Morales, ninguém acredita no teatro que você armou, mas você terá que responder à justiça boliviana pelo crime de tentativa de homicídio" contra um policial, disse Del Castillo ao ex-presidente.

Segundo a autoridade, a polícia fez sinal para um dos veículos da caravana de Morales reduzir a velocidade, mas o motorista ignorou a ordem. Ele também relatou que foram feitos disparos de um dos carros contra os policiais e que um agente foi atropelado.

Arce ordenou uma "investigação imediata e minuciosa" após o incidente.

Versão "falsa e mentirosa"
O incidente agravou ainda mais a tensão na Bolívia. Desde 14 de outubro, centenas de apoiadores de Morales bloqueiam as estradas de Cochabamba para exigir o fim da "perseguição judicial" contra seu líder.

Morales, o primeiro indígena a alcançar a presidência da Bolívia (2006-2019), é investigado pelo Ministério Público por suposto abuso de uma menor em 2015, quando era presidente.

Morales, que corre o risco de ser preso, rejeita a acusação como "mais uma mentira" e afirma que a justiça investigou e arquivou o caso em 2020, sem encontrar nada contra ele.

Em meio ao cruzamento de versões com o governo, o ex-presidente insistiu nesta segunda-feira que o governo de Arce quis eliminá-lo.

"O atentado foi perpetrado por um grupo de elite militar e policial", escreveu na rede social X, ao mesmo tempo que exigiu a demissão dos ministros Del Castillo e do Defesa, Edmundo Novillo.

"Se Luis Arce não deu as ordens para nos matar, ele deve destituir e processar imediatamente seus ministros", afirmou.

Morales também classificou como "falsa e mentirosa" a versão do ministro de Governo sobre o controle antidrogas que desencadeou o episódio dos disparos.

Suspense até quarta-feira-
Enquanto isso, a promotora Sandra Gutiérrez, que conduz o caso contra Morales, antecipou que na quarta-feira se pronunciará sobre a investigação por supostos crimes de estupro, tráfico e exploração de pessoas.

"Vamos dar um relatório sobre todos os avanços dentro deste caso", disse à imprensa, sem se referir a uma possível ordem de prisão contra Morales.

Seus apoiadores, por sua vez, continuam protestando nas estradas de Cochabamba, desta vez para pedir a renúncia de Arce, a quem culpam pela crise econômica resultante da escassez de dólares e combustível.

De acordo com a Administradora Boliviana de Estradas (ABC), o país registrava, nesta segunda-feira, 22 pontos de bloqueio nas principais estradas que ligam Cochabamba a La Paz, Oruro e Santa Cruz.

As perdas chegam a 1,2 bilhão de dólares (R$ 6,8 bilhões), de acordo com o ministério de Desenvolvimento Produtivo e Economia Plural.

"A renúncia do (presidente) Luis Arce pedimos. Ele tem que convocar eleições. Já basta!", afirmou à AFP José Loayza, um produtor de trigo de 40 anos, em um dos pontos de bloqueio.